PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 31.08.2002:

Logo pela manhã fui ler o jornal “A Notícia” e acabei curioso por  saber o que o Delegado-GeraL Lipinski iria mandar fazer... Afinal, quem iria mandar investigar rigorosamente...  Seria provável que ao Ministério Público, especialmente, os jovens ministeriáveis e o próprio Secretário Chinato deixariam mais esta passar batida:

Atolados - A coluna do jornalista Ricardo Boechat, do ‘Jornal do Brasil’, trouxe um registro, na quinta-feira, extremamente instigante: ‘Surgiram nomes de políticos, inclusive com mandato federal, na lista de clientes das casas de câmbio estouradas semana passada pela Receita, em Santa Catarina. Todos enviaram dólares ilegalmente para o exterior’. A nota, que mereceu o título ‘gente graúda’, estaria referindo-se a políticos do Vale do Itajaí” (A Notícia, Cláudio Prisco, 31.08.2002).

Data: 05.09.2002 - “Depois de 1998 mais um concurso problemático?”

“Dramas - Empregos perdidos, famílias separadas, tensão, raiva e desespero são algumas das situações vividas por vários candidatos aprovados no recente concurso da Polícia Civil. O jovem Paulo César Jönck, de Rio do Sul, aprovado para o cargo de investigador, matriculou-se em abril para cursar a Academia de Polícia Civil, trancando seu curso de ciências contábeis na Universidade do Alto Vale do Itajaí (Univali). Comprou enxoval, vendeu 50% do que tinha numa empresa de fiação e pediu a conta do trabalho. Ainda em abril o concurso foi suspenso pela Justiça que em agosto anulou o polêmico teste de aptidão física, o que provocou o descarte de Jönck, que se deu muito bem naquele teste. Sem ser avisado oficialmente pela Secretaria da Segurança Pública e à beira do desespero, o rapaz, como dezenas de outros na mesma situação, não sabe a quem apelar. Perdeu faculdade, seu negócio, a nova profissão que sonhava para seu futuro. Dos descartados, 39 já ganharam mandados de segurança, que até o julgamento do mérito lhes garante a vaga. Jönck vai tentar, hoje, através de advogado que se ofereceu para ajudá-lo, reconquistar a sua. Boa sorte” (A Notícia, Raul Sartori, 05.09.2002).

Data: 06.09.2002, horário: 10:00 horas:

Deixei a “Assistência Jurídica” com minha irmã (“Tóia”)  e acabei na frente da Procuradoria-Geral do Estado, o assunto era indigesto e particular, quando apareceu o Delegado Braga a caminho de seu tradicional café. Aproveitei para fazer a minha libertação e acompanhei Braga no seu café tradicional na casa do “Pão de Queijo”. Durante o trajeto acabamos falando sobre política e Braga fez mais um desabafo com relação ao Delegado-Geral Lipinski:

- “Eu não falo mais com ele. Outro dia eu fui até o gabinete dele para tratar de um assunto da minha gerência e ele começou a falar que o próximo Delegado-Geral vai assumir com tudo já programado. Ele ficou mostrando um documento com a relação das viaturas programadas para serem recebidas. Ele estava querendo mostrar que o novo Delegado-Geral vai receber tudo prontinho graças a ele, que nojo, nojo, nojo! Ficou falando e eu tive que ouvir, olha Felipe, que nojo, que nojo, que nojo!”  Tu precisas ver esse Paulo Koerich, nas reuniões do Conselho parece que não manda nada, trata a gente como se fosse chefe dele. Nem parece que é um diretor”. 

Argumentei que o Paulo Koerich estava procedendo assim porque era um Delegado em início de carreira, ocupando um cargo de Comando e que já estaria de bom tamanho se ele tivesse permanecido como Delegado Regional de Blumenau, o que já seria uma afronta a princípios como a hierarquia, sem contar a falta de ética em aceitar essas benesses, porém, isso foi sempre assim, eram governantes e políticos querendo fisgar Delegados incautos, inexperientes, ávidos por fazer carreira rápido, cheios de egos... para cargos comissionados. E, acabei reiterando meu comentário anterior:

- “Olha Braga, no atual momento, só tem dois Delegados Especiais que teriam capacidade para assumir a direção da Polícia Civil. É você ou o Mauro Dutra. A diferença é que você é institucional. Tu não vais aceitar qualquer coisa. Não vais entregar a instituição. Agora o Mauro, apesar de ser honesto, vai contemporizar... Ele não é de resistir.... Ele vai querer ter vida longa, ficar bem com o governo, com os políticos... e aí a instituição vai pagar novamente um preço muito alto. Esse é o grande perigo, porque tu podes radicalizar, bater de frente e vais acabar dançando, mas resistisse, lutasse...”. 

