PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 03.08.2002:

O incrível que havia pessoas da cúpula da Polícia Civil que tentavam argumentar que a falta efetivo deveria  ser resolvida por outros meios, até com a possibilidade de se atribuir a policiais militares funções investigativas. Parecia que a falta de efetivo era culpa dos anjos ou até de forças terríveis do mal. Colocavam-se como se estivessem excluídos do poder, como se fossem meros e passivos expectadores.

Enquanto isso:

“Segurança - A Polícia Militar do Estado colocará 400 novos policiais em atividade por Santa Catarina dentro de 40 dias. São todos portadores de curso de segundo grau e estão realizando rigoroso treinamento na Academia de Polícia” (A Notícia, Moacir Pereira, 3.8.2002).

Data: 05.08.2002, horário: 10:00 horas:

O Delegado Braga veio até a “Assistência Jurídica” atrás de uma legislação eleitoral que tratava sobre comícios no pleito deste ano. Argumentei para esperar um pouco que “Jô Guedes” já retornaria. Braga aproveitou para perguntar:

- “A ‘Jô’ já retornou de férias?”

Lembrei que na semana passada tinha pregado uma peça para ele dizendo que “Jô Guedes” não retornaria mais, e estava ele ali sendo surpreendido com minha resposta....  Enquanto ele aguardava pedi que descrevesse como foi a última reunião do Conselho Superior da Polícia Civil na quinta-feira. Braga resistiu um pouco para falar achando que já havia me feito um relato sobre o assunto, mas  respondi negativamente. Logo que se apercebeu que não conversou mais comigo desde aquele dia começou  a desenhar um  quadro tragicômico sobre o que ocorreu:

“(...)

- “Eu apresentei uma moção. Eles acabaram aprovando. A proposta é que o Secretário torne sem efeito aquela Resolução. Disseram que a Resolução foi editada a pedido de um Delegado de Curitibanos,  um tal de Jucelino que teria pedido ao Secretário para colocar o P2 da PM para auxiliar a Polícia Civil nas investigações.  Eu não vejo problema algum, mas colocar isso numa resolução. Não poderiam oficializar dessa maneira.  O Lipinski pediu que cada um se manifestasse sobre o documento. Mas foi só eu proferir três palavras que o Rachadel começou a implicar comigo. Eu não entendo, ele tem uma cisma comigo. É só eu começar a me manifestar no Conselho que  ele já começa a me contrariar na frente de todo mundo. Ele não faz isso com mais ninguém. Eu deixei ele falar, mas teve uma hora que eu retomei a palavra e me alterei. O Rachadel tinha dito que ninguém queria trabalhar,  que tava todo mundo enrolando, que só tem gente passando o dia lendo a resenha dos jornais. Eu me queimei. Então eu disse: ‘Os jornais na semana passada, todos os jornais, noticiaram que o Tycho Brae Fernandes assumiu o cargo de Presidente do Tribunal de Justiça. Tá  aqui ó, o doutor Mauro Dutra assumiu a Gerência  e ninguém noticiou nada, ninguém escreveu uma só linha’.  Felipe, o Mauro Dutra estava do lado dele e disse que ouviu ele dizer: ‘me cita um que trabalha, cita o nome de um que trabalha aqui?’ Eu não ouvi, mas o Mauro que estava do lado dele disse que ouviu. Eu queria ter ouvido. Sabe o que eu iria dizer para ele: ‘tá bom Rachadel. Então tá. Diga Rachadel se você nunca deixou serviço atrasado numa Delegacia? Então tá Rachadel, então me diga se você já não saiu de uma Delegacia e deixou um monte de inquéritos atrasados?’ Ninguém é perfeito Felipe. Todo mundo sabe que quando ele saiu da Primeira Delegacia da Capital ele deixou um monte de inquéritos atrasados, um monte de serviços por fazer. Agora vem ele querer dar uma de moralista e dizer que só ele que trabalha. Eu disse: ‘então tá: têm os ruins e têm os maus’. O pessoal acabou rindo,  eles imaginaram que eu estava falando do Sérgio Maus. Não era isso. O pessoal me interpretou mal. O Rachadel sempre foi contra a minha presença na ‘Jogos e Diversões’. Ele acha que tem que ter um gerente lá, não um simples responsável como eu. Ele não aceita a minha condição de responsável. Tu precisas ver. Ele me critica, a gente nem se falava mais. Ele fez uma força para me tirar de lá, queria colocar a Éster, tu não te lembras? Agora que ele passou a me cumprimentar. O Rachadel disse que o problema não é a Policia Militar. Ele acha que nós temos é que tomar cuidado com o Ministério Público. Eu acabei me queimando ainda mais quando ele disse isso”.

