PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 04.06.2002:

“Ai Lipinski, ai Lipinski...!”

“Criminalidade - O secretário estadual da Segurança Pública, Antenor Chinato Ribeiro, e o comandante-geral da Polícia Militar, Walmor Backes, vão participar de debate sobre o aumento da criminalidade no Estado e a situação salarial dos policiais militares, nesta terça-feira, às 11 horas, no plenário da Assembleia Legislativa.  A convocação dos dois foi solicitada pela deputada Ideli Salvatti (PT), no início de abril. O debate terá como base o Relatório da Segurança Pública em Santa Catarina 2, elaborado pela Associação de Praças de Santa Catarina (Aprasc), em março deste ano. O documento mostra, por exemplo, que os crimes em Santa Catarina aumentaram 24% nos últimos quatro anos, enquanto em São Paulo o aumento foi de 30%. O Estado ocupa o 10º lugar em casos de estupro, com um crescimento de 18% em três anos, enquanto no Brasil este tipo de crime caiu 5%, informa a deputada”  (A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira, 4.6.2002).

“Ai Lipinski, ai Redondo, ai Rachadel, ai Júlio Teixeira, ai Mário Martins (Adpesc), ai Fecapoc, ai, ai, ai...”:

“Segurança? Em Palmitos, a delegacia de polícia está com as celas vazias, tudo isso porque não há delegado, escrivão e nem investigador. O atendimento na área é feito por um comissário de Caibi e os presos são transportados para o município de São Carlos, onde existe superlotação”  (DC, Paulo Alceu, 4.6.2002).

Sim, a impressão era que estavam nos sufocando pouca a pouco, seria uma retaliação do governo do Estado...? E, todo um  silêncio por parte da cúpula... 

Horário: 19:00 horas:

A psicóloga Kátia do Setor de Recursos Humanos da Delegacia-Geral veio até a “Assistência Jurídica”. Logo que chegou pude reparar seu novo visual, os cabelos foram pintados da cor preta o que lhe dava um aspecto sóbrio...  A mudança foi radical a ponto de não reconhecê-la tão logo enfiou a cabeça na porta. Ela tinha aquele seu jeito meio tímido que eu apreciava, que me deixava à vontade.  Na verdade Kátia veio pedir ajuda sobre o caso de um Comissário (Edson Luz) que após trinta e três anos de serviço se recusava a vir trabalhar, se recusava a trocar a roupa, se recusava a sair de casa,  se recusava a conversar com as pessoas, se recusava a existir..., não queria mais se sujeitar à Junta Médica Oficial e Kátia disse:

- “Felipe os policiais estiveram na casa dele e ele ameaçou matar a todos se alguém entrasse.  Esta nossa instituição acaba deixando todo mundo louco, imagina ele tem trinta e três anos de polícia, a mãe dele levou o pedido de aposentadoria para ele, e ele assinou. Eu já passei três torpedos (via celular) para ele, mas não houve resposta, vou tentar novamente ”.

Prognostiquei:

- “É bem provável que ele cometa uma atitude extremada, não?” 

Kátia disse que do Comissário Edson Luz havia sido cortado naquele mês (maio), que já foi dado ciência à Corregedoria-Geral da Policia Civil. Mas ela queria muito ajudar o referido policial que já foi seu paciente.  Argumentei que havia trabalhado com o Comissário Edson há muitos anos atrás, mas que o  conheçia pouco,  considerando que sempre foi muito reservado e arredio. Arrisquei um comentário:

- “Pois é Kátia, vê como a nossa instituição é tão rica,  tão cheia de energias, de emoções, de histórias... O problema é que os nossos policiais não sabem lidar com tudo isso e muitos acabam ficando...”.

Kátia pareceu ter gostado do meu comentário e acabamos falando sobre o seu novo visual, argumentando que preferia bem mais o antigo que era mais “clean”, isso no seu dizer.  No final da conversa concordamos que ela poderia ajudar o policial, fazendo um levantamento da sua situação social, familiar...  e que aquilo não seria caso de Corregedoria... 

