PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 16.09.2002, horário: 15:00 horas:

Cheguei na “Assistência Jurídica”  e uma voz feminina que vinha do interior do setor fez uma advertência:

- “Pena que o senhor não chegou cinco minutos antes. O doutor Lipinski acabou de sair daqui. Ele veio saber quantos computadores novos vamos precisar. Eu falei para ele que nós precisaríamos de mais dois computadores novos. Ele então disse que vai mandar recolher  dois computadores velhos e substituí-los por dois novos de última geração”.

Argumentei:

“’Jô’, é final de governo e parece que estão querendo mesmo é mostrar serviço. Mas que seja bem-vindo!”.

Lembrei que estaria entrando de férias na semana seguinte e só retornaria no final de novembro quando muita coisa já deveria ter acontecido. Talvez nem fizesse questão de voltar, e pensar que Lipinski andava resolvendo problemas de computadores, mais parecia um velho filme, pelo menos Moacir Bernardino ficou de fora.

Notícias sobre o último concurso da Polícia Civil:

“Depois de tanto desgastes, com mandados de segurança, liminares e recursos sendo interpostos contra o recente concurso de ingresso na Polícia Civil, eis que os aprovados foram autorizados a iniciar o curso de formação na Academia de Polícia Civil. Para espanto geral, foi nomeada como titular da cadeira de Sociologia do Crime uma auxiliar administrativa com lotação na Imprensa Oficial do Estado e atualmente prestando serviços no gabinete da Secretaria da Segurança Pública” (A Notícia, Raul Sartori, 16.9.2002).

E o jornal “A Notícia” de Joinville havia lançado um caderno especial sobre “Segurança Pública”. O jornal colocou na primeira página fotos de policiais militares em destaque e chamadas tipo: “Cidadania é prevenção contra criminalidade”.  À medida em que folheava o caderno comecei a pensar que a Polícia Civil havia sido esquecida, sim, todos os olhares eram direcionados para a PM em razão de ser ostensiva, fardada, com efetivo muitas vezes superior...  Na segunda página do caderno especial uma foto de dois Coroneis (Walmor e Walner), cujos abraços efusivos pareciam vir acompanhados pelo som do sopro das trombetas dos anjos do paraíso:

“Walner quer envolvimento comunitário – Comandante da Polícia Militar defende parceria com cidadão (...)”.

Em seguida uma chamada sobre a importância das câmeras filmadoras nos centros urbanos monitorados pela PM. Nas quarta e quinta páginas novamente fotos de policiais militares em ação.  Na sétima página uma grande obviedade: ‘Polícia Civil tem carência de pessoal’. Abaixo da matéria uma foto pequena do Delegado-Geral  Lipinski que dava a impressão pareceu assumir ares de especialista, defensor  e astro institucional, salvador da pátria..., mais parecia querer mostrar uma fórmula mágica para tirar o governo da reta. Acabei lembrando do Delegado Ademar Rezende que tempos atrás comentou comigo:

- “Eles estão se achando o máximo, que estão arrombando...”.

O curioso era a impressão que Lipinski não fazia isso por maldade, dava a impressão que acreditava piamente ser uma pessoa pura, iluminada...  e que só queria ser reconhecido e servir da melhor forma seus superiores, dentro de um  propósito sublime e que agindo assim poderia enfiar a cabeça no seu travesseiro e ter uma noite muito boa de sono..., pois tinha o seu lugar garantido no paraíso. Como o governo não realizou concurso nos últimos anos a ordem era submeter os policiais a uma tortura que não tinha similar noutras áreas do serviço público. E, o Delegado-Geral dava a impressão que entrava em transe quando via os policiais submetidos a situação de alto sacrifício:

