PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 28.11.2002:

“Beligerância - A fuga do traficante Sérgio de Sousa, domingo à noite, de uma cela da Delegacia de Investigações Criminais (Deic) está provocando tensão nas relações entre as secretarias da Segurança Pública (SSP) e da Justiça e Cidadania (SJC). No mesmo dia em que "Neném" foi preso, em 10 de outubro, através de ofício a SSP pediu a SJC que providenciasse uma vaga em qualquer unidade do sistema prisional, para recebê-lo, sob a justificativa de que a Deic não era um local adequado diante do currículo e do poderio financeiro do detido” (A Notícia, Raul Sartori, 28.11.2002).

E parece que o final da administração policial civil vai ser mesmo sob o rufar dos “barrofos”:

Piada – A fuga do traficante Neném da Costeira, que continua sendo investigada, transformou-se em chacota. Algumas delas: - Dizem por aí que a polícia já sabe quem foi a responsável pela fuga do traficante: A mão postiça do Pedrinho, que adora um neném. – Nos corredores do Palácio Santa Catarina o comentário é de que o fugitivo não poderia estar na prisão da Deic, e, sim, numa maternidade, onde é lugar de neném. – A polícia, até agora, não tem ‘pizzas’  do paradeiro do Neném” (DC, Paulo Alceu, 1.12.2002).

 E “Jô Guedes” se foi, ainda bem que no final do mês eu também - de certa forma também me fui:

“Portaria n. 0778/GEARH/DIAF/SSP de 05.11.2002 – CONCEDE EXONERAÇÃO, de acordo com o artigo 66, item I, da Lei n. 6.843/86, matr. 322.770-7, à funcionária JOCIANE GUEDES MARTINS,, ocupante do cargo de Inspetor de Polícia, nível SP-PC-TC-3C, designada para prestar serviços na Assistência Jurídica Policial, da Delegacia Geral da Polícia Civil, do Subgrupo: Técnico Científico, do Grupo: Segurança Pública – Polícia Civil, do Quadro de Pessoal Civil da Administração Direta, Secretaria de Estado da Segurança Pública, com efeitos a contar de 23 de outubro de 2002. ANTENOR CHINATO RIBEIRO – Secretário de Estado da Segurança Pública” DOE n. 17.046, de 03.12.2002, pág. 26).

Neste final de governo seria bem provável que o Delegado-Geral Lipinski achasse que tudo estava muito normal, fez uma belíssima gestão e vai entregar tudo mastigado para o seu substituto..., é possível que tenha se acostumado a conviver numa condição absoluta, sem resistência, sem oposição, sem controles..., tudo ao sabor do poder e infenso a qualquer tipo de cobranças institucionais internas e externas e, talvez, nem tenha percebido o que isso pode ter representado:

“Portaria n. 0869/GEARH/DIAF/SSP de 27.11.2002 – O SECRETÁRIO DE ESTADO DA SEGURANCA PÚBLICA, no uso de suas atribuições, resolve DESIGNAR, os servidores CARLOS ALBERTO HOCHLEITNER, matrícula n. 185.677-4, Diretor de Planejamento, RAFAEL DE MELLO, matricula n. 281.995-8, Assistente Jurídico Policial e VANDIR LUZ, matrícula n. 254.110-6, Gerente Administrativo e Financeiro, para sob a presidência do primeiro, constituírem COMISSÃO DE SINDICÂNCIA, com a finalidade de apurar, no prazo legal os fatos relativos ao desaparecimento de máquinas filmadoras no âmbito da Gerencia de Administração de Serviços Gerais, da Delegacia-Geral da Polícia Civil. ANTENOR CHINATO RIBEIRO – Secretário de Estado da Segurança Pública” (DOE n. 17.046, de 03.12.2002).

Data: 04.12.2002, horário: 08:00 horas:

A Psicóloga Kátia do Setor de Recursos Humanos (DGPC) veio até a “Assistência Jurídica” reclamar de um encaminhamento da Delegacia-Geral. Tratava-se do Inspetor Alan, responsável pela Delegacia Municipal de Anitápolis. Segundo o Delegado Rubens Leite da Delegacia de Comarca de Santo Amaro o referido policial deveria  estar com problemas de estresse.  Kátia argumentou:

- “Tu não achas que isso é um problema administrativo?  Que isso não tem nada haver com o Setor de Recursos Humanos?”

