PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 21.05.2001, horário: 09:00 horas:

“Jô Guedes” retornou para a “Assistência Jurídica” e comunicou que o “doutor Lipinski” havia acabado de avisar lá no terceiro andar que os nossos móveis novos chegariam no dia seguinte.  Questionei “Jô Guedes”:

- “Mas estes nossos móveis aqui já não são novos?”

“Jô Guedes” parece que deu de ombros diante dessa minha indagação. Por volta de quinze e trinta horas recebi comunicação interna do Delegado-Geral que pedia o horário de trabalho do pessoal e fixação na porta de entrada da “Assistência Jurídica” a relação dos nomes e a jornada de trabalho diária. 

Ao que tudo indicava, Lipinski não estaria preocupado somente com o horário de trabalho, agindo assim aparentava externar poder para aqueles que estavam embaixo, como se estivesse administrando uma “Delegacia de Polícia” qualquer, mostrava vigor, força e,  também, de certa forma se autoafirmava perante os que trabalhavam, sem contar o condão de criar o pânico, obstruir quaisquer críticas, impor respeito... “Jô Guedes” do outro lado (antes de providenciar as determinações “Lipinskianas” desabafou:

- “Mas eu não quero o meu nome aí exposto na porta de entrada!”. 

Sim, a impressão era que todos nós ficaríamos expostos e o jeito era rezar para que aquele clima passasse muito breve, pois sem liberdade, estímulo, reconhecimento, auxílio, bons exemplos, respiro para se criar, inovar, criticar... não iríamos muito longe,  talvez ficássemos no mesmo lugar, pois poderíamos estar fadados à pequenez individual, institucional, a fragmentação... Conclui, argumentando que era bem provável que houvessem alguns abusos, também, do jeito que as coisas andavam, e o que doía por dentro não era só o fato de que trabalhávamos muito mais do que era exigido, mas porque atuávamos numa área que exigia estudos incessantes, conhecimento especializado, eficiência, dedicação, interesse exacerbado e, ao final, verificávamos que não havia  reconhecimento, consideração... , era como se você fosse apenas um número. Por volta de dezesseis horas comentei com “Jô Guedes” que era bem provável que esse controle devesse ser genérico. Ela imediatamente fez contado com alguém lá do quarto andar da Delegacia-Geral (era bem provável que se tratasse de sua super amiga “Rejane” que atuava diretamente com o Delegado  Maurício Eskudlark...):

- “Que vergonha essa do horário...!” (“Jô Guedes”)

E, mais ainda da parte dela:

- “Ridículo..., o que tu achas de ver o teu nome na lixeira? Que vergonha...!” 

Achei que “Jô Guedes” na verdade estava mais era fazendo um desabafo, também pudera, pois estávamos (nós, os fracos) todos sem alma, sem como lavar a alma, vivendo à míngua, apenas nos restava os desabafos e nossas indignações.

Acabei lembrando do Coronel Walmor Backes e que tinha lido uma carta  na coluna do leitor do Diário Catarinense de sábado (190.5.2001) que a gratificação que os Oficiais da PM/SC estavam percebendo pela operação veraneio não seria mais suprimida (e também já haviam recebido todos os seus salários atrasados relativos ao perído do governo Paulo Afonso), isto é, o Coronel Backes havia negociado com o Governador a permanência da vantagem que variava de oitocentos a hum mil e trezentos reais.  Nesse meio tempo, servidores do Judiciário já tiveram reposição salarial, magistrados e Promotores de Justiça conseguiram o “auxílio moradia”...

Enquanto isso, na Polícia Civil o Delegado-Geral havia declarado por meio da imprensa que não admitiria  movimentos reivindicatórios classistas de policiais civis porque melhorias salariais um haveriam de chegar tão cedo... E, o jeito era esperar o tempo revelar toda a verdade.

“Rachadel assume direção do Detran – O corregedor geral da Polícia Civil, delegado José Moacir Rachadel, foi designado ontem para assumir interinamente o cargo de diretor do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) pelo prazo de 30 dias. Ele substitui o delegado Ademir Serafim até que saia o resultado da sindicância que está apurando em que circunstâncias a sua filha, Aline Carolina Serafim, sofreu um acidente com um carro oficial. ‘A equipe da Secretaria de Segurança Pública é excelente. Serafim é da maior confiança e não podemos condená-lo ou até mesmo incriminá-lo sem uma investigação. Ele teve uma atitude digna ao pedir afastamento do cargo até que seja concluída a sindicância. Acredito no retorno dele ao cargo’, disse ontem o governador Esperidião Amin” (A Notícia, 22.5.2001).

Lembrei daquela “nota” que Lipinski fez circular com intento de abortar as aspirações por melhores salários quando da criação da “Federação dos Policiais Civis” (de quem ninguém mais falava, inclusive o pessoal da Fecapoc, depois que os Oficiais conseguiram receber os salários atrasados e manter a vantagem de operação veraneio, enquanto que os policiais civis ficaram mofando...). Na referida nota Lipinski fez questão de registrar:

“(...) Sabemos, através de vários contatos mantidos com o Senhor Governador e Secretários de Estado, das pretensões governamentais em conceder salário justo àqueles que militam na difícil área da segurança pública. O momento está próximo, mas não é agora (...). Desconhecem que a Polícia Civil passou a ser elogiada publicamente pelo governador, fato inédito, e que demonstra sua boa vontade para com a instituição. A retribuição virá, com certeza, oportunamente...”. Depois, lembrei daquela mensagem de final de ano: “(...) Sabemos das dificuldades superadas no transcorrer deste ano, difícil para todos. Contudo, podemos afirmar que o saldo foi positivo, envolvendo sacrifícios dos senhores policiais civis, falando mais alto o verdadeiro espírito da nossa instituição policial, encarnado, por exemplo, na triste perda de policiais no estrito cumprimento do dever, no qual rendemos nossas homenagens especiais, não esquecendo de rememorar atitudes isoladas de coragem e desprendimento de muitos outros (...)” (CI 4909 – Circular/DGPC – para todas DRPs, Gerências e 10DPS-Cap, datada de 20.12.2000).

