PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 25.11.2002 - horário: 15:00 horas:

O Delegado Braga veio até a “Assistência Jurídica”, em cuja ocasião já estava aguardando a sua presença. Logo que entrou comecei como uma provocação “pimentosa”:

- “O pessoal tá aí do lado. O ‘Ademirzão’ estava agora ali, sabia?” 

Braga parecia tenso e disse:

- “Eu pedi duas vezes para o meu funcionário vir aqui em cima e verificar se a porta estava aberta. Se estivesse eu não subiria de jeito nenhum. Agora que a porta esta fechada é que pude vir aqui para falar contigo”.

Achei engraçado e continuei com minhas provocações:

- “Sim, tu sabes quem é que está ali no ‘auditório’?”

Braga sem titubear foi nominando:

- “A Lúcia, o Lourival, o Trilha, o Neves, o Thomé. O Thomé é o Coordenador-Geral da Segurança Pública. Ele foi indicado como Coordenador-Geral. O Neves é o Coordenador do Grupo: Polícia Civil. Os dois são gaúchos, então já visses, eles se entendem!”

Braga não estava bem, estava mais parecendo um “pássaro ferido”. Em seguida foi fazendo relatos estapafúrdios, com frases que pareciam desconexas, seguidas de uma risada sarcástica, cujo volume era médio, porém, o suficiente para ser ouvida do outro “lado”. Voltando-se para Myriam parece que quis devolver as minhas provocações:

- “Então o doutor Felipe tirou seis meses de férias!”  

Aquele era o Braga que uma vez ferido se tornava felino, terrível..., capaz de impingir maldades aos mais próximos, cuja pretensão era também fazer sua assepsia neural, sem se preocupar com eventuais ferimentos causados e com as consequências do alcance de seus desatinos psicológicas. Entendi que o fato de ter saído de férias durante aqueles sessenta dias, justamente na época em estava se  definindo as eleições para o governo do Estado, trouxe alguns reflexos... Nesse período as articulações de bastidores pareciam intensas no âmbito da Polícia Civil, mais, ainda, considerando que as reuniões ocorriam na “sala de reuniões”, bem ao lado (auditório da Delegacia-Geral), havia também que selevar em conta que “Jô Guedes” havia partido. Certamente que esse somatório soava com um quê de solidão, portanto, no seu âmago corria um rio de lágrimas causadas pela sensação de abandonado, o que naquelas circunstâncias poderia ser interpretado como uma atitude imperdoável, ficando sem ter com quem desabafar, visitar, conversar... Sim, dava para sentir que perdeu um pouco do seu chão, do seu “porto seguro”, talvez, não tivesse entendido que se encerrou uma “era”, que nunca mais outra vez...

Na verdade tirei sessenta e seis dias de férias de um total de cerca de quase dez meses em haver, resultado de anos trabalhando direto, o que acabou causando acúmulos, tudo devidamente registrado em meus assentamentos individuais.

Acabei relembrando o fato de que no ano de 1995, quando ele assumiu o cargo de Diretor de Polícia do Litoral na administração do PMDB (Secretária Lúcia Stefanovich e Delegado-Geral Evaldo Moreto) foi ele que me negou o gozo de férias vencidas, quando eu justamente mais precisava, isso depois de oito anos diretos “pauleira”, auxiliando os Delegados-Gerais Bado, Bahia, Lúcia, Jorge Xavier, Oscar Peixoto e Ademar Rezende.

Eu e Braga já tínhamos uma passagem marcante no ano de 1987, quando viajamos pelo interior do Estado (juntamente com o Comissário Acy Evaldo Coelho) para realizar assembleias regionais, dentro de um cronograma representando a “Associação Catarinense dos Policiais Civis”. Nessa época eu era o Presidente da entidade e Braga o vice. Durante a assembleia regional em Canoinhas, quando estava palestrando para os policiais civis observei que Braga e Acy haviam sumido. Tínhamos acertado previamente que eu seria o primeiro a fazer o uso da palavra nas assembleias, entretanto, acabei estourando um pouco o meu tempo. Logo que conclui os assuntos havia chegado a vez a vez de Braga falar, como não o achei, tive que concluir toda pauta sozinho, ocupando o espaço que era destinado para aos meus dois interlocutores (Braga e Acy). Depois que encerrei o evento me dirigi até a frente da Delegacia Regional e consegui localizar os dois colegas me aguardando. Logo que me aproximei fiquei impactado porque encontrei Braga chorando compulsivamente, enquanto Acy me culpava afirmando algo mais ou menos assim:

- “Olha o que tu fizesses, olha! Só você quer falar nas assembleias, você não deixa os outros falarem, que falta de respeito! Tá aqui o Braga desse jeito agora, tu ocupasse o teu tempo e mais uma vez, entrasse no tempo dele. Agora ele tá aqui nervoso, chorando. Tive que levar ele lá na Rodoviária para comprar passagem, ele vai voltar de ônibus para a Capital agora à noite. Ele não quer saber de mais nada, agora tu vais ter que te virar sozinho, já que só tu queres falar para o pessoal...”.

