PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 12.08.2002:

Apesar do Governador Amin escolher um Coronel mais novo a verdade era que se tratava de um Coronel, assim estava respeitado o princípio da hierarquia. Certamente que a maçonaria poderia estar por trás dessas decisões,  porém, enquanto isso na Polícia Civil não era bem assim:

“Despedida - O comandante da Polícia Militar, coronel Walmor Backes, e o chefe da Casa Militar, coronel Friedrich Thielmann, têm audiência conjunta hoje com o governador Esperidião Amin. Amanhã, Backes será homenageado por colegas e amigos no Hotel Castelmar, na Capital. Deixa a PM na próxima semana” (A Notícia, Moacir Pereira, 12.8.2002).

Data: 13.08.2002:

Polícia Militar e seus contorcionismos institucionais na frenética busca de proximidade com os governantes e políticos:

Polícia Militar 1 - Embora com 31 anos de serviço, Sérgio Wallner é hoje o terceiro mais jovem coronel da Polícia Militar de Santa Catarina. Vai assumir o comando da PM aos 48 anos. O convite foi formulado ontem no início da tarde, depois de uma prolongada costura política dentro do quartel. A preferência de Esperidião Amin era pelo nome do coronel Friedrich Thiemann, com Wallner ficando na Secretaria da Casa Militar. O problema é que o remanejamento de Friedrich esbarrou em resistências incontornáveis. Polícia Militar 2 - Para não criar uma crise na Polícia Militar a menos de dois meses das eleições, o governador resolveu pinçar o nome de um coronel com livre trânsito na corporação. Sérgio Wallner já havia trabalhado com Amin no seu primeiro mandato como governador. Entre as funções exercidas, ajudante de ordens. Com a posse do PMDB em 1987, acabou transferido para o Oeste, onde permaneceu por longos anos, só retornando para Florianópolis quando promovido a tenente-coronel. Deve tomar posse, no lugar do coronel Walmor Backes, na próxima semana, depois do retorno do governador da viagem ao exterior” (A Notícia, Cláudio Prisco, 13.8.2002).

Data: 14.08.2002:

E, talvez, mesmo já em final de governo, para que o Delegado-Geral Lipinski acordasse e pudesse refletir  melhor:

“Estado reage à violência - Ao final de audiência com o atual e o novo comandante da Polícia Militar, o governador Esperidião Amin anunciou uma série de medidas para o mais rigoroso combate à criminalidade em Santa Catarina. Autorizou o coronel Walmor Backes, que se despede do cargo no dia 20 de agosto, a abrir concurso para admissão de novos 450 policiais, que passarão a atuar em janeiro de 2003. Além da nova penitenciária, atuarão nas unidades de Joinville, Blumenau, Criciúma, Lages, Chapecó e Canoinhas. No mesmo documento em que pedia aval para a nova seleção, o comandante enumerou as melhorias técnicas, humanas e operacionais que ocorreram na atual gestão. E anunciou estudos para corrigir o "desvio de função" de centenas de policiais que deveriam estar nas ruas e dedicam-se a atividades burocráticas em todos os poderes do Estado. A nomeação do coronel Sérgio Walner para assumir o comando da corporação na próxima semana representa outra sinalização forte de que o esquema de prevenção e repressão à criminalidade pode entrar em nova fase. Com ampla receptividade na oficialidade e respeitado na tropa, o novo comandante é considerado dinâmico, liberal, disciplinado e, sobretudo, voltado para o operacional. A polícia tem altos índices de resolutividade na apuração de delitos. Deverá priorizar também o trabalho preventivo, com uma ação enérgica e direta nas raízes da criminalidade. A reação chega em boa hora e atende a uma forte aspiração popular” (A Noticia, Moacir Pereira, 13.8.2002).

