PARTE CCIX -  “CORONEL WALMOR BACKS – CMT-PM-SC: A ENTREGA DO PROJETO DE UNIFICAÇÃO DAS POLÍCIAS?”

PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 29.06.99 – “O Delegado do Kadett”:  

Tinha acabado de estacionar meu veículo na rua próximo à Delegacia-Geral. Após colocar o cartão da “zona azul” aviste a alguns metros o Delegado Wilmar Domingues que havia também acabado de estacionar seu Kadett do lado do outro lado do mesmo logradouro público. Continuei caminhando porque sabia que iríamos nos encontrar mais na frente. Estranhei que ele estivesse de camisa de manga curta e eu bem agasalhado já que estava frio. Saí um pouco na frente e quase próximo à esquina com a Avenida Osmar Cunha me voltei para trás, pois sabia que ele já tinha me visto e foi isso mesmo:

• Não olha para trás não, se não vai ver o que acontece! (Wilmar)
• Ôpa, como é que é?
• É isso mesmo, não olha para trás!

Como era para achar graça da brincadeira e aquele era o jeito de Wilmar:

• E daí viu o projeto de unificação que a PM apresentou? (Wilmar)
• O quê?
• Não viu?
• Mas do que Wilmar que tu tá falando?
• Não soube? O Paulo Alceu inclusive comentou hoje no Diário Catarinense, não leu?
• Não. Está no Diário?
• Sim. Não dá para o amigo conversar com o Moreto, ele esteve com o Secretário e acabou de chegar, deve saber de alguma coisa.
• Não sei, mas vou ter que ir atrás do Diário de hoje para ver essa notícia.

(...)

E já estávamos em frente aos degraus que dava acesso à Delegacia-Geral quando ouvi o Comissário “Maneca” que ultimamente fazia ponto naquele local questionar Wilmar:

• Quer dizer doutor Wilmar que agora nós vamos ter que botar farda?

Não parei para entrar na conversa, continuei a subir a escada normalmente, mas notei que Wilmar ficou mais para trás, não muito distante a ponto de ainda me fazer volver na escada que dava acesso ao piso térreo para ouvi-lo ainda arrematar:

• Mas que pressa? O homem sempre está com pressa!

Passado alguns minutos, já na “Assistência Jurídica” Jô Guedes me informou que o Delegado Braga esteve a minha procura e pude imaginar do que se tratava. Resolvi ir até a sua sala no andar térreo, onde funcionava os serviços de Jogos e Diversões Públicas, em cujo local já encontrei Wilmar acomodado. Braga se levantou e sentou-se na poltrona, a seguir pediu que eu sentasse ao seu lado  e foi o que fiz, enquanto Wilmar ficou mais à frente:

