PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 11.05.2001 – “O Crime Organizado”:

O crime organizado corria silenciosamente pelo território estadual, como sempre ocorreu. Enquanto isso o Delegado-Geral estaria preocupado com as viaturas na garagem do prédio da Delegacia-Geral. Desconhecia se Lipinski estivesse desenvolvendo algum projeto na área do crime organizado, pelo menos a “Assistência Jurídica” ainda não havia sido acionada, aliás, nem aquele projeto de “jogos e diversões” decolou ou saiu do papel:

“A Sonegação em Santa Catarina – Causa perplexidade a decisão dos integrantes da CPI da Sonegação em Santa Catarina de evitar a divulgação das empresas envolvidas com o crime de lesar os cofres públicos com o não pagamento  de impostos. O levantamento feito pela CPI da Sonegação aponta um desvio de R$ 213 milhões, que, se devidamente recolhidos, iriam servir para a construção de escolas, hospitais, asfalto, creches, pagar melhores professores e médicos que estão fazendo falta em nosso Estado. A deputada Ideli Salvatti (PT) descobriu no Vale do Itajaí uma grande armação apra burlar o erário. Há quase a certeza do envolvimento  de figuras graduadas que, se a CPI quiser, vai poder fazer o enquadramento com base até no Código Penal, Tributário e Administrativo (...)”  (A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira, 11.5.2001).

Pois é, não se saberia dizer e o que a Segurança Pública e a Polícia Civil estariam fazendo, poderia até ser que a Deic estivesse realizando investigações sigilosas, porém, o que pairava no ar era apenas silêncio.  Quanto aos jogos eletrônicos, cassinos, bingos mais parecia que era outra história. Onde andaria a Deic sob direção do Delegado Dirceu Silveira?

Data: 10.05.2001, horário 16:00 horas:

Estava na “Assistência Jurídica” e reclamava de meu estado gripal, enquanto isso “Jô Guedes” do outro lado me perguntava se não iria me importar se fechasse a janela, pois estava com o frio. Respondi que não, pior para ela (o vírus estava no ar...). Relatei os males causados pela gripe, a falta de paladar... “Jô Guedes” remendou que isso era bom e ao mesmo tempo que perguntava se eu não teria uma festa naquela noite, se não era aniversário de minha filha? Fiquei surpreso com a sua bola fora (era dia 13.05). Ela se desculpou:

“É mesmo, hoje é dia da Polícia Civil, sabia que era dia de alguma coisa”.

Realmente, ninguém parecia saber era dia da Polícia Civil. Lembrei que na minha frente a cadeira também estava vazia, alguém querida (Myrian) que também estava de aniversário não veio trabalhar, menos mal. A seguir ficamos em silêncio, com aquela música de “Simple Red” ao fundo e ficamos nas ondas de uma rádio FM para ler um ato administrativo:

“Ato n. 624, de 03.05.2001 – DESIGNAR, Octaviano  Renê Lebarbechon Neto, matricula n. 299684-7-1, lotado na SEA, Osmar José Nora, matrícula n. 1808816-8-1, lotado na PGE, Ademar Dutra, matrícula n. 200112-8-1, lotado na SEA, Luiz Anselmo da Cruz, matrícula n. 150745-1-1, lotado na SSP e Daniela Ertel, matrícula n. 304109-9-1, lotada na SED, para sob a presidência do primeiro comporem comissão com a finalidade de estudar um novo estatuto para os servidores públicos estaduais” (DOE n. 16.657, de 10.05.2001).

A esperança era que Lipinski, Rachadel e Redondo buscassem por meios políticos preencher os cargos de   direção mais importantes da Polícia Civil – que fizessem como Alberton/Chinato (MP/SSP),  Backes (PM) e  Xavier Medeiros Vieira (Poder Judiciário), isto é, que liderassem uma oposição radical com vistas a resistir a mais essa tentativa de reduzir a expressão institucional da Polícia Civil e dos Delegados de Polícia.  Lipinski parecia ter iniciado uma campanha para poupar energia elétrica no prédio da Delegacia-Geral, tudo indicava que estivesse preocupado com o “apagão”.  Recebi sua comunicação circular que “Jô Guedes” chamou a atenção que teria sido redigia e assinada pelo próprio...

