PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 11.06.2001, horário: 19:00 horas:

Estava de saída da Delegacia-Geral e encontrei Walter na recepção mais parecendo desejoso por uma daquelas boas conversas, poderia ser sobre qualquer coisa, mas desde que lhe desse alguma atenção. Procurei me deter mais alguns instantes e ele deu a impressão que não estava muito satisfeito com o que andava ocorrendo no prédio. Diante desse quadro, lancei uma indagação:

- “Quer dizer que o Moacir é que está controlando todos os serviços de reformas? Desse jeito Walter você vai ficar só com a portaria”. 

Walter respondeu:

- “Tanta coisa importante para ser feita e o homem está se preocupando em comandar a equipe de colocação de cortinas do prédio, quanto crime por aí, é sonegação fiscal..., cruzes!”

Nesse momento observei que o elevador estava descendo e resolvi me antecipar em pegar o caminho da porta e ao mesmo tempo em clima de despedida:

“Tocasses no ponto Walter, olha, esse é o ponto, é bem por aí!”

Data: 12.06.2001:

Logo pela manhã me chamou a atenção algumas notas nos jornais:

“Toma lá dá cá – O PT solicitou proteção à Secretaria de Segurança para a deputada Ideli Salvatti. O presidente do partido, Milton Mendes, que considera a CPI da Sonegação com conteúdo mais grave do que a dos Precatórios, recebeu essa orientação da direção nacional e ontem procurou os secretários de Segurança e Justiça para oficializar o pedido, que foi prontamente atendido. Esse procedimento vem sendo tomado quando envolve parlamentares em investigações que atingem interesses de grupos articulados e perigosos (...)” (DC, Paulo Alceu, 12.6.2001).

“CPI debate legalidade de jogos eletrônicos – Parlamentares da CPI da Segurança Pública da Assembleia ouviram na tarde de ontem as exposições do promotor de justiça  Carlos Alberto de Araújo e do superintendente nacional de Loterias da Caixa Econômica Federal (CEF), Marco Antônio Lopes, sobre a legalidade dos jogos eletrônicos (...). O promotor de justiça Carlos Alberto de Araújo, porém, salientou  que apenas as loterias (estadual e federal), os bingos e as corridas de cavalo são permitidos por lei. – Caça-níquel é contravenção. Os Estados não têm poder para legislar sobre o assunto. É uma atribuição federal – disse o promotor, que produziu um parecer sobre o assunto a pedido da Chefia de Polícia, em dezembro de 1999. (...). O depoimento e as explanações na Assembleia sobre jogos eletrônicos ocorreram no mesmo dia em que o delegado responsável pelo Departamento de Polícia Metropolitana (DPM), Conceição Cardoso Pinheiro, divulgou a preparação de um ‘plano de ação’ para retornar as apreensões de máquinas de videoloterias. A iniciativa é consequência de decisão judicial tomada na Sexta-feira pelo 2o Grupo Criminal do Tribunal de Justiça do Estado (TJE) (...). – Vamos definir com as demais regiões policiais  uma estratégia para retomar a investigação e as apreensões, uma vez que, agora, voltamos a ter respaldo judicial – afirmou Conceição” (Zero Hora, 12.6.2001).

Lembrei do convite “chique” que tinha visto no dia anterior (Pizza na Pedra) para o “Ópera Games” na Avenida Beira-Mar (Florianópolis), especialmente, com relação ao “piano-bar”...  Fiquei imaginando  nos milhões que eram sonegados em impostos, na nossa impotência,  sem se poder fazer nada. Depois lembrei do livro de Miguel Cervantes, de “Dom Quixote”, “Sancho Pança”, “Dulcinéia”..., cujas figuras  não saiam da minha cabeça:

“Investigações – A Academia de Polícia Civil está concluindo treinamento inédito em Santa Catarina, com a participação de 80 profissionais da segurança. Todos vão atuar  nas dez delegacias de investigação criminal que funcionarão em todo o Estado com um objetivo exclusivo: combater o crime organizado. O treinamento dos policiais é coordenado pelo delegado Eduardo Hahn, que realizou durante quatro meses especialização na escola da FBI, nos Estados Unidos” (A Notícia, Moacir Periera, 17.6.2001).

“A Segurança de Joinville – A delegada regional de Polícia de Joinville, Marilisa Boehm, já tem motivos para comemorar. Vai receber a estação central de radiocomunicação para a Polícia Civil do município, antiga reivindicação da delegada. O aparelho é uma peça fundamental para o combate à criminalidade, por permitir que delegados e comissários possam entrar em contato com as delegacias estiverem distantes da base, possibilitando também a intercomunicação entre as viaturas.  Marilisa Boehm também vai receber armamento moderno para seus comandados, que terão ainda um curso de tiro a ser realizado  em Joinville para que muitos policiais possam corrigir a mira. Sobre a delegada regional, uma curiosidade. Indagada sobre por onde anda  o ‘maníaco  da bicicleta’, personagem que andou aterrorizando  Joinville meses atrás, fato que obrigou a Segurança Pública do Estado a instalar o seu comando no município por determinação do então governador em exercício Paulo Bauer (PFL), ela disse textualmente: ‘Tenho dúvidas sobre a existência desse personagem , que pode ter sido criado pela imaginação das pessoas’ (...). Acredito que uma maior integração entre as polícias Civil e Militar podem melhorar substancialmente o desempenho da segurança como um todo. Existe a tese da unificação das polícias, que passaria a ser uma só, acabando com o comando dividido” (A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira, 16.6.2001).