Discordei e argumentei... Kátia não deu ares de ter concordado com minha opinião. Depois de muita conversa jogada fora, algumas risadas resolvi perguntar para Kátia quais eram as perspectivas do Setor para o próximo governo. Ela respondeu:

- “Nós não esperamos muita coisa. Com o doutor Lipinski o Setor ganhou importância. O Doutor Lipinski passou a encaminhar muita gente para atendimento. Os policiais que apresentam problemas psicológicos são encaminhados para o Setor. Eu estou com um caso ali... O doutor Rachadel já tem um outro estilo. Teve um caso de um policial que apresentou problemas sérios e o doutor Rachadel mandou que o policial permanecesse na Delegacia trabalhando e fazendo cafezinho”. 

Fiquei curioso com aquela informação e resolvi perguntar:

- “Quer dizer que são dois estilos diferentes? Quando é que o Rachadel fez isso?”

Kátia continuou:

- “Foi quando ele assumiu por um mês a Delegacia-Geral.  Então tu imaginas?  Sim, o doutor Lipinski valorizou o setor, já o Rachadel...  Pois é, então tu vê que nós não esperamos muito com essa mudança, ninguém sabe quem vai assumir, qual vai ser a política”.

Depois, acabamos enveredando outros assuntos de interesse institucional. Kátia resolveu me cutucar dizendo que no íntimo eu tinha uma vontade “escondida” de ser o “Delegado-Geral”.  Procurei apresentar alguns argumentos em contrário, muito embora não desse a profundidade necessária. Portanto, não consegui convencer a perceptiva e curiosa Psicóloga do contrário. Com seu olhar atendo ela foi dizendo que eu era muito “ardiloso”, trabalhava o poder por fora, em silêncio...  Fiquei impressionado e frustrado porque essa era uma impressão dela, e poderia ser o que eu externava em razão do meu estilo discreto, silencioso, observador..., era uma imagem, uma construção, e só pude lamentar esse seu conceito distorcido...  Depois que nos despedimos tive a certeza maior de que meu caminho estava certíssimo: “aguardar ansiosamente o momento do meu fim para a instituição, aguardar meu desligamento, dizer adeus às ilusões, aos poucos amigos que ficarão para trás...  e até lá não me expor mais do que o necessário e imprescindível, não seria visto, não seria lembrado, o que certamente me traria um pouco de paz e tranquilidade, se bem que ninguém poderia brincar com o destino... Achei incrível aquele olhar persistente e perscrutante da Psicóloga Kátia querendo ver as minhas reações... e eu lhe passava uma ideia de força, de vigor, de alguém vivíssimo, articulador, estrategista, ardiloso..., quando a verdade era bem outra, me contentava em ser um simples viajante do tempo, um analista dos comportamentos das pessoas, dentro de uma instituição tão rica em histórias... Acabei me cobrando de não ter dispensado tempo para visitar o Setor de Recursos Humanos (em cujo local meu irmão trabalhou, inclusive, diretamente com Kátia, desde a época do Presídio de Florianópolis...), de brincar com as pessoas como fazia o Delegado Braga, na verdade meu tempo era tão escasso para esse tipo de entretenimento, eram tantos os afazeres, pensamentos, registros, estudos, informações...

Após a competente e empática Psicóloga Kátia Flores ter deixado a “Assistência Jurídica”  fiquei pensando nas suas impressões e como estava errada na sua leitura sobre minha pessoa (mas uma coisa era ser outra parecer, como eu estava sempre muito atento aos acontecimentos, presente, participativo, proativo..., poderia dar uma outra impressão, não a verdadeira...), mas tinha que dar um desconto para ela que não conhecia a verdadeira história, talvez se valesse apenas de seu olhar, das aparências... (suas ou através de outros...). Então, talvez, somente o tempo é que poderia lhe mostrar as diferenças entre o real e o imaginário..., do contrário ela ficará eternamente com aquela sua opinião cristalizada.