PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 18.06.2002:

Já na “Assistência Jurídica” fiquei pensando que uma coisa que me intrigava era o “Ciasc” (Centro de Informática e Automação – SC). Por que ninguém fazia uma devassa nessa empresa? Por que a sociedade era impedida de lembrar que ela existia? Isso poderia começar pelo Ministério Público, preferentemente, junto com autoridades policiais. Era  bem provável que fariam muitas descobertas, o  que certamente poderia incomodar muita gente...

Depois fiquei pensando que se aquele reajuste de vencimentos não viesse logo, como um dia havia prognosticado  o Delegado-Geral Lipinski, a coisa parece que poderia ficar cada vez mais fora de controle. Vamos dizer que não conseguiriam suportar tanta pressão... e o pior era que essa corrupção não aparecia, fica invisível, transitava pelo subterrâneo do mundo policial.  Certamente que a Corregedoria era limitada e estava atolada de serviços, a tal ponto que os corregedores deveriam estar fugindo das denúncias como o diabo fugia da cruz, pois diziam que simplesmente “emperraram os serviços e não davam mais conta”.  Sim, haveria que se levar em conta que o Delegado Rachadel era o comando supremo e com ele vingava o discurso do projeto “TZ” correcional, para os inimigos, vulneráveis, fracos...

Enquanto isso teríamos que conviver com situações de indignidade:

“Furto - A policial civil Sueli Maria Navroski, 41 anos, foi presa em flagrante na tarde de domingo, suspeita de furtar dois pares de botas, uma calça jeans e um cinto de couro das Lojas Renner, no Shopping Mueller, no centro de Joinville. Os produtos do furto estavam acondicionados em uma bolsa. A policial é investigadora na 1ª DP, fazia compras sozinha na loja. Conforme a polícia, a investigadora colocou os dois pares de botas, o cinto e a calça jeans dentro da bolsa, mas estava sendo monitorada pelo sistema de vigilância eletrônica e foi presa em flagrante pelo segurança da loja. Sueli foi autuada em flagrante na 2ª DP pelo crime de furto. Segundo a delegada regional de polícia, Marilisa Boehm de Lima, a Justiça é quem vai decidir o paradeiro da policial. A investigadora não quis se manifestar sobre o caso”  (A Notícia, 18.6.02).

Data: 19.06.2002, horário: 14:15 horas:

Estava chegando na Delegacia-Geral e resolvi dar uma passada  no gabinete do Delegado Braga já que havia constatado pela divisória de vidro que ele se fazia presente. Logo que entrei ele já esboçou um sorriso de satisfação não só por me ver (ou ver alguém conhecido) como também porque eu estava ali para quebrar talvez um pouca da sua solidão e monotonia, e me fez a pergunta recorrente:

- “E daí, quais são as novidades?”

Controlei o meu riso, já que tinha adivinhado o que ele iria me perguntar. Respondi que não tinha nada de novo e fui apanhando na sua mesa o “clipping” da Assessoria de Imprensa da Secretaria. Enquanto fazia uma leitura dinâmica das matérias perguntei:

- “E o ‘Pedrão’ (Delegado aposentado Pedro Benedeck Bardio), heim? Ninguém viu mais o homem?”

Braga respondeu:

- “Pois é, eu sei que ele está apoiando o Mário. O Mário tem dois escudeiros. Um é o Maurício Noronha e o outro é o ‘Pedrão’”.

Respondi que sabia disso e lamentei que ninguém mais tinha  falado no nome dele.  Perguntei para Braga (mirando a portaria de entrada da Delegacia-Geral, lembrando que o Comissário Arantes começou a tirar plantão, enquanto faltam policiais nas Delegacias):

- “Esse pessoal que está sendo colocado aí na portaria está vindo de castigo?”

Braga respondeu:

- “Não. Precisa tu vê como isso aí é importante. Vai ver se tu entras na Polícia Federal? Lá se tu quiseres entrar tu vais dar de cara com um monte de agentes na recepção e tu só vai entrar se for acompanhado. Vai na Polícia Militar e tenta entrar, falar com alguém do Comando? Lá tu só entras se for acompanhado. Eu concordo, tem que colocar esse pessoal aí. Depois esse pessoal não tem condições de estar numa Delegacia. O Tadeu, tu já visses, ele é grosso. Ele trabalhou aqui comigo e tive que mandar embora,  parece que está sempre brigando. O Samuel também não tem a mínima condição de estar numa Delegacia, ele vai tirar três meses de licença agora, por isso que o Barreto indicou o nome do Arantes”.

Interrompi para perguntar:

- “O Samuel certamente vai trabalhar nas eleições do Heitor Sché?”

Braga respondeu afirmativamente:

- “Sim, eu acho que sim. Felipe tu não sabes como nós temos gente com problema na Polícia Civil, meu Deus!”

Argumentei:

- “Tudo bem. Eu até concordo com esse pessoal na Portaria, só que poderiam terceirizar isso. O que não dá é para colocar pessoal que pertence à carreira que exige curso superior para trabalhar como porteiro, tu não achas?”

Braga interrompeu para reiterar:

- “Felipe tu não sabes como nós temos gente com problema na Polícia Civil, eu aqui tive que ameaçar de prisão um policial que trabalha comigo, ele é viciado, não tem as mínimas condições, tu precisas ver”.

Argumentei:

- “Tudo bem. Então que se aposente esse pessoal proporcionalmente, nós precisamos que os policiais de carreira de nível superior estejam é se especializando, adquirindo conhecimento técnico, científico para ajudar a melhorar a nossa imagem e não atuando como porteiros, assim não dá, isso é um absurdo!”. 

Como Braga foi atender o telefone, acabei pegando o “clipping” e me retirando.  

Enquanto isso:

“Improbidade - Com palestra do promotor da Justiça Pedro Decomain, prossegue hoje o Seminário sobre Improbidade Administrativa promovido pela Associação Catarinense do Ministério Público. O programa de amanhã prevê exposições do juiz Nílton Machado e do perito Celito Cordioli”  (A Notícia, Moacir Pereira, 20.6.2002).