Enquanto isso, os jornais davam destaque aos crimes de sonegação fiscal:

“Fiscal denuncia ‘quadrilha’ do Fisco – Servidora da Fazenda Divair Krautchychyn depôs ontem em comissão de inquérito da AL – (...) Em janeiro de 1999, a fiscal foi nomeada por Vieira para o cargo de gerente regional da Fazenda em Mafra. Lá descobriu a utilização  de notas fiscais falsas pela empresas Cereagro, para efeitos de redução de ICMS. Também constatou a falsificação de documentos pelas prefeituras de Itaiópolis, Monte Castelo, Mafra e Papanduva, que em seus relatórios mensais à Secretaria da Fazenda, superfaturavam a arrecadação de ICMS, para obter do Estado percentuais mais elevados da sua cota-parte (...).Divair faz acusações – ‘Sou uma fiscal rígida, mas justa’. ‘Mafra não é um caso isolado. A sonegação é generalizada’. ‘Eu não sou funcionária de governo nenhum; sou funcionária do Estado’. ‘Eles estão prestando um desserviço; são uma quadrilha.’, sobre o secretário da Fazenda e alguns diretores. ‘Eu mexi com os grandes grupos econômicos, que há 10 anos não pagavam impostos’, ao responder ao deputado Goetten, que concluiu que a fiscal ‘briga com tudo mundo’. ‘Quiseram me prejudicar porque eu quis cumprir a legislação e defender os interesses do Estado. (...) Para mim isso é quadrilha; é bandido que faz isso.’ ‘Não conseguiram me desequilibrar’” (DC, 16.5.20001). 

“A filha do Diretor do Detran”:

E a impressão era que a coisa havia ficado fora de controle:

“Ilegal – Dirigindo o veículo do Detran, um Santana Quantum, placas 0911, a acadêmica Aline K. Serafim sofreu acidente ontem, às 9h10, quando se dirigia de Florianópolis a Blumenau. Ela tem usado o carro oficial com frequência, segundo os funcionários. No dia 21 de abril, foram emitidas duas multas, também quando viajava ao Vale do Itajaí. Aline é filha do diretor-geral do Detran, delegado Ademir Serafim” (A Notícia, Moacir Pereira, 17.5.2001).

Depois dessa notícia, fiquei pensando nas críticas que diziam que o Delegado Wanderley Redondo tinha feito à cúpula e seus antigos aliados e dos confrontos entre facções por disputas dentro do Detran. 

Data: 17.05.2001, horário: 19:40 horas:

Estava deixando a Delegacia-Geral depois de mais um dia de trabalho e encontrei Braga na frente do prédio sozinho. Logo que me viu saindo pela garagem perguntou se eu estava indo direto para o jantar do grupo na Churrascaria Meneguini – Barreiros/SJ. Respondi que sim. Braga se juntou a mim e caminhamos juntos até a primeira esquina pois seu carro estava no estacionamento do Supermercado Angeloni (há anos que Braga conseguiu uma cortesia para estacionar naquele local, por meio do Delegado Adalto de Souza quando era DRP/Criciúma; o policial Marlon da ‘Jogos e Diversões’ também conseguiu esse mesmo privilégio no ano passado e parecia que outros poucos policiais também haviam conseguido idêntico benefício).

Durante nossa conversa Braga comentou que tinha acabado de conversar com Lipinski que havia chegado no prédio. Braga relatou que o Delegado-Geral havia lhe confidenciado que uma semana antes do acidente com a filha de Ademir Serafim havia recebido um “telefonema” anônimo denunciando que Aline Serafim se deslocava com a viatura oficial para Blumenau todos os dias e que chamou a atenção de Ademir  Serafim por meio de uma comunicação interna (segundo Braga não foi bem assim...), pedindo para que não autorizasse mais aqueles deslocamentos de sua filha  e que depois disso, passado uma semana, houve o acidente. Braga ainda comentou que Lipinski havia revelado que teve vários embates comprometedores com juízes em Blumenau. Entendi que Braga havia tocado nesse assunto em razão de um despacho de Lipinski em um documento do Ministério Público (termo de ajustamento) encaminhado ao Delegado-Geral para ser assinado e que o mesmo havia se negado a fazê-lo, escrevendo (conforme pude constatar de visu) que quem ‘representava” a Polícia Civil era o Secretário Chinato (tinha comentado com Braga que aquilo era um absurdo porque as Constituições estabeleciam que quem chefiava a Polícia Civil era um Delegado, no caso, Lipinski). E conclui:

“Ué, mais ele não é amigo deles?”

Separamo-nos para nos encontrarmos em seguida no jantar durante a Trompowiski, onde meu carro estava estacionado. No trajeto fiquei pensando em muitas coisas, não só no despacho de Lipinski, nos que foram punidos por muito menos, mas também nos veículos oficiais que também ficam estacionados na garagem da Delegacia-Geral, nos privilegiados que com ou sem motoristas tinham garantido estacionamento central e deslocamentos em direção aos quatro ventos. Lembrei também que à noite ou de manhã cedo quando chegava ou saía da Delegacia-Geral há tempos tinha constatado que a garagem simplesmente encontra-se quase que vazia, como se todos os carros estivessem fora a serviço e parecia que estavam!? Continuei minha caminhada de sempre  até chegar no meu carro, torcendo – como sempre fazia - para que ele ainda estivesse no mesmo lugar.