Data: 05.06.2002, horário: 07:10 horas:

Estava chegando na Delegacia-Geral e percebi que passou por mim um Renault Scénic verde.  Fiquei com a impressão de que conhecia o motorista, parecia o Delegado Jeferson ao volante e estranhei me perguntando: “como é que poderia até o Jefferson estar de carro oficial também?”   E percebi que o veículo manobrou para entrar na garagem, aguardando a abertura do portão. Resolvi então aproveitar para me adiantar e acabei constatando que na verdade não era o Delegado Jeferson e sim se tratava do Delegado-Geral Lipinski de terno preto ao volante (viatura descaracterizada). Estranhei e me perguntei: “Ué, Lipinski ao volante? Onde estaria o motorista?” Acabei lembrando que o seu motorista, Comissário Adílio, havia sido nomeado (ou talvez promovido) para o cargo de chefe de serviços gerais ou administrador, função anteriormente exercida pelo Escrivão Osnelito (Gerente) e, posteriormente (governo Amin)  por Walter Gomes (o “Guarda-Chuva Velho”) que foi desbancado da função, mesmo não recebendo nada pelos seus serviços, além dos seus vencimentos. Acabei lembrando que no dia anterior, por volta de quatorze horas e quinze minutos, quando chegava à Delegacia-Geral encontrei Lipinski saindo do elevador no andar térreo com o Delegado Renato Ribas (Delegado Regional de Itajaí). Lipinski se aparentava um olhar meio “funesto”, “sóbrio”, “carregado”, “sofrido”...  Ao me ver não demonstrou aquela sua velha simpatia, a sua atitude de brindar a minha presença, colocar a mão no meu ombro ou dizer: “Boa tarde doutor Felipe!”  Eu gostava daquela sua atitude, mas acabei aprendendo a ser precavido em razão de tudo que via e levando em conta as advertências de colegas. Na verdade queria entender Lipinski, coisa que talvez não fosse muito difícil. Ao perceber a minha presença ele apenas se restringiu a me olhar e esboçou um cumprimento breve e discreto, quase que baixando a cabeça em sinal de que alguma coisa não estava indo muito bem.  Cumprimentei o Delegado Renato Ribas que sorria abertamente, sempre aparentando estar de bem com a vida, o que naquelas circunstâncias contrastava com a imagem de Lipinski. Renato Ribas se apresentava com uma face bem apessoada que revelava suas habilidades no plano político (Vereador e presidente da Câmara de Itajaí), de profissional e do eterno Delegado Regional de Itajaí.  Mas o sorriso de Renato Ribas tinha um quê de esquisito, indefinido..., e como ele estava à frente de Lipinski parecia querer me dizer alguma coisa com os seus gestos, talvez, consequência de algum embate anterior no gabinete...  e guardei para mim todas as impressões, opiniões...

Na sequência  me dirigi até a “Assistência Jurídica”  e comentei com “Jô Guedes” o que tinha acabado de presenciar e ela argumentou:

- “Mas por quê...?” 

Tinha dito para ela que aquele comportamento de Lipinski foi estranho e que poderia ser “reflexos”...  Lipinski estava diferente, não colocou a mão no meu ombro como costumava fazer quando me encontrava e “Jô Guedes” quis saber que “reflexos” eram aqueles a que me referi.  Eu relembrei o artigo que havia escrito dias atrás e  que foi publicado no último jornal da Adpesc. Relatei que na verdade o Delegado Mário Martins tinha me usado para fazer frente ao Delegado-Geral Lipinski, talvez num jogo político de bastidores, pela disputada de prestígio junto ao Deputado Celestino Secco... “Jô Guedes”  se calou, como se me reperguntasse: “Pra que isso, heim?” Lamentei por ele, também vítima não só de si, mas de todo sistema que corrompia nossas mentes, ideais, princípios, valores..., mas tinha que se levar em conta ter muito ambicionado o cargo de Delegado-Geral e isso tinha seu preço.