PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 10.06.2002, horário: 15:40 horas:

O Diário Oficial do Estado estampava uma Portaria que revelava a importância que a Polícia Militar dava a questão da inteligência. Acabei lembrando não só do Delegado-Geral Lipinski, mas do próprio Delegado Optemar que seria o homem forte da inteligência na Polícia Civil..:

“Portaria n. 204/PMSC de 29 de maio de 2002 – Cria a Agência Central de Inteligência – Em complemento à Portaria n. 156, de 18 de abril de 2001, que instituiu o Sistema de Inteligência de Segurança Pública da Polícia Militar de Santa Catarina – SIPOM, fica criada a Agência Central de Inteligência da Polícia Militar – ACI, com sede no município de Florianópolis (...)” (DOE n. 16.922, de 10.06.2002, pág. 23).

Pensei: “Ah, se tivéssemos um órgão que centralizasse inteligência, de banco de dados, arquivo policial e etc., quanta coisa conheceríamos, preveniríamos, reprimiríamos, disponibilizaríamos...”.

Data: 11.06.2002, horário: 15:00 horas:

Braga veio até à “Assistência Jurídica” para trazer novidades:

- “Tu sabias que o Toigo está preso?”  Fiquei surpreso porque Braga ainda não tinha conhecimento dessa informação e ele  continuou:

- “O lá de Lages comentava no governo passado, isso quando o Carlos, o Carlos Dirceu e o Toigo passeavam juntos, eles andavam sempre juntos. O Carlos era Diretor de Polícia do Interior e o pessoal quando avistava eles comentava: ‘lá vem o bem e o mal’.   O pessoal tratava um e assim, como sendo um do bem e o outro do mal.  Esse Carlos Dirceu fez misérias, precisas ver o que ele andou me aprontando. Onde tem pessoal de cassino ele aparece, é incrível...”.

Depois de ouvir atentamente Braga fiz o seguinte comentário:

- “Eu conversei outro dia com uma Delegada e ela me disse que o Toigo é um baita ‘l.’ nesse negócio de desmonte de carros,  tu estais sabendo alguma coisa?” 

Braga não respondeu e em seguida chegou a Inspetora Myriam Isabel Lisboa Muller que veio tratar da sua licença prêmio.  Pedi que “Jô Guedes” passasse um fax para a Inspetora Ivanilde do Gabinete do Secretário (cópia do Decreto n. 65/1942 que criou a Delegacia Regional de Xapecó) e “Jô Guedes” atenta a tudo disse que o fax do Gabinete do Delegado-Geral estava congestionado com o decreto do Governador  dispensando o pessoal do horário da manhã da próxima quinta-feira em razão do jogo do Brasil na Copa do Mundo.  Sugeri que ela fosse até a sala do Delegado Valkir enquanto Braga que se esticava na cadeira giratória disse:

- “Xi, está todo mundo reunido na sala do Valkir. O Lipinski tá lá tratando do boletim de ocorrência virtual. Ah, eu encontrei o Optemar, falei para ele sobre boletim: ‘como é que é Optemar quer dizer que vão acabar como esse negócio do cidadão ir até a Delegacia? Como é que fica as investigações, como é que o policial vai fazer perguntas?’ Ele me disse que esse negócio do boletim de ocorrência só vai funcionar para extravio de documento, que é só para isso”.

Fiquei incrédulo e argumentei:

- “Não acredito que fizeram esse escarcéu todo na mídia só para isso? Vem coisa por aí, começam com isso e depois... É um desprestígio para a Polícia Civil, onde é que fica a relação entre policial é vítima? Aí tem coisa!”

Braga coçou a cabeça e se foi! “Devagarinho” estavam minando, penetrando, esvaziando, bem devagar, sem resistências, só que ninguém compartilha nada conosco:   

Modelito – A delegada regional de Polícia de Joinville, Marilisa Boehm estava ontem procurando definir as cores e o tipo de azulejos da futura sede da segurança pública do município. Marilisa acredita que a nova delegacia regional será inaugurada no mês de setembro”  (A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira, 13.6.2002).

Data: 14.06.2002, horário: 10:00 horas:

Fui até ao Gabinete do Delegado Lauro Braga e atrás de mim veio o Delegado Wilmar Domingues.  Acabei ficando de pé porque achei que Wilmar tinha assuntos mais importantes a tratar. Braga acabou fazendo a seguinte observação:

- “Visse a matéria que foi publicada ontem no Diário Catarinense? Um Promotor escreveu um artigo sentando o pau. Eu fui conversar com o Lipinski, comentei com ele que deveria tomar alguma providência. Também já conversei com o Mário (Adpesc) que disse que isso não poderia ficar assim, temos que dar uma resposta. O Lipinski argumentou que eles querem tudo. Eu falei para o Mário conversar com o doutor Felipe, tem que ser feito alguma coisa para rebater...”.

