PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 14.11.2001, horário: 07:50 horas:

O comentarista político Vânio Bosle estava na “Bandnews” entrevistando um deputado do Rio Grande do Sul e  que andavam pelo Território Catarinense difundindo os “escândalos” envolvendo o governo “Olívio Dutra”  com o jogo do bicho. Enquanto Vânio entrava em delírio com as acusações contra o PT “Jô Guedes”  se preparava para sair. Porém, antes preparava um processo para ser remetido para o Delegado-Geral (proposta de Resolução que disciplinava o funcionamento das Delegacias de Atendimento da Mulher, Criança e Adolescente).

“Jô Guedes” se desesperou porque o processo não estava organizado, várias folhas vieram soltas e vaticinou:

- “Meu Deus, o que essa Adriana tá fazendo lá em cima que não é capaz de arrumar isso?”

Procurei fazer uma provocação:

- “Quem é a Adriana lá em cima?”

Sabia que era a esposa do Delegado Valério Brito e “Jô Guedes” parece que quis ironizar:

- “Claro que sabe quem é ela!”

Neguei, argumentando:

-“Ah, sei, é aquela que é parecida com a Priscila?”

“Jô Guedes” ficou mais indignada ainda e disse:

- “O quê? Não tem nada haver, eu nunca pensei isso!” 

Fiquei meio impressionado com a sua resposta e continuei:

- “Tudo bem, mas o que tem de mal nisso, não é?” 

“Jô Guedes” ainda inconformada, porém, refeita da minha provocação de chamar a atenção da “beleza” das duas policiais, disse:

- “Eu não tenho nada contra ela, nunca conversei com ela, nem a conheço, somos apenas colegas de serviço, eu disse: colegas!”

Contituei:

- “Ah, mas uma vez tu não dissesses aqui na ‘Assistência Jurídica’ que a Adriana gostava de ficar se olhando no espelho, não foi?” 

“Jô Guedes” ficou surpresa e pareceu desajeitada..., mas não se fez de rogada e voltou à carga:

- “Ah, não! Eu me queimando aqui novamente, meu Deus, tenho que fazer esse concurso e ir para bem longe daqui, lá para o interior, chega de me queimar!”

Continuei:

- “Foi por isso que eu estabeleci a ligação entre as duas, a Priscila gosta de se vestir bem e a Adriana gosta de ficar...”.

“Jô Guedes” imediatamente veio com tudo:

- “Ah, então notou que ela se veste bem, não é? Notou, não? Tá vendo...”.

Naquele momento eu é que fiquei sem jeito, não esperava aquela sua observação que soava um pouco...  porque Priscila realmente se vestia bem, assim como Adriana e a afirmação de “Jô Guedes” não ficou bem clara, ou estaria, só que eu não enxergava, e ela continuou seus comentários naquela manhã carreada de acidez:

- “Tá vendo, e não precisa gaguejar! 

Seu objetivo aparentemente foi neutralizar minha reação e dar uma resposta vitoriosa para sua reação, essa era “Jô Guedes” que nunca podia perder a razão, não se dava por vencida, não aceitava perder uma disputa..., especialmente quando desafiada, e foi por isso que eu me perdi um pouco naqueles meus comentários, e ela não entendeu nada, levou para a vala comum dos jogos de sedução...  Mas achei melhor deixar assim, estava de bom tamanho a nossa conversa e considerei que ela já havia se acalmado.

Depois fiquei pensando na pobre moça (Adriana), perdida em pequenas conquistas, como a vida ainda tinha muito para ensiná-la e quantos espinhos teria ainda que encontrar pelo caminho...

Bem ao lado da Escrevente Policial Adriana o Delegado-Geral Lipinski estava incursionando para um outro “projeto”, que assim como nos casos das Investigadora Priscilla e a Escrevente Adriana, era um grande devorador de fator tempo e infundia aquela pseudo sensação de “consciência tranquila” de quem estava trabalhando, produzindo..., resumindo, colocando a “Polícia Civil em Movimento”:

“Segurança recolhe arma de policiais – O delegado-geral de Polícia Civil João Manoel Lipinski está determinando que os policiais que tenham em seu nome mais de uma arma pertencente à Secretaria da Segurança Pública escolham uma delas e devolvam a outra. Ele nega, mas o documento assinado por ele informa  que a medida é necessária por causa da ‘insuficiência de armas no acervo da Secretaria de Estado da Segurança Pública’. ‘Temos ate´um certo estoque’, explicou o delegado, atribuindo a ‘fofocas’ e ‘maluquices’ a informação sobre a falta de armas. ‘O que está acontecendo é um recadastramento de armas e é um procedimento interno, não é um assunto para virar notícia de jornal’, garantiu ontem. Cada policial tem direito a uma arma”  (A Notícia, 14.11.2001).

