PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 25.11.2002, horário: 10:30 horas – “Encontro com os Delegados Bahia e Mauro Dutra”:

Estava no centro de Florianópolis e ao retornar para a Delegacia-Geral encontrei o Delegado Mauro Dutra conversando com o Delegado aposentado Luiz Bahia Bittencourt (velho conhecido de outros tempos..., cuja amizade acabou se perdendo em razão de caprichos pessoais...). Fiquei surpreso porque não reconheci Bahia e procurei passar ao largo da calçada de pedestre. Bahia estava grisalho, mais do que eu poderia supor. Fiquei contente em avistá-lo, mas me contive porque o passado ainda estava muito presente, especialmente por sua conduta pessoal e profissional durante a gestão de Jorge Xavier e depois, na condição de Consultor Jurídico da Secretário Lúcia Stefanovich. Bahia adotou uma posição fria e  distante... de nós, como se fosse um inquisidor, julgador... (lembrei do que disse o Escrivão Osnelito um certo dia: ‘ele é uma  geladeira’). Quando o Governador Kleinubing assumiu o governo (1991), Bahia se fechou no seu universo e, talvez, optou por seguir  seu caminho próximo de seu “guru”, Delegado Lourival Matos, Secretário Adjunto... Não tinha como não lembrar como isso machucou por dentro Jorge Xavier... e eu, também (que sempre o admirei),  e fui o principal por sua indicação para o cargo de Corregedor-Geral quando o Delegado Bado assumiu o comando da Polícia Civil no governo Pedro Ivo Campos, do PMDB, no ano de 1987.

Na medida em que fui me aproximando acabei por cumprimentar aos dois sem me deter. Logo que cheguei na “Assistência Jurídica”, comentei com Myrian:

- “Adivinha quem é que eu encontrei ali embaixo? O Bahia. Olha, estão aparecendo pessoas, quem diria. Estão ressuscitando gente. Acho que o pessoal está querendo alguma coisa”. 

Horário: 14:15 horas – “Delegados Elói, Ademir e Leonísio”:

À tarde, quando retornei do almoço, encontrei o Delegado Elói Gonçalves de Azevedo junto ao prédio, no primeiro degrau. Inicialmente não tinha reconhecido e foi ele quem me cumprimentou. Quando o reconheci retribui ao cumprimento.  Ao subir a escada pensei: “Mais um por aqui, meu Deus, será que vamos ter uma invasão de aposentados?”  Ao chegar no primeiro andar encontrei o Delegado Ademir Braz de Souza conversando com o Delegado Leonísio Marques e logo pensei: “Tá aí a equipe de transição”. Cumprimentei os dois. Primeiramente Ademir e depois Leonísio. Ademir Braz de Souza, ex-Investigador Policial da DRP de Brusque que no meu tempo de Presidência da ‘Fecapoc’ costumava dizer que já tinha feito vários concursos para Delegado e não conseguia ser aprovado, aliás, só teve sucesso em concurso realizado durante o governo Kleinubing. Nas assembleias que a Fecapoc realizou na DRP de Brusque Ademir Braz de Souza costumava reiterar de forma contundente que se sentia  discriminado e que a culpa era dos Delegados, pois era muito crítico e que nunca o deixariam passar num concurso. Como eu era Delegado e presidente da entidade, sabia que seu objetivo, além do desabafo era também me atingir, procurava relevar e recomendava sempre que ele continuasse estudando porque um dia conseguiria o seu objetivo, e que na condição de Delegado e crítico poderia trabalhar muito, lutar e defender seus ideais, projetos... 

“Delegado Ademir Braz de Souza: Um ato de traição, fraqueza, pequenez...?”