Braga intercedeu:

- “Felipe para com isso. Tu ficas te excluindo do processo. Tu és uma pessoa que tem credibilidade. Tu estais plenamente capacitado para assumir o comando da Polícia Civil e ficas nessa atitude de humildade. Eu acho que tu queres que joguem confeite em ti. É isso que tu queres é? Não é possível, olha que eu vou começar a jogar. Para com isso! Tu tens razão, o negócio do Mauro é poder. Ele tem uma obsessão pelo poder. O meu amigo Hélio estava me dizendo que existem os profanos e os irmãos. Nesse ponto é claro que se um profano estiver concorrendo a um cargo sozinho ele acaba sendo nomeado, mas se um irmão entrar na disputa eles todos se unem e o irmão acaba sendo nomeado. É claro que a maçonaria vai apoiar o Mauro. O Backes disse que colocou o Moreto no cargo de Delegado-Geral. Foi o Backes que me tirou da jogada, ele disse isso...”.

Após ter retornado à Delegacia-Geral fiquei pensando no que Braga me disse e, também, que de qualquer maneira as coisas não eram tão lineares assim..., especialmente porque o Delegado-Geral Lipinski – segundo constava – não era da maçonaria...., pelo menos era o que eu pensava, pois havia aquela história contada pelo Delegado Eduardo Sena..., E, teria que se considerar que se o Governador Amin, o  Coronel  Backes e muitos outros eram, estavam cacifados no poder e se decidissem que ele seria o Delegado-Geral... 

Horário: 16:15 horas:

Estava na “Assistência Jurídica” e fui passar os olhos no Diário Oficial, acabei me desesperando com algo que deveria impactar todos os policiais. Não era certo que um Delegado Especial viesse aceitar uma condição tão indigna destas, submeter-se a um tratamento hierárquico inferior, feria a todos nós. Mas pior ainda era  uma cúpula formado por uma “elite” que se julgava “esperta” e “visionária”  de Delegados chancelar este tipo de ato que sem dúvida era um ultraje a rigor:

“Portaria P N 0565/GAB/GEARH/SSP de 29.08.2002: O Secretário de Estado da Segurança Pública, no uso da sua competência que lhe confere o art. 6o, do Decreto n. 014, de 23 de janeiro de 1995, (...), lotado na Delegacia Geral da Polícia Civil, para responder pela Delegacia de Polícia da Comarca de Imbituba. Antenor Chinato Ribeiro – Secretário de Estado da Segurança Pública” (DOE n. 16.986, de 06.09.2002, pág. 19).

Sim , a verdade era que na casa dos outros isso era bem improvável, mas na Polícia Civil certamente que não seria considerado um ultraje, porque os próprios Delegados não faziam qualquer questão de que a lei fosse cumprida com rigor, muito pelo contrário, muitos somente conseguiam enxergar o seu umbigo... Não dava para se imaginar dentro da realidade circundante um Desembargador para responder pelo fórum da comarca de Bom Retiro? Um Procurador de Justiça ser mandado para Descanso ou um Coronel ser mandado comandar o pelotão da comarca de Lebon Régis?

Acabei relembrando a conversa que tive com Braga na parte da manhã, do que disse a respeito do que pensa o Delegado-Geral Lipinski..., do comportamento do  novato Delegado Paulo Koerich (ex-Assessor do Secretário de Segurança, ex-Delegado Regional de Polícia de Blumenau e guindado ao cargo de Diretor de Polícia do Litoral, comandando Delegados antigos, bem mais graduados... 

Depois, relembrei também os petardos que Braga lançou contra mim, sobre não aspirar o cargo de Delegado-Geral, tinha que lhe dar um desconto porque parecia não ter memória, não lembrar mais do nosso “Plano” de unificação dos comandos das Polícias... e da minha missão em encarnar a figura de “Heródoto” em “Maratona”, no “Peloponeso”..., cujos acontecimentos só vieram à tona porque alguém participante ativo estava preocupado em registrar... E, dirigi meus pensamentos para que estivesse vivo ainda quando pudesse compreender melhor os fatos e os seus protagonistas.