Nisso Wilmar Domingues fez uma incursão:

- “A semana passada saiu outra matéria, quem escreveu foi um tal de Gercino, é isso, Gercino,  não sei se vocês conhecem? Ele sentou o pau, falava de violência...”.

Braga retomou a palavra e argumentou:

“No artigo de ontem o Promotor dizia que todo o trabalho de investigação com relação aos desmanches foi obra do ‘Felipão’. Que graças ao ‘Felipão’ é que se desbaratou todas essas quadrilhas. Onde já se viu, isso não é verdade. Todo mundo sabe que tudo começou com uma Delegada. Como é mesmo o nome daquela cidade lá perto de Tubarão? Foi uma Delegada em conjunto com policiais militares que começou a investigar e o artigo diz que foi o ‘Felipão’, teu xará!”

Aproveitei para esclarecer:

- “Ela é Delegada em Capivari de Baixo. Sim, todo mundo sabe que foi ela que começou as investigações. Acho que o Mário deveria acionar a mídia, abrir um espaço para responder a matéria,  inclusive, aproveitando para enaltecer a Delegada que está no anonimato. É um momento para se prestigiar o seu trabalho,  apesar de que ela prefere não chamar a atenção, prefere ser invisível. Seria um bom momento para o comando da Polícia Civil vir a público e prestigiar o seu trabalho, se é que essa é a estratégia”.

Braga voltou à carga:

- “Eu acho que isso não pode ficar assim, falei para o Mário para conversar com o doutor Felipe, pegar o nosso pessoal que escreve bem, nós temos que responder, isso não pode ficar assim, o Secretário é do Ministério Público...”.

Acabei fazendo meu comentário final:

- “O problema é que o Secretário não vai contrariar eles e o Lipinski também não vai se contrapor ao Secretário.  Acaba administrando a Polícia Civil como se fosse um ‘velho. s.!’. Aí não dá para segurar”.

Braga com uma cara de mal-humorado respondeu:

- “Já faz oito meses que não sou convocado para uma reunião do Conselho Superior. Recebestes o convite para o encontro com Heitor Sché? Vão tratar de diversos assuntos de interesse da Segurança Pública. O ‘Sell’ não falou contigo?”.

Respondi com um sorriso épico e quase que “monalítico”:

- “Nem no inferno...!”

Braga pensou um pouco, parecia não entender a minha resposta e continuou:

- “Eu conversei com ele lá em cima e na frente do Moacir Bernardino me entregou o convite. Disse que o pessoal tem me procurado, mas que eu nunca estou. Eu perguntei para ele: ‘O senhor sabe que eu fico no horário de almoço no meu local de trabalho das doze às quatorze horas? Que eu chego às noves horas e saio às dezessete, mas fico no horário de meio-dia?’ Que indivíduo mais desagradável.  Que adianta me entregar um convite nessas circunstâncias. Fiquei mal. Onde já se viu. Que moral tem ele para falar assim comigo. Tá aposentado ocupando um cargo de direção. E ainda foi falar aquilo lá em cima na presença de diversas pessoas. Tava o Moacir, o pessoal lá de cima”. 

Acabei dando de ombros e lamentei todo aquele ‘inferno’ de Braga,  todo aquele legado que nós não merecíamos. Wilmar Domingues arrematou:

- “Se o amigo não escrever, deixa que eu escrevo uma carta. Tem aquele espaço para o leitor. Eu mando uma correspondência para lá”.

Diante daquela posição argumentei:

- “Sinceramente Wilmar, eu acho que aquele espaço é para o leitor. Quando se trata de assunto institucional a coisa tem que ser tratada institucionalmente. A Adpesc tem condições de pleitear um espaço e rebater. O ‘Felipão’ não é amigo dos policiais lá de Itajaí? Acho que ele não concorda com a forma como saiu a matéria, sabe como é a imprensa, é só conversar com ele, eu sei que ele é gente boa. Podem até pedir que entrevistem a Delegada Vera como forma de reconhecer o seu trabalho. Agora, não podemos é querer defender a instituição usando da coluna do leitor no Diário Catarinense que é destinada apenas a leitores, pessoas físicas”.

Wilmar arrematou:

- “Não tem problema. Eu escrevo como leitor mesmo. Sou leitor. Não pode é isso ficar assim!”

Acabamos partindo juntos (eu e Wilmar Domingues) enquanto Braga continuou assistindo o jogo dos Estados Unidos (1) e Polônia (3), com direito a “zebra”.  .