Enquanto isso:

“Segurança – A Polícia Civil tem se ausentado das reuniões dos Conselhos Comunitários de Segurança (Conseg) de Lages não por estar enciumada ou não querer. O problema é outro, envolvendo  a briga histórica entre Polícia Civil e a Militar que tanto vem atrasando a sonhada integração entre as duas forças no Estado. O coordenador da Polícia Militar  dentro dos Conseg, major Ede Oner Paes Sá, encarregado dos convites às entidades, estaria sistematicamente excluindo os ‘colegas’ que não vestem farda”  (A Notícia, Raul Sartori, 14.11.2001). 

Horário: 10:45 horas:

A super Psicóloga Clarice Silva entrou na “Assistência Jurídica”  (nos últimos tempos estava vindo nos visitar com frequência...) naqueles momentos que ficava sozinho na parte da manhã (“Jô Guedes” estava fazendo o curso na Escola Superior do Ministério Público e Myrian encontrava-se afastada). Clarice veio me procurar e me brindar com sua simpatia e treslouquices emocionais radiantes. Primeiramente ela pegou uma bala de café no outro canto da sala, depois sentou bem na minha frente e começou a fazer um relato:

- “Eu estive agora com o doutor Lipinski, vim lá de cima, meu Deus como esse homem está acabado, precisas ver, está com ares de cansado, estressado, com olheiras profundas, coitado...”

Fiquei olhando sério para Clarice e argumentei:

“Mas também Clarice, quem procura acha, não é?”

Clarice continuou seu falatório:

- “Sim, eu disse para ele: ‘doutor Lipinski eu soube que o senhor vai trabalhar quinta, sexta e sábado... é verdade isso?  O senhor quer um conselho? Fica em casa, pega a sua mulher, os seus filhos... e vai para um hotel, vai descansar, não vale a pena, desse jeito o senhor vai morrer cedo, assim o senhor vai morrer bem mais cedo,  o senhor sabe que horas o Secretário vai trabalhar e que horas ele saí? O secretário chega por volta de meio-dia e meia doutor Lipinski e às dezenove e trinta já está indo embora, às vezes até às dezessete e trinta  e o senhor fica aí de manhã, à tarde, à noite, nos finais de semana, o senhor vai morrer cedo...!’”.

Interrompi Clarice:

- “Puxa, de tudo o que tu dissesses isto aí foi o melhor, que o Secretário cumpre o horário normal, só vai trabalhar à tarde!”

Clarice continuou:

- “Enquanto eu falava, ele ficou me olhando muito sério, não disse nada, só ficou ouvindo eu falar, olha Felipe o doutor Lipinski tem cinqüenta e um anos e ele está mal, gosto dele, eu gosto do doutor Lipinski, olha o Secretário nem aparenta a idade que tem, precisa ver o preparo físico daquele homem, ele também tem uns cinqüenta e poucos anos e aparenta ter quarenta, tu sabias disso?”

Interrompi novamente clarice:

- “É, Clarice, enquanto o Lipinski está aqui todo tempo que nem cachorro doido, eu conheço muitos promotores que estão correndo, caminhando na Beira-Mar Norte, nas praias  e depois tem outra né, com esse ritmo o Lipinski acha que como ele está se ‘f.’...”.

Carice completou:

- “Sei, nós também temos que nos ‘f.’, aí ele acha que nós não temos direito ao horário de verão, férias, licenças-prêmio..., olha Felipe tu precisas ver a mulher que o  doutor Lipinski tem, ela é linda, loira, linda, linda, inteligente, tem mestrado, é professora da Universidade...”.

Quase que em coro dissemos ao mesmo tempo:

- “vai prá casa Padilha!”.

Terminamos o bate-papo em clima de descontração, ela reclamando desses homens “workholic” que fogem das esposas para se refugiar na emoção propiciada pelo trabalho e que ela não admitia uma  coisa dessas porque teria muito amor para dar...

Depois que Clarice deixou a “Assistência Jurídica” fiquei pensando nas duplas policiais da beleza (Priscilla e Adriana) e das outras nem tanto, mas super ativas e competentes... (“Jô Guedes e Clarice Silva), e agora tinha um “quinto” elemento: a mulher de Lipinski. Talvez estivesse aí o caminho natural do Delegado-Geral, se bem que as emoções da família não eram tão viciantes se comparadas àquelas encontradas no ambiente policial, nas relações com os “comandados”, no dia-a-dia de uma Delegacia...