Braga, ainda aos prantos, ratificou as palavras de Acy dizendo que não aguentava mais, que queria ir embora, já tinha comprado passagem para ir mais tarde e que estava renunciando o cargo de vice-presidente. Foi um momento muito triste. Talvez tivesse me empolgado um pouco, mas por quê ele não conversou comigo, achei que estava fazendo a coisa certa, era início de gestão, já tínhamos feito várias assembleias e ele não tinha feito qualquer comentário... Jamais iria fazer alguma coisa para feri-lo daquele jeito, mas guardei aquelas imagens para o resto dos tempos.

Depois, na época que Jorge Xavier assumiu a Delegacia-Geral fui responsável (juntamente com o Delegado Gentil João Ramos) de indicar seu nome para ser o Diretor de Polícia Metropolitana (Litoral).  

À exceção do que ocorreu logo no início da gestão de Lúcia Stefanovich à frente da SSP, em cuja época ele encarnou as maldades de alguns colegas daquela administração, servindo de instrumento para me atingir..., a começar por me negar o direito de férias, todavia, passei a borracha e perdoei seus desatinos mentais,  nos últimos tempos aprendi a compreendê-lo melhor, para o bem e para o mal...

Voltei à tona e perguntei sobre o Delegado Ademir Braz de Souza, nosso candidato a Deputado Estadual, e ele fez os seguintes comentários:

- “Eu conversei com ele e ele me agradeceu os votos que consegui na sua eleição. Ele disse que esse grupo aí não tem nada haver com cargos. O negócio de cargos é outra coisa. Ele falou que fez três mil votos e que o Maurício Eskudlark fez dezoito mil. O negócio do Luiz Henrique é político e que politicamente falando é o Maurício que tem mérito para ser o Delegado-Geral. A Lúcia e o Trilha odeiam o Maurício. O Trilha diz que não cumprimenta o Mauricio!”

Fiquei curioso e perguntei se o Maurício Eskudlark, a Lúcia, o Lourival e o Trilha estavam reunidos com o grupo de transição. Braga respondeu:

- “Sim, estão todos ali reunidos!” 

Braga ainda comentou:

- “É o primeiro grupo de transição que eu não participo. Participei do grupo de transição do Paulo Afonso.  A idéia de ‘DPI’ e ‘DPL’ foi minha. Eu acho que tinham que criar a ‘DPL’, ‘DPI’ e ‘DPM’. Sou favorável as três...”.

Fiz uma última provocação que na verdade era para ver sua reação (jamais iria fazer uma coisa destas depois do ocorrido...):

- “Então tá! Vamos ali falar com o Ademir. Eu chamo o Ademir!”

Braga argumentou com voz pesarosa e denotando certa tristeza, mágoa e decepção:

“Nãoooo! Não vou!”. 

Eu entendi, porém, estávamos condenados a isso mesmo, todos nós vítimas desse processo que parecia não ter mais fim. Braga se foi e depois soube que o Delegado José Henrique da Costa também estava integrando o grupo de transição, sim o velho Comissário Henrique (agora Delegado). Na verdade o pessoal da Administração Paulo Afonso/Lúcia estava se apresentando para reuniões como parte integrante do “grupo de transição”, todos parecendo muito  fiéis ao “Plano 15” do futuro Governador Luiz Henrique de Silveira, mesmo que talvez nem tivessem lido as propostas, não importando se era bom ou mal para a instituição, o importante era estar incluído no pacote de cargos comissionados do futuro governo e ser lembrado na hora da “dança das cadeiras”.

Voltei meus pensamentos naquele “grupo de transição”, muitos deles num passado recente “fiéis” ao ex-governador Paulo Afonso e que permaneceram hibernando durante os quatro anos de governo Esperidião Amin... E dizer que passaram todos esses anos sem escreverem uma linha sequer em defesa do ex-governador Paulo Afonso, nenhuma crítica ao governado Amin..., pelo menos uma  cartinha na coluna ou diário do leitor do “DC”, nada!  Era assim mesmo, o que se esperar de um sistema que se auto alimentava de ódios, inveja, cobiça, desejos de vingança, interesses escusos..., como se fosse uma corrente alternada direcionado ao poder, desde que estivessem comprometidos com o sistema de ingerências políticas e com os políticos governistas. Seriam  eles os novos “soldados” intrépidos do Governador Luiz Henrique? Os detentores da fórmula para impulsionar a instituição para um futuro próspero e seguro? Só o tempo...