PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 21.05.2002, horário: 10:00 horas:

Havia retornado de um café  e encontrei o Delegado Waldir Batista na “Assistência Jurídica”. Logo que cheguei soube que ele estava a minha procura e foi relatando que o Delegado-Geral Lipinski o chamou e fez vários elogios ao seu trabalho e, ao final, perguntou se o mesmo não queria presidir a Comissão de Promoções encarregada do Subgrupo Técnico-Científico. Batista deixou nas entrelinhas que ficou meio desconfiado com os elogios introdutórios de Lipinski e me perguntou se era possível cumular a presidência de duas comissões de promoção. Eu disse que não havia empecilho algum, mas que tecnicamente não era recomendável. Na sequência Batista aproveitou para dizer que leu o meu artigo no jornal da Adpesc e que havia gostado muito do que eu escrevi.  Lembrou que o Delegado Optemar - que era o presidente da Comissão de Promoções dos Delegados - não tinha dado conta doo recado, tendo deixado as coisas meio que abandonadas, comprometendo o processo de promoções... Argumentei que nesse ponto Lipinski estava cheio de razão, não era mais possível se tratar o assunto daquele jeito (como as gestões anteriores haviam tratado) e que o Delegado-Geral tinha que realmente fazer alguma coisa com urgência.  Batista concordou com minhas observações... 

Horário: 10:30 horas:

Foi a vez do Delegado Braga aparecer na “Assistência Jurídica”. Estava com um jeito meio diferente, mais “soft”, mais “light”...  Parei tudo o que estava fazendo para lhe dar atenção e ele passou a relatar que pelo menos uma vez por semana visitava a Adpesc. Disse que no dia anterior esteve na Associação dos Delegados e conseguiu conversar tranquilamente com Mário Martins. Braga confirmou que o presidente da entidade era mesmo candidato à Assembleia Legislativa.  Com os meus “botões” cheguei a duvidar que fosse verdade, mas preferi guardar meu silêncio, deixando que o tempo confirmasse se essa informação era verdadeira. Também, eu poderia estar errado. A seguir, Braga confirmou que Lúcia Stefanovich também seria candidata, mas o nome que estava tendo mais circulação era do Delegado Maurício Eskudlark:

- “O Maurício está tendo apoio de muita gente, é o nome mais forte.  Lá em Camboriú ele vai ter apoio de todos os policiais.  Eu não concordo.  Ele vai ter apoio das casas de bingos, não vai faltar dinheiro...  Para mim eu  não admito que a pessoa se valha da contravenção para financiar campanha. Lá em Camboriú,  em todos os bares estão funcionando máquinas eletrônicas, imagina?” 

(...)

Depois Braga fez uma revelação surpreendente:

- “Eu não tenho mais falado com o Teixeira, mas ele é candidato. Sinceramente, eu converso com ele normalmente, mas não voto nele, comigo ele não vai contar.  Bom, tu sabes, quando o triunvirado assumiu, eles escolheram todos os cargos de direção, mas na verdade a última palavra foi do  Julio Teixeira, eu sei quando chegou no meu nome foi ele que me cortou, o pessoal do triunvirato fez a cabeça dele, é claro, mas ele podia ter impedido.  Foi aí que entrou o Moreto e tu sabes que tudo o que nós estamos vivenciando hoje é culpa do Moreto, tu que estais escrevendo a história da Polícia Civil não podes esquecer desse momento...”.

Fiquei impressionado e perguntei:

- “Mas Braga será que foi assim mesmo? Tu vê hoje o Redondo está lá no 3a DP?”  

Braga insistiu:

“Ah, sim, não tenhas dúvidas, os quatro, Lipinski, Rachadel, Celito e Redondo, eles decidiam os nomes e o Teixeira dava a última palavra”.

Fiz uma observação:

“Mas dizem que o Pacheco estava por trás de tudo, ele no final apoiou o Júlio, não foi?”

Braga concordou, mas insistiu que foi Julio Teixeira quem cortou a sua cabeça. Perguntei para Braga se não foi a maçonaria que o derrubou... Braga respondeu:

- “Eu tenho certeza que foi o Julio, não posso revelar a fonte, mas eu  conversei com um mestre da maçonaria e foi ele me revelou, não foi a igreja, como é mesmo o nome do lugar onde eles se reúnem? Não é capela...”?

(...)

- “Ah, sim, é loja, ele me disse que o pessoal quando tem que decidir entre irmãos e profanos, é bem esse o termo que eles usam, sempre ficam com o irmão, e naquele caso era entre o irmão Moreto e um profano, no caso ‘eu’...”.

Ao final, Braga fez um desabafo:

- “Na semana passada eu fui até o gabinete do Lipinski.  Fui levar a nota que saiu no jornal. Eu tinha passado para o João Carlos (Inspetor de Polícia/ Assessor de Impensa/SSP) para repassar para os jornais. Acabamos com a cobrança de pedágio por marginais lá no sul da ilha, saiu em todos os jornais e eu fui levar a nota lá para o Lipinski esperando um elogio. Ele pegou a matéria começou a ler na minha frente e ao final disse para mim: ‘o senhor colocou o nome da Polícia Civil em perigo, o senhor não poderia ter feito isso!’ Os jornais fizeram uma montagem, colocaram que há cerca de quinze dias a Polícia Civil não tem mais nenhum caso de pedágio. Olha rapaz esse Lipinski me humilhou, me deu um esporro, eu saí da sala dele e entrei no elevador com o punho fechado, chorei, fazia tempo que eu não chorava de raiva, que humilhação, eu esperava um elogio, fui mostrar o artigo feliz, pensando em encontrar apoio, reconhecimento...  Agora estou melhor, fujo do Lipinski como o diabo foge da cruz.  Eu não entendo ele, tem horas que ele abraça a gente, coloca o braço no ombro, faz aquela encenação toda”...

Acabei dando uma risada, lembrei das advertências que o Delegado  Natal havia feito tempos atrás (cuidado com o ‘p.p.!’). Acho que comecei a entender melhor Lipinski e disse para Braga:

- “Oh! Braga que é isso? Olha ‘Jô’ o doutor Braga agora foge do Lipinski como o diabo foge da cruz, pode?”.

Na verdade estava lembrando que Braga sempre procurava Lipinski para conversar, era do seu estilo circular por todos os andares em busca de novidades, gastar tempo, saber das coisas, ficar bem informado, só que isso tem o seu preço. Braga reiterava que chorou muito de raiva, pela humilhação que lhe foi imposta e que não lembrava mais a última vez que chorou daquele jeito, que aquilo tudo era culpa do triunvirato.  Braga ainda relatou que não dava para falar nada para o Wilmar Domingues, pois o homem estava sempre fuçando tudo lá no seu setor. Argumentei que Wilmar era muito ligado nas coisas de seu interesse, bastante preocupado...  Braga disse que já sabia conviver com Wilmar Domingues e fiquei observando aquele seu baixo-astral.