Interrompi Braga que estava sentado na minha diagonal, dando ênfase à sua exaltação frenética, às suas às emoções jacobinas, dignas de um bom drama “Shakespeariano”. Parecia interpretar com fidelidade a forma como reagiu às provocações do Corregedor-Geral Moacir Rachadel, mas isso tinha o lado bom, pois isso animava nosso ambiente sempre tão silencioso. Acabei louvando seu espírito, seu estado, sua face rubra, suas rugas, sua voz agressiva e aguda, carreada de estalos “chicotescos” que eram para doer na alma, além dos venenos e da sua intrepidez por meio dos olhares intercalados e de solascio. Muito embora não tivesse tanta certeza de que tudo aquilo tinha sido real, estava mais para o surreal, comentei com pitadas de “cutuque”:

- “Eu acho que essa implicância contigo é porque ele precisa mostrar a força dele. Ele precisa se autoafirmar perante seus pares, e para isso precisa eleger uma vitima. Infelizmente você é o escolhido. Ele não vai bater no Optemar porque é Diretor, ele não vai bater no Mauro Dutra porque também faz parte da cúpula, agora resta você que é só ‘responsável’ pela gerência, não tem compromissos com o governo e com eles da cúpula, como eu aqui!”

Braga continuou sua narrativa:

- “Teve uma hora que o pessoal disse que o Valquir não veio na reunião porque está com pneumonia. Aí o Optemar disse que também teve pneumonia nos últimos dias. Aí o Rachadel se virou para o Optemar e perguntou: ‘Optemar qual é o nome do teu médico?’ O Optemar respondeu para ele: ‘Prá que tu queres saber Rachadel? Tu não precisas de médico. Tu precisas é de veterinário,  Rachadel. Tu és um cavalo mesmo!’ Olha, o pessoal acabou rindo, mas o Optemar falou, falou e falou. O Wilmar não foi a reunião. Ele pediu desligamento do Conselho. A minha moção acabou sendo aprovada, mas o Rachadel disse que não iria votar porque é membro do outro Conselho”.

Depois da conversa, perguntei para Braga sobre as eleições e ele respondeu:

- “O Thomé, se a Lúcia não sair candidata, tá com o Herneu de Nadal. O Lourival, também,  se a Lúcia não conseguir sair vai apoiar o Santana, aquele do Santana Show de Prêmios. O Lauro André vai de Herculano Dutra lá de São Joaquim (irmão de Mauro Dutra). O Mauro também vai com o irmão dele. O Samuel (Comissário da Portaria da DGPC) esteve neste final de semana lá em casa tentando ver se conseguia que eu voltasse a conversar com o Heitor Sché. Tu precisas ver. Eu acho que eles estão fazendo curso de persuasão. Imagina se eu ainda vou procurar o Heitor Sché. Quase que ele conseguiu acabar com o meu sono da tarde. Ele veio com aquela conversa que o Heitor já está eleito, que o Heitor vai ser o Secretário de Segurança...”.

Antes de sair Braga me perguntou se naquele ano iria haver eleição para o Conselho Superior. Respondi que sim. Ele disse que iria dar um toque para Lipinski na reunião extraordinária daquela tarde. Braga disse ainda que na reunião extraordinária da semana passada chegou a comentar sobre um artigo na “Folha de São Paulo” que eu tinha repassado para ele sobre os conflitos entre policiais militares e civis em São Paulo. Braga ainda reiterou que definitivamente o Delegado Wilmar Domingues não falava mais com  ele, desde o episódio do Clube Doze e que, segundo ouvir comentários, estaria trabalhando num relatório e iria pedir a sua cabeça por prevaricação. Braga disse que não acreditava que Wilmar tivesse coragem de fazer isso, “nem eu”, pensei sem muita certeza.