Data: 19.06.2001, horário: 12:00 horas:

Quando estava saindo da Delegacia-Geral dei de cara com o Delegado-Geral Lipinski saindo do seu Volks Quantum branca (viatura), ele tinha acabado de fechar a porta do carro e estava com um cigarro recém aceso preso aos lábios, segurava nas mãos alguns papéis e ao passar por ele cumprimentei-o:

“Oba!”

E, foi somente isso.

Horário: 15:00 horas:

O Delegado Braga veio até a “Assistência Jurídica” para uma daquelas suas visitas rotineiras, parecia ansioso para saber das novidades, relatou que teve uma conversa com o Delegado Mário Martins, acabamos comendo um pedaço de torta juntos que trouxeram do Setor de Recursos Humanos (alguém deveria estar de aniversário...), nisso aproveitou para fazer mais um de seus comentários:

(...)

- “O Lipinski disse que o Chefe de Polícia não é ele, disse que é o Secretário, ele colocou isso no papel, vocês não viram? Quem é que é o Chefe de Polícia, vocês sabem me dizer? Nós temos Chefe de Polícia?”.

(...)”.

Horário: 19:10 horas:

Deixei a “Assistência Jurídica” e desci às escadas até o andar térreo ir embora e não deu outra, lá estava Walter esperando a Miriam (Secretária de Lipinski) descer para fechar a porta de entrada do prédio. Lá fora uma chuva fria fazia com que eu não me arriscasse, também, meu carro estava estacionado em um lugar distante. Acabei tendo que me deter um pouco numa conversa com Walter que dava sinais de que sempre tinha uma reserva de energias para gastar comigo. E, eu também. Walter perguntou se eu havia escutado a entrevista de Lipinski à tarde na rádio “CBN”, no programa Luiz Carlos Prates. Respondi que não. Walter então fez seu comentário:

- “Como é que pode, o homem foi falar sobre as bicicletas, que tem umas trezentas bicicletas apreendidas e que é para os interessados virem buscá-las, essas bicicletas estão enferrujadas e Lipinski foi dizer que o que sobrar vai ser doado, para tirar as rodas e fazer cadeiras para pessoas deficientes, como é que pode, será que o homem não desconfia, tanta coisa importante para ser feita e ele se preocupando...”.

(...)”.

Depois de esses comentários  me fixei no mural existente naquele local, mordi meus lábios e procurei me concentrar para não falar mais nada. Em seguida desceu o Delegado Márcio Fortkamp acompanhado da Investigadora Priscila.  Márcio quando me viu parou e disse que recebeu o e-mail da Fecapoc convocando os policiais para uma Assembleia. Nisso, fiou a impressão que Walter havia entendido  tudo só pela minha expressão e logo pensei na Deputada Ideli Salvatti, no seu discurso de luta para investigar alguma coisa que envolvesse muitos tubarões, especialmente a sonegação fiscal e que por aqui ninguém via nada, pareciam estar completamente surdos e cegos... 

Data: 21.06.2001, horário: 07:40 horas:

Já estava na “Assistência Jurídica” e “Jô Guedes” me pediu uma opinião acerca de um documento que o Delegado Braga pretendia remeter para o Ministério Público. Para minha surpresa fui ler aquele despacho de Lipinski na “CI” que Braga havia remetido para ele:

“CI n. 0712/2001, data: 15.05.20001 – DE: Gerência de Fiscalização de Jogos e Diversões; PARA: Dr. João Manoel Lipinski – Delegado Geral da Polícia Civil – ASSUNTO: Informação – Senhor Delegado Geral,  Encaminho a Vossa Senhoria para conhecimento e, mais precisamente solicitando manifestação quanto às cláusulas insertas, o TERMO DE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CUNDUTAS, elaborado  pela Procuradoria da Coletividade – Defesa do meio Ambiente (28o Promotoria de Justiça da Capital). Informo que o documento deverá ser firmado pelos signatários no dia 29 de maio do corrente ano. Atenciosamente, Lauro Cesar Radtke Braga – Delegado de Polícia Especial – Responsável pela Gerência de Fiscalização de Jogos e Diversões”. No verso do documento veio o despacho: “R.H.  Dois pontos exsurgem do documento: 1 – Ajustamento de conduta implica em conduta ‘desajustada’ anterior; 2 – Quem representa a Polícia Civil, via SSP, é o SR. Secretário. Por este motivo e, considerando a inexistência de lei que regulamente a matéria, entendo que o documento deva ser firmado. 15/05/01 – João Manoel Lipinski – Delegado Geral da Polícia Civil”.