PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 20.09.2000:

Na parte da tarde, estava lendo o Diário Oficial (DOE n. 16.491, de 04.09.2000, págs. 4/5) e acabei me defrontando com uma série de atos administrativos praticados pelo Comandante-Geral da PM Coronel Walmor Backes (exoneração/nomeação de comandantes de Batalhões; aposentadoria/reforma/transferência para reserva de policiais militares; publicação de atos de promoção; nomeação/exoneração de titulares de cargos de provimento em comissão – Diretorias/PM e etc.).  

Depois relembrei a conversa que tive com o Delegado Braga horas antes, quando ele desabafou comigo suas suspeitas acerca de gente recebendo propina de “casas de bingo” e “jogos eletrônicos” e de suas limitações para agir, também, havia falta de interesse dos superiores em tomar qualquer providência, comentou sobre a proposta de resolução proibitiva que os Delegados-Gerais Evaldo Moreto e Lipinski não quiseram assinar, dos jantares do Delegado Renato Hendges com o ex-presidente da Codesc (Guilherme Grillo), a própria falta de confiança no pessoal que trabalhava no seu setor... Braga ainda desabafou relatando que iriam entrar seiscentas máquinas eletrônicas em Blumenau e aproveitou para revelar as “ameaças” que havia recebido logo que assumiu a responsabilidade pela Gerência de Fiscalização de Jogos e Diversões, caso quisesse mexer com as casas de bingos e jogos eletrônicos, inclusive, que o Delegado Wilmar Domingues teria  conhecimento de tudo que estava ocorrendo pelos bastidores.  Levei ao conhecimento dele o fato de que um conhecido de infância (dono de imobiliária) havia me procurado no dia anterior para obter informações acerca de um cliente de São Paulo que estaria  instalando na Capital uma Casa de Jogos de azar e que segundo ele o pessoal da Codesc estaria pedindo duzentos mil dólares ou reais para liberar a autorização para funcionamento. Coutinho queria saber se era verdade, porque o seu cliente achou que era muito dinheiro, principalmente porque lhe disseram que parte dos recursos seriam repassados para “delegados” que também teriam  participação no negócio. Braga fez referência a alguns nomes, mas como se tratavam de suspeitas suas restava a espera para ver se os nomes das autoridades seriam repassados. Confidenciei a Coutinho que Delegado Braga era pessoa séria e honesta e que  esse negócio de envolver “delegados” poderia ser um “jogo de cena” para justificar o valor da importância e achar uma forma de justificar a extorsão, de qualquer maneira solicitei a ele os nomes. Comentei com Braga que até o final daquela tarde não fizeram contato comigo e que duvidava que fariam. E por coincidência, lembrei que no dia anterior quando saí do escritório de Coutinho (Centro da Capital – Av. Osmar Cunha) tinha acabado de sair o vereador Juarez Silveira (Juju), seu amigo de infância.  Coutinho me revelou que “Juju”  era filho do pai do proprietário do Amauri Veículos (irmão bastardo de Amauri) e que ele era apaixonado e ainda é pela irmã da sua mulher (ex-proprietário da famosa Panificadora União localizada na Rua Tenente Silveira – Centro de Florianópolis). E, sobre o “dossiê  Juarez Silveira”, Coutinho conhecendo bem “Juju” disse acreditar que tudo era verdade, especialmente porque ele era um “boca-larga”. E fiquei pensando como seria que estava a investigação do Delegado Renato Hendges sobre o tal “dossiê” e, também, as investidas do Ministério Público, conforme noticiado pela imprensa. Braga havia dito horas antes que Renato Hendges antes era seu “amigão”, mas depois que assumiu a Gerência e passou a fiscalizar com rigor jogos de azar  “Renatão” não lhe telefona mais, virou a cara, não entendi bem...

Cheguei a pensar em encaminhar o tal “dossiê” para Lipinski, mas desisti já que minha função era prestar “Assistência Jurídica”, especialmente, porque nos últimos tempos já havia me exposto demais, como no caso da Informação 071/2000 e outras manifestações. A seguir fiquei pensando na nominata dos “delegados”, se é que existia, talvez “Juju” soubesse, especialmente porque andou se encontrando/jantando com o delegado Renato Hendges que também era muito bem informado.

No jantar do grupo no dia 21.09.2000, no restaurante Pegorini (Beira Mar Shopping), relatei o último encontro do Conselho Superior e a questão do repasse de verbas estar vinculado à  “integração” das duas polícias. Todos foram unânimes em reconhecer as dificuldades de Lipinski, especialmente, pela sua falta de liderança e, também, porque não se  sentia à vontade já que ainda não era final de carreira. Lembrei que Wilmar Domingues já tinha observado esse aspecto no final da manhã daquele dia. Jorge Xavier ainda quis saber quem era o triunvirato e Braga foi instigado a responder... Considerei que a forma como chegaram ao poder trazia uma série de transtornos, justamente por falta de legitimidade perante a classe, por falta de equipe e de conjunto, de conhecimento da legislação, o que resultaria no isolamento. Jorge Xavier lembrou que foi muito bem atendido por Rachadel na Corregedoria-Geral.  Braga afirmou que estava surpreso com Lipinski que estava lhe atendendo muito bem, sempre procurando conversar, só que estava muito diferente. 

