PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 29.05.2002, horário: 08:00 horas:

A psicólogo Kátia do Setor de Recursos Humanos da Delegacia-Geral veio até a “Assistência Jurídica” e acabei lembrando que no dia anterior ela já tinha estado no nosso setor por volta de dezenove horas perguntando por “Jô Guedes” e tinha respondido que já tinha ido embora.  Logo que Kátia acessou o interior do recinto consegui entender o porquê da visita, justamente, no momento que foi de encontro para abraçar “Jô Guedes”:

- “Que bom ‘Jô’. Parabéns!  Que pena. A instituição vai perder uma ótima funcionária. Mas uma outra instituição vai ganhar uma ótima funcionária, já que não houve reconhecimento por aqui. Mas ‘Jô’ que bom. Tu mereces. Tu és uma ótima pessoa!” 

“Jô Guedes” explicou sua classificação:

- “Na primeira fase eu fiquei entre os mil e setecentos, agora estou entre os quinhentos e cinquenta, mas tem muita gente que entrou com recurso. Viu o número de pessoas que foram  reprovadas? Chegou a cinquenta por cento”. 

(...)”.

Depois a Psicóloga Kátia foi saindo com aquela sua simpatia radiante, seu jeito sempre parecendo feliz...  Fiquei lembrando que no dia anterior “Jô Guedes”   já havia me dado essa notícia e que eu iria perdê-la, acabei fazendo uma brincadeira: “Perdê-la o quê?”,  procurando esconder um pouco o meu lamento, mas era algo que parecia iminente, sem contar todos os seus merecimentos, tudo isso por não termos uma “Escola Superior de Polícia” e uma legislação que pudesse valorizar nossos policias em termos de progressão funcional.  

Enquanto isso continua o drama do Delegado Toigo e da Policial Marli em Lages: 

“Delegado de Lages preso e fica recolhido no DIC - Lages - Por decisão do juiz Salim dos Santos, da 3ª Vara Criminal de Lages, foi preso ontem o delegado Adelino Roberto Toigo, suspeito de integrar o esquema de automóveis roubados que atua no Planalto Serrano. Titular do 3º distrito policial de Lages, Toigo teve o pedido de prisão preventiva feito pelos promotores do ministério público em abril, quando foi novamente denunciado pelo MP ao Judiciário. Com o pedido acatado ontem por Santos, o delegado foi detido e recolhido a uma cela do Departamento de Investigação Criminal (DIC). ‘Cumprimos o mandado de prisão, comunicamos o juiz e passamos o caso para a delegacia geral, que decidirá agora o que fazer’, informou o delegado regional de Lages, Antônio Marlus Malinverni. O delegado  e sua advogada, Lúcia Marin, não foram encontrados ontem para comentar o assunto. Toigo e o empresário lageano Luiz Carlos Freitas de Souza, o Cardoso, suspeito de ser um dos líderes da quadrilha do desmanche, foram denunciados em abril por crime de extorsão e prevaricação. No Tribunal de Justiça do Estado, outro pedido de prisão preventiva de Toigo feito pelos promotores de Lages foi acatado, e deverá ser decretado nos próximos dias. Neste caso trata-se de uma denúncia feita pelo MP em março, em que o delegado e perita da Polícia Civil Marli Terezinha Petry são apontados como suspeitos de formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e adulteração de sinal de veículo auto motor no esquema de desmanche que atua em Lages. Além dos pedidos de prisão preventiva acatados pela Justiça, Toigo deverá responder também a um processo disciplinar que será instaurado na Polícia Civil. De acordo com o delegado-geral de Santa Catarina, João Manoel Lipinsk, uma sindicância interna já foi realizada e a comissão disciplinar que vai apurar o caso já está formada. ‘A instauração do processo disciplinar depende apenas da publicação de uma portaria, que deverá acontecer nos próximos dias’, informou Lipinsk. (...)” (A Notícia, 29.05.2002).

“Estranho - Foi decretada em Lages a prisão do delegado Adelino Roberto Toigo, acusado pelo Ministério Público de crime de extorsão e envolvimento de desmanche de carros. Desde as primeiras denúncias até hoje a Secretaria de Segurança ainda mantém o delegado em suas funções, sequer foi afastado”  (DC, Paulo Alceu, 29.05.2002).

Lama - Como já se suspeitava o prosseguimento das investigações acerca do esquema de corrupção instalado no Estado através dos desmanches de carros vai revelando o quão ampla e disseminada é essa rede. A enormidade e a gravidade dos fatos, mais do que nunca, continuam a exigir que a comissão investigadora vá realmente a fundo nas apurações e na rigorosa punição dos culpados”’  (DC, Cacau Menezes, 29.05.2002).