Data: 14.08.2002, horário: 14:00 horas:

O jornalista Luiz Carlos Prates abriu seu programa na Rádio CBN fazendo um comentário cruel contra a Justiça e a Polícia. Relatou o caso da “Rede Globo” que foi condenada em cem mil reais por exploração da imagem de um comerciante inescrupuloso  que recebeu um televisor novo com parafusos  frouxos para conserto e sem saber que a coisa foi preparada apresentou um orçamento totalmente irreal com a realidade do aparelho. Prates fez seu comentário dizendo algo assim:

- “..Eu cuspo nessa Justiça, como é que podem favorecer um comerciante desonesto, sem-vergonha...!”

A par disso, num plano diametralmente oposto, um romance policial publicado no jornal “O Estado”  espelhava uma outra visão dos jornalistas a respeito da Polícia e dos policiais..., justamente o que se procurava passar para sociedade. No plano policial o tratamento “doutor”   assumia um caráter jocoso. 

Paradoxalmente, o mesmo jornalista Luiz Carlos Prates - nas suas tardes de Rádio CBN (Florianópolis) se revelava bem mais autêntico quanto nas suas entrevistas ao vivo - com voz firme e desafiante - tratava “Delegado”  por “Delegado”, Coronel por Coronel, mas quando determinadas autoridades eram entrevistadas ai a coisa assumia uma outra face, como nos casos dos “Juízes” e “Promotores”, estes recebiam tratamento solene de “doutores”. A leitura que se poderia fazer era que enquanto “Juízes e  “Promotores” eram homens da Justiça, lidavam com livros, leis, advogados, exerciam autoridades, eram tratados como personalidades, seus gabinetes viviam recheados de pilhas de processos..., com seus prédios magnânimos, colunas jônicas, arquitetura greco-romana, trajavam-se com terno de griffe..., já os  policiais eram tratados como pessoas que transitam num outro universo bem diferente, onde policiais e marginais pareciam bem próximos e até nivelados...

Voltando ao romance:

“Problemão do delegado – O Delegado estava uma fera. Xingou todos os presidenciáveis e maldisse qualquer possibilidade do Brasil sair do buraco. – Eu quero é mais! – Dizia o Doutor Frutuoso, fazendo gestos representando palavrões impublicáveis. Em seguida, desabafava com os subalternos: - Nenhum deles quer saber do meu problema, não. Se tenho três famílias para sustentar, uma amante que é consumidora compulsiva, dois automóveis que bebem gasolina à pamparra. Vocês sabem quanto é que eu gastei de supermercado no último mês?  - Dá uma pista, doutor. Dr. Frutuoso estimou: - Pelos meus cálculos, dá uma média de oito carrinhos abarrotados de compras por família. – Incluindo bacalhal, carnes de primeira e frutas importadas e outras coisas  mais, doutor? – Com tudo o que eles têm direito. – Uns três mil... – Pois sim! Gasto mais de oito mil por mês, meus amigos. Sem contar aluguel, combustível, colégio, faculdade, curso de inglês, Espanhol, Alemão, Dinamarquês, o diabo a quatro. Ainda tem academia de ginástica, mesada, viagens ao exterior.. – Arredondando tudo, fica por baixo.  – Por baixo?  - É, bem baixinho. – Dá mais de vinte mil por mês. E a amante?! – Gasta muito, doutor? – É a pior de todas. Sabe que eu tenho três famílias, aí quer me esfolar também. Só com ela, tô gastando uns dez mil por mês. – Fora uma gravata, terno novo, essas coisas que o cargo pede, né doutor? – Vocês sabem. É uma luta! Aí os caras ficam falando que vão dar um jeito na economia, coisa e tal. Quem sabe de  economia sou eu. Sei muito bem onde os calos andam me apertando. Três famílias, a amante, o viagra... - ...O viagra?! – Cinco caixas por mês. – Cinco, doutor?! – Uma pra cada família, duas para a amante. – É uma luta, doutor. E enquanto os caras discutem, tudo sobe. Dr. Frutuoso fez uma cara desolada: - Nem tudo. – O salário estagnou há mais de cinco anos... O Delegado: - Não possa me queixar. Ganho muito bem, por dentro e por fora. – Ué! Então, qual é o problema, doutor?  O delegado coçou a cabeça: - Ando desconfiado desse viagra.” (O Estado, Cláudio Vieira, 14.8.2002).