“Remanejamento de policiais é a alternativa para atender demanda – O delegado-Geral da Polícia Civil, João Manoel Lipinski, costuma chegar cedo ao seu gabinete, por ter o hábito de madrugar e a preocupação de despachar as inúmeras pastas de inquéritos que se acumulam em sua mesa todos os dias. ‘Se não for assim, entro sábado e domingo trabalhando’, diz. A estrutura da instituição carece de um quadro de pessoal maior, por isso outra atribuição frequente é administrar o remanejamento de colaboradores, para dar conta da demanda de serviço, evitando que faltem delegados em delegacias ou falhem os serviços essenciais  de atendimento ao cidadão. O delegado atribui os problemas estruturais ao que considera um hiato entre dois momentos diferentes da história recente do País. ‘No período pós-revolução de 1964, a polícia servia aos mecanismos de Estado. Com a redemocratização, faltou a devida atenção a remodelação dos quadros da segurança, para que fosse iniciada  a implementação da nova filosofia de atuação, voltada ao atendimento da população’. Policial de carreira há 30 anos, Lipinski considera que tem havido fortes investimentos para recuperar o tempo perdido. Como exemplos cita a rede Intranet, que integra todos os distritos a partir da informatização  e completa reformulação dos sistema de rádio, prestes a atingir 100% da frota, também significativamente  renovada, junto com armamentos  e equipamentos de defesa, como coletes à prova de bala. Lipinski também observa que o treinamento  de pessoal  nos atual governo registrou 5,2 mil alunos em cursos na Academia de Polícia Civil (...). Em sua visão, na questão da estrutura policial propriamente dita, o Estado faz sua parte investindo em equipamentos e no treinamento do pessoal, e os policiais precisam dar sua parcela de contribuição ‘incutindo o sentimento de dever profissional 24 hroas por dia, 365 por ano, não apenas quando está na escala de serviço”  (A Notícia, 18.9.2002).

Depois de ler essa nata, fiquei pensando nesse sacrifício do Delegado-Geral, poderia ser um delírio que dava a impressão que pretendia dizer que valeria aquela regra: ‘eu me arrebento, mas levo vocês todos junto comigo!’ Também, poderia ser infundir moral para criticar, humilhar, menoscabar seus comandados, como no caso do Delegado Braga que disse numa das vezes chegou a “chorar” ... Outro fato seria  a questão do ‘ego’, parecia que dava visibilidade aos seus excessos, pois sabia que a jornada de trabalho poderia mostrar uma tendência à ‘martirização’, à ‘personalificação’...

Enquanto isso, o Secretário Chinato trabalhava só no período vespertino, durante as manhãs fazia exercícios, isso segundo a Psicóloga Clarisse que elogiou seus atributos físicos..., bem diferente do Delegado-Geral Lipinski). Também, outros servidores, como da Procuradoria-Geral do Estado (localizada em frente a Delegacia-Geral, cujo órgão minha irmã trabalhava),  os servidores trabalhavam em turno único (vespertino), com muita paz e tranquilidade, cujos vencimentos eram bem superiores aos dos policiais civis...

Então, a que preço tudo isso? Mas para Lipinski e Rachadel isso talvez parecesse o máximo. O que eles estariam fazendo para mudar essa realidade?  O que os policiais vão receber como compensação por esses abusos? O que Lipinski queria provar? Esse seria o caminho, ou o melhor caminho para Lipinski e seus comissionados para permanecer nos seus cargos e terem uma passagem tranquila enquanto durasse o governo? Chegaria o final do governo e seria concedido aquele reajuste salarial que havia apregoado como promessa do governador?

Acabei lembrando aquela velha máxima de Lipinski aos policiais civis no final do ano de dois mil quando ameaçavam entrar em greve por melhores salários: “... voltem a trabalhar porque cedo ou tarde as melhorias salariais chegarão...”.

Pois é, já se passaram mais de dois anos e o governo realmente concedeu grandes melhorias salariais para uns poucos e pequenas para muitos, em especial, para os policiais. Era engraçado, também, ver o estilo do Lipinski administrar, fazendo questão de dizer publicamente que chegava cedo no trabalho, saia tarde,  como se isso fosse tudo. Não seria preferível que ele trabalhasse apenas uma hora de manhã e uma hora à tarde, mas que realmente trabalhasse e conseguisse aprovar projetos de impacto para a instituição e sociedade? Nesse caso, o problema era que teria vida curta, porém, muito digna.

“Reparo – Embora não seja desculpa, o frensi da atividade jornalística  permitiu que aqui se cometesse uma injustiça contra professora  nomeada para ministrar  a cátedra de sociologia  do crime para alunos- delegados da Academia da Polícia Civil (Acadepol) em Florianópolis. Documentação da entidade prova que a docente não é  só graduada  em ciências sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), como pós-graduada em metodologia de ensino superior pela Faculdade de Filosofia,  Ciências e Letras por São Paulo. Conforme exigência do edital submeteu sua titulação ao crivo da banca examinadora, obtendo excelente classificação e também comprovou os seus mais de dez anos de magistério em várias instituições educacionais. Isso prova amor e dedicação à profissão e prova. E seria uma iniquidade que alguns resíduos de pré-conceito, inveja e corporativismo a façam afastar de sua nobre missão: ensinar” (A Notícia, Raul Sartori, 26.9.2002).