E, já haviam se passado mais de cinco meses e nada, não se falava mais no assunto, só eu que via os documentos guardados e que não tão velhos assim... Vendo Lipinski falar em “instiutição”  o jeito era esperar para ver se essas promessas ainda iriam se concretizar. O problema era que a estava datada de dezembro/2000 e  o Coronel  Walmor Backes já havia conseguido acertar parcialmente a situação dos seus comandados,  quanto a nós, haveríamos que esperar e torcer para que não fosse uma questão de simples bravata.

“Gratificação da PM – Tem gente de olho nos vencimentos dos oficiais da Polícia Militar do Estado. O fornecimento de todos os documentos e atos referentes à gratificação de 2,5 soldos, que os oficiais da Polícia Militar vêm recebendo desde dezembro do ano de 2000, está sendo solicitado pelo deputado Jaime Mantelli (PDT) ao governador do Estado. O deputado pede que seja fornecida a fundamentação legal, que permitiu a concessão da referida gratificação. Hummm...” (A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira, 24.5.2001).

Data: 24.05.01, horário: 11:00 horas:

O Chefe de Gabinete/DGPC (Delegado Moacir Bernardino), sempre muito educado, veio até a “Assistência Jurídica” (Delegacia-Geral)  para informar que na parte da tarde os móveis novos estariam chegando e era para nos prepararmos.  Por volta de dezesseis horas o próprio Chefe de Gabinete, Delegado Moacir Bernardino, veio pessoalmente inspecionar a colocação dos “novos móveis”. “Jô Guedes” fez as honras do setor e Moacir Bernardino passou a observar com esmerada atenção os móveis dando a impressão que aguardava da nossa parte um comentário recheado de satisfação. Ao contrário, reclamei do acabamento dos móveis e ressaltei que minha mesa veio com uma das gavetas riscadas. Moacir Bernardino engoliu em seco e aproveitou para dizer que o Delegado-Geral Lipinski gostava de tudo limpinho, clarinho... Como “Jô Guedes” procurava ocupar todos espaços possíveis nos comentários ouvi ela dizer:

- “O computador novo veio com problemas, já veio um monte de gente aqui e ninguém resolveu, veio um e o computador explodiu...”.

Moacir Bernardino deu a impressão que mensurou aquela informação e conteve sua surpresa, passando a recomendar que só o “Nelson” mexesse na máquina. “Jô Guedes”, rápida no gatilho, de imediato interceptou:

- “O Nelson já esteve aqui!”. 

Sem saber muito o que dizer, Moacir Bernardino subiu para o quarto andar, enquanto eu escutava a conversa e limpava as mesas que vieram empoeiradas. Depois disso, parecia que em todos os lugares só se comentava a chegada dos “novos móveis”. “Jô Guedes” – assim como eu – reclamava da qualidade do novo mobiliário, até as faxineiras do prédio estavam reclamando que estavam cansadas de limpar os “móveis novos” e que sujavam muito, eram claros demais, de má qualidade... O responsável pelo transporte do material comentou:

“Vocês vão ver daqui a uns três meses como isso vai ficar!” 

Walter (o “Guarda-Chuva Velho”) também deu o ar de sua graça na “Assistência Jurídica”, estava indignado com a troca dos móveis e aproveitou para tecer seu comentário:

“É brincadeira, só quero me aposentar!”

Procurei ouvi-lo atentamente diante de sua frustração. Depois foi a vez das psicólogas fazerem algumas visitas para ver como ficaram os nossos  móveis da “Assistência Jurídica”, pois o delas viriam na semana que vem, considerando que havia uma grande propaganda sobre esse “projeto”. Esse era o clima na Delegacia-Geral!

Depois disso tudo, concluí que essas preocupações da cúpula da Polícia Civil, além de propiciarem um clima que projetava para longe outras preocupações, mantendo todos com suas mentes ocupadas, especialmente, porque infundia um ar de dinamicidade dos trabalhos, também, revelava um gosto refinado particularmente de nosso Delegado-Geral que mais parecia não só preocupado em criar boas condições de trabalho, mas com a valorização do  aspecto apresentação. Enquanto isso:

“CPI pede informações sobre nova notificação à Makenji – Perdão de R$ 29 milhões em multas à empresa em 1999 motivou abertura das investigações na AL – Um pedido de informações sobre a veracidade da informação veiculada pela imprensa de que a empresa Makenji teria sido notificada no último mês foi aprovado ontem pela Comissão Parlamentar de Inquérito da Sonegação Fiscal (CPI) da Assembleia Legislativa. Pivô  do escândalo do perdão de multas de cerca de R$ 29 milhões, protagonizado pelo Conselh Estadual de Contribuintes, que fundamentou a criação da CPI no ano passado, a Makenji teria,  segundo informações extra-oficiais, sido notificada (avisada de que está em débito com o Fisco) (...). Prorrogação – Além desta solicitação específica sobre possíveis  notificações sobre a Makenji, de propriedade do empresário Mário Kenji Iriê (que não tem ainda data marcada para depor à CPI), os deputados que integram a comissão também discutiram a necessidade de nova prorrogação dos trabalhos. ‘Há possibilidades dos esquemas estarem interligados. Aparecem muitos ‘cruzamentos’  durante os depoimentos que colhemos até agora, e vamos precisar de mais tempo’, assinalou Ideli (...)” (A Notícia, 24.5.2001).