• Quer dizer que é verdade que saiu então a matéria? (Felipe)
• Sim. O Moreto deve saber alguma coisa. (Wilmar)
• Eu ouvi hoje o Paulo Alceu ao meio-dia, mas ele não falou muito, disse que a matéria seria discutida na Comissão de Constituição e Justiça na próxima semana, eu acho que ele nem sabe muito, mas disse que o Backes já entregou o projeto para o Secretário de Segurança. (Braga)
• Bom, no ano passado nós entregamos o projeto de unificação dos comandos das polícias, com a proposta de uma nova Polícia Estadual, não sei se foi isso que eles apresentaram, foi? (Felipe)
• Mas como é que pode uma coisa dessas, nós não sabemos nada, eu já telefonei para o Mário na Adpesc e ele também não sabe de nada, estou recebendo telefonemas de várias pessoas aí. (Braga)
• Bom, eu não posso dizer nada porque não conheço a proposta apresentada pelo Backes, nem vi o jornal de hoje e também não ouvi o comentário, mas de qualquer forma isso for verdade é uma proposta deles. (Felipe)
• Está no Diário, na coluna do Paulo Alceu e também ele hoje se reportou ao assunto ao meio-dia. (Wilmar)
• Bom, hoje na reunião do Conselho ninguém falou nada, o Moreto não tocou no assunto. (Felipe)
• Mas ele foi chamado agora à tarde urgente ao Gabinete do Secretário, será que não pode ser alguma coisa relacionada a isso? (Wilmar)
• Não sei. De manhã discutiu-se no Conselho o problema dos TCs. (Felipe)
• Ah, discutiram os TCs? (Wilmar)
• É, só foi isso, estavam reclamando que a PM está fazendo os TCs. (Felipe)
• Com relação aos TCs se nós não nos cuidarmos vamos perder e isso é grave, não podemos deixar acontecer uma coisa dessas, tudo bem que nossos Delegados não queiram fazer TCs, mas a Corregedoria é quem tem que cobrar isso dos Delegados. (Braga)
• É, o problema é esse mesmo e o TC nada mais é do que um boletim de ocorrência. (Felipe)
• É só fazer um histórico. (Braga)
• Mas o problema é a quantidade e a atividade dos Delegados não é só fazer TCs! (Wilmar)
• Eu acho que não pode ficar assim, todos nós temos que nos mobilizar, todo mundo, se nós perdemos os TCs vai ser muito grave. (Braga)
• Bom, o problema é que nós estamos sempre com a faísca atrasada, estamos sempre na defensiva, sempre mergulhados com um monte de ocorrências, procedimentos, documentos para serem analisados e investigações, atendimentos..., mas agora voltando ao projeto de unificação eu estou torcendo para que o Backes tenha apresentado um projeto naqueles termos que nós apresentamos, sobre a unificação dos comandos, a criação de uma Procuradoria-Geral de Polícia, os cargos de procuradores, se for isso fechou com o nosso, aí vai ficar fácil para o Chinato e para o Amin mandarem isso para frente. (Felipe)
• Mas ninguém sabe nada, ninguém participou de nada e agora eles apresentam esse projeto, eu já tentei falar com o Heitor, mas não consegui. (Braga)
• Mas Braga, não é bem assim, nós temos dois Deputados na Assembleia, o Heitor e o João Rosa, além disso tem o Julio que é Secretário Adjunto, participou do projeto que apresentamos no ano passado, eles juntos podem fazer a diferença. (Felipe)
• Mas esse teu projeto não vingou. (Braga)
• Sim. O Amin recebeu o projeto das mãos do Julio e do Knasel, teve toda uma tramitação, ele recebeu sim. Eu até entendo o Backes porque quando entregamos a nossa proposta para ele não tiveram participação alguma na elaboração, mas era uma proposta para eles examinarem e opinarem. Eu e o Jorge propusemos que eles estudassem o material e apresentassem as sugestões deles, se são essas agora não sei, se as propostas deles estão dentro daquilo que apresentamos, buscando a união de dois irmãos para se fortalecerem e buscarem o melhor a partir de um órgão central, tudo bem, tem o nosso integral apoio! (Felipe)
• Eu também não conheço o projeto deles, mas Felipe nós não participamos de nada! (Braga)
• Bom o nosso grupo participou e eu até entendo a forma como está sendo encaminhada a matéria, porque se saísse no Diário que teria sido nós que estivéssemos dado o pontapé inicial, o que iria acontecer? Será que a PM olharia com bons olhos essa notícia? Acho que os “egos” falariam mais alto, esse seria um dos grandes desafios... (Felipe)
• O quê? Eles iriam querer a nossa cabeça, correriam para o Palácio, a essa hora estariam todos no Palácio fazendo o maior estardalhaço se esse projeto tivesse o apoio do Amin. (Braga)
• Mas o Moreto deve saber alguma coisa? (Wilmar)
• Bom eu espero que o Backes tenha trabalhado encima de nossas propostas, muito embora esse pontapé inicial dá impressão que eles é que estão iniciando esse processo de unificação. Nós sabemos que isso não é verdade e temos como resgatar isso, mas de qualquer forma é válido, tem que ser essa a estratégia, o Amin não iria começar o seu governo e do dia para a noite não iria implementar reformas dessa envergadura, não daria certo e eu acho que por é aí, tenho quase certeza que a coisa é para melhor, é para isso que eu torço e o Backes depende de outras cabeças lá dentro que não conhecem a história do nosso projeto. (Felipe)
• Um dos objetivos deles com certeza é buscar isonomia salarial com os Delegados. (Braga)
• Pode até ser, mas isso é pequeno se comparado ao que pretendemos com a mudança no modelo de polícia. Se as propostas deles batem com as nossas de criar uma magistratura policial, com certeza que vão ter o nosso apoio e tem mais, todo esse processo começou conosco e é justo que eles peguem carona porque se trata do destino de ambas instituições. (Felipe)

(...)”.

E pedi o Diário Catarinense emprestado para o Delegado Braga e fui conferir a nota de Paulo Alceu:

Paulo Alceu publicou em sua coluna aquilo que há muito tempo se esperava. Parecia que o “Plano de Unificação das Polícias” entregue para Backes no ano passado começou a mostrar seus efeitos. Poderia significar um sinal poderoso, considerando a fonte de onde emanava e que certamente contaria com o dedo de Amin.