Pois bem, nesse encontro, logo que percebeu minha aproximação Ademir Braz de Souza me olhou sem muita emoção... Lembrei que nas últimas eleições para Deputado Estadual (PMDB), porque a pedido do Delegado Braga tinha votado nele. E, naquele instante estava o nosso candidato (Vereador em Brusque) parecendo me ignorar, nem lembrando sequer de me agradecer... (o Delegado Braga estava revoltado com Ademir pois tinha feito campanha para ele no Bairro Ribeirão da Ilha - Florianópolis, pediu votos para familiares, amigos... e quando o procurou não quis atendê-lo, simplesmente o ignorou...).  Nesse encontro com o Delegado Ademir Braz de Souza percebi que pelo seu olhar que não havia qualquer indício mínimo de satisfação por me reencontrar, muito pelo contrário, se apresentava como uma “geladeira”... Também, pude observar, a exemplo do Delegado Bahia, que Ademir estava mais gasto pelo tempo. No seu olhar estava escrito algo muito sutil que parecia sinalizar para, talvez, o “início da temporada da caça as bruxas”, além de dar a seguinte impressão: “Sai pra lá! Não te conheço! Não me peça nada! Não atrapalha, não queima o meu filme...!" E, eu só queria me aproximar para colher suas  impressões, conversar, saber o que pretendiam..., o obrigado na verdade seria a última coisa que poderia esperar, até porque ele talvez nem soubesse que havia votado nele, além do mais isso era muito pequeno... o mais importante era não deixar escapar os fatos, os detalhes, os matizes... O momento era riquíssimo, um verdadeiro laboratório para se conhecer melhor o universo policial, revelador do caráter de colegas, como agiam, pensavam...  e achei que tinha que parar para tentar ouvir alguma coisa, saber o que estava realmente acontecendo... 

Nisso, resolvi retonar da “Assistência Jurídica” e me dirigi por trás do Delegado Ademir para pegar um copo d’água no bebedouro e enquanto fazia isso fui surpreendido por ele que disse:

- “Bom, estou indo para um lugar mais fresquinho!”

Eu tinha entendido que ele estava me chamando para ir com ele até a “Assistência Jurídica” para conversarmos um pouco a sós... Seria uma oportunidade, talvez, ao final para dizer que votamos nele, meu pai, meus irmãos,  saber que no dia das eleições tive que trazer uma irmã de criação do Campeche até o Bairro Coqueiros para votar nele... (tudo isso principalmente em razão da minha amizade com o Delegado Braga...). Como estava enchendo o copo ainda, esperei para constatar sua trajetória e ele sem se despedir ou dizer qualquer outra coisa entrou na “sala de reuniões” (auditório), em cujo local havia mais pessoas do grupo reunidas. A exemplo do que sentiu o Delegado Braga também nesse momento me senti arrasado, mas com dignidade permaneci em silêncio.  Acabei lembrando de Julio Teixeira naquele seu célebre telefonema que dei da casa do Jorge Xavier após os resultados das eleições de 1998, sob o olhar atento de “Lineinha” e depois tendo que ouvir seus desaforos por ter confiado numa pessoa da sua estirpe politicamente falando... 

Depois que Ademir se retirou fiquei conversando com o Delegado Leonísio que permaneceu comigo e aproveitou para perguntar sobre o caso “Sérgio Brasiliano” (ex-DRP de São Bento do Sul no governo Pedro Ivo Campos e que havia sido demitido...). Procurei me refazer dos acontecimentos, aparentar que tudo estava normal, mantendo o nível da conversa. Dei valor ainda mais a sua pessoa porque muito embora estivesse integrando o “grupo” de transição parecia o mesmo de sempre, sem demonstrar qualquer afetação...  

Como nunca esperei nada do Delegado Ademir Braz de Souza, apenas a sua amizade, tudo aquilo só me proporcionou elementos para registrar os fatos, um momento único para conhecer bem a sua verdadeira personalidade, o seu caráter.... Era triste ver uma instituição permeada por pessoas nesse nível...

“Entre meias verdades: Inspetora Myriam poupada”:  

Retornei para a “Assistência Jurídica” e conversei com Myriam que chegou depois de mim e havia constatado meu contato com esses  dois Delegados no hall e ela comentou:

- “Eu e o meu marido também votamos no Ademir. Ele não tinha candidato mesmo!”

Engoli em seco, fiquei arrepiado, mas procurei não relatar o ocorrido anteriormente. Guardei para mim uma verdade que ainda teimava em acreditar, mesmo porque era muito cedo ainda para tirar conclusões e argumentei:

- “Que bom Myriam. É bom eu saber porque a gente não sabe o dia de amanhã, pode-se precisar do nosso candidato, não é? Eu poderei até servir como contato já que tenho conhecimento com ele.  Tu tens essa tua licença sem remuneração em andamento, quem sabe pode precisar de alguma coisa para agilizar a tramitação disso”.

Estava ainda sob impacto e preferi não magoar uma pessoa tão querida, as poucos que me restavam e que também estava prestes para nos deixar já que seu marido foi removido para Campo Grande/MT (Oficial da Força Aérea).