Data: 25.09.2000, horário: 10:00 horas:

Encontrei o Delegado aposentado Mário Ostetto fazendo ponto na Rua Felipe Schmidt (já tinha visto algumas vezes ele por aquelas imediações...) e logo que me viu começamos uma conversa. Ostetto  argumentou que esteve pensando muito depois do nosso último jantar, e que só teria  um nome para presidir a Adpesc... Depois de algumas delongas Ostetto citou o meu nome como o seu candidato. Pedi que ele guardasse para si aquela sua preferência, mas que eu iria reavaliar a minha posição sobre o assunto. Argumentei que já tinha dado muito de mim na luta para criação e estruturação da Fecapoc, o que exigiu muito porque foi um trabalho para unir todos os policiais civis, sob a liderança de um “Delegado” e que não seria justo  sacrificar outra vez a minha saúde e minha família, já que o trabalho que fiz na Fecapoc me consumiu mais de uma década. Ostetto insistiu e eu reafirmei ainda que a luta era de todos por uma retomada de consciência e que no nosso grupo havia outros qualificados, a começar por Jorge Xavier. Ostetto fez uma “cara feia”  querendo dizer que não e insistiu no meu nome. Nos despedimos naquele clima. Depois, no meu trajeto solitário lembrei do exemplo do Ministério Público, ou seja, Alberton e a Associação sempre juntos nas causas institucionais:

“Caso de Campo Erê investigado – O governador Esperidião Amin (PPB) delegou ontem ao diretor de Polícia do Interior, Maurício Eskudlark, a missão de investigar e desvendar o mais rápido possível o assassinato do vice na coligação PPB/PDT de Campo Erê, Astor Schoening (PDT), ocorrido na tarde de quarta-feira, no interior da Fazenda Anoni, no município paranaense de Marmeleiro. Amin solicitou também que Eskudlark faça um mapeamento dos locais onde há perspectivas de violência durante o pleito eleitoral. Eskudlark acredita que os responsáveis  pelo crime deverão se apresentar nas próximas horas, uma vez que o episódio foi presenciado por mais de 40 pessoas, que apontaram dois homens conhecidos como ‘irmãos Castro’ e a mulher de um deles. Astor foi sepultado ontem no Cemitério Municipal em meio a muita comoção. Vice na chapa do candidato Normélio Daneluz (PPB), ele foi assassinado com três tiros em 15 facadas” (A Notícia, 29.9.2000).

“OAB avalia as delegacias – São José – A Comissão de Assuntos Prisionais (CAP) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SC) vai instaurar  processo interno para averiguar as denúncias de alimentação insuficiente para os 18 detentos da 2a Delegacia de Barreiros, em  São José , na Grande Florianópolis. Conforme denúncia publicada na edição de ontem do DC, os homens reclamam que há pelo menos seis meses vêm recebendo comida apenas uma vez por dia, na hora do almoço (...). Mas a 2a DP de São José nãoé um caso isolado. Pelo contrário. Na unidade de Palhoça, por exemplo, são 14 homens espremidos em uma cela planejada para não mais do que dois. Além da falta de direitos básicos, como o de tomar banho de sol, os detentos passam até 10 dias sem tomar banho. Há casos de presos já condenados na delegacia (...)” (DC, 29.9.2000).

“No ar – Seis oficiais da Polícia Militar participam, no Rio Grande do Sul, de um curso, custeado pelo Estado, de vôo em helicóptero. Formados, serão 12 pilotos em Santa Catarina. Poderiam ser 14, pois na Polícia Civil tem dois delegados com curso de aviador. Iniciativa própria, paga do próprio bolso. Estão devidamente habilitados para comandar helicópteros. Parece que a política de integração entre as duas polícias neste aspecto também não está funcionando” (DC, Paulo Alceu, 29.9.2000).

A imprensa notícia outro fato que parece vai render muito...: “Confirmada verba para segurança – Ministro da Justiça assegura convênio de R$ 45 milhões para aparelhar a polícia – O ministro da Justiça, José Gregori, confirmou que serão liberados R$ 45 milhões até o final de 2002 para investimentos em programas de segurança pública, em Santa Catarina (...). São dois programas específicos: Projeto de intensificação de Policiamento em Áreas Críticas e projeto de Reaparelhamento das Políciais Civil e Militar. Este ano serão destinados R$ 10 milhões para aquisição de sistemas de monitoramento. A Segunda etapa do convênio, prevista para o biênio 2000-2001, determina o repasse  de R$ 35 milhões. O objetivo é investir  em ações  permanentes e prolongadas, que devem resultar  na reestruturação da segurancá pública no Estado. O secretário da Segurança Pública, Antenor Chinato, explicou que os projetos devem ser desenvolvidos paralelamente para melhor eficácia das açòes planejadas. Ele disse que o primeiro programa dotará as polícias civil e Militar de tecnologia capaz de intensificar a vigilância eletrônica em áreas previamente  indentificadas, especialmente nas cidades de Florianópolis e Joinville (...). Chinato acrescentou que após a assinatura do convênio serão publicados os editais de licitação, em outubro. Finalizado o processo licitatório, a estimativa é que em janeiro de 2001 comece a distribuição dos equipamentos para todas as unidades das polícias Civil e Militar de Santa Catarina” (DC, 29.9.2000). 

Data: 04.10.2000, horário: 07:00 horas:

Estava a caminho da Delegacia-Geral e no trajeto encontrei Fátima (Secretária de Lipinski) também fazendo o mesmo trajeto. Durante nossa conversa pela Rua Vidal Ramos ela comentou:

“(...)

- “... O homem é uma máquina atrás de serviço. Ele chega um pouco depois das sete, almoça durante uns quinze e trinta minutos e só sai à noite. Olha, doutor, já trabalhei com vários chefes, mas como o doutor Lipinski ainda não vi ninguém, o homem lê os jornais e logo em seguida começa a despachar...”. 

(...)”.

Lembrei que o pessoal do “Setor de Rádio” também havia comentado que Lipinski nos finais de semana vinha para à Delegacia-Geral  e passava o dia todo trabalhando.  E torci para que seus despachos não ficassem a quatro paredes, que dissessem somente respeito a emitir atos aos seus subordinados,  que atingissem também os grandes...