Delegado Toigo tem a prisão decretada - O juiz Salim dos Santos, da 3ª Vara Criminal, decretou ontem a prisão preventiva do delegado Adelino Roberto Toigo, acusado de extorsão. O delegado depôs e foi encaminhado à Diretoria de Investigações Criminais (DIC) de Lages, onde está à disposição da Justiça e pode ser transferido para Florianópolis. O juiz Salim dos Santos argumentou em seu despacho que ‘o cidadão deposita confiança naquele que foi investido num alto cargo público de delegado de polícia, com função justamente de defendê-lo da marginalidade e este funcionário, ao invés de assim proceder, faz justamente o contrário, unindo-se àqueles que tinham o dever de reprimir, em detrimento do próprio cidadão que o remunera’. Também tiveram a prisão preventiva decretada Luiz Carlos Freitas de Souza, o Cardoso, João Antônio Oliveira, o Caolho, Antonio Scoth e João Agostinho da Silva Sutil. Apenas Sutil está foragido. Toigo é acusado de tentar extorquir R$ 7 mil de Antonio Scoth para não instaurar inquérito dos tratores roubados. A denúncia acatada pelo Ministério Público é baseada em interceptações telefônicas, realizadas no ano passado”  (DC, 29.05.2002). 

Horário: 20:00 horas:

Resolvi ligar para residência da Delegada Nara de Joinville. Lipinski havia me encaminhado o Processo Disciplinar n. 003/98, onde figurava como acusado o policial civil Elias Pryciuk Kuster (responsável pela Delegacia Municipal de São Cristovão do Sul/1995), acusado de ter praticado várias infrações disciplinares e criminais (Proc. Crim. N. 022.95.000694-9 – Curitibanos). A Delegada Nara havia se constituído numa importante peça nas investigações policiais  e lendo os autos havia também denúncias contra Delegados. Fiquei imaginando a pressão que Nara havia recebido na época   e julguei de vital importância manter contato preliminar com ela que já estava me aguardando. Durante o curso da conversa ela me disse:

- “Doutor Felipe quem pode também lhe dar alguma informação é o Sena...”.

Fiquei um pouco em dúvida e perguntei:

- “Tu estais falando do Eduardo Sena?” 

Nara respondeu:

- “Sim. Ele na época era Substituto em Santa Cecília. Passou por maus bocados. Precisava ver a pressão. Ele chegava a dormir no hotel com uma arma debaixo do travesseiro.  Não está vendo essas denúncias que estão estourando agora lá em Lages? Pois é,  é tudo ramificação, é resultado, é uma rede... Esse Toigo é só um laranja,  estão usando ele, ele é só laranja...”.

Fiquei um pouco surpreso e procurei manter o assunto em foco:

- “Mas o Ministério Público está em cima, ninguém sabe o que tem de verdade nisso tudo!”

Nara fez uma observação com aquela sua voz grave, com um quê de desajeitada, grotesca, antissocial... que lembrava mais Maria da Conceição Tavares (Economista e ex-Deputada Federa/SP), porém, passando seriedade, verdade...:

- “Tem um Delegado grandão lá de São Miguel do Oeste que também está envolvido..., é todo um esquema, caiu Tubarão, São José...”.

Fiquei um pouco impaciente e argumentei:

- “Mas o Delegado Regional de Tubarão não está envolvido. Esse de São Miguel que tu está te referindo...”.

Nara preferiu não declinar o nome por telefone e eu fiquei arriscando palpites:

- “Deixa eu ver quem poderia ser lá em São Miguel...?”

Fiquei também me perguntando: “Por que Lipinski me mandou o referido processo disciplinar envolvendo o filho do Deputado  Kuster para análise jurídica, sendo que a comissão havia solicitado a sua absolvição e caberia a Consultoria Jurídica do Secretário Chinato se manifestar? Também, tinha que se levar em contar que a  presidente do referido processo disciplinar foi a competente/séria e honesta Delegada Ana Maria Rothsahl Botelho (também Psicóloga e filha de Procurador de Justiça)?”  Não saberia dizer o que aquilo  poderia significar, para o bem e para o mal..., também, se a dileta Delegada Nara teria realmente embasamento probatório para fazer tais afirmações ou se estaria apenas no plano das cogitações...? 

“Extorsão 1 - Mais um tento marcado pela Justiça de Santa Catarina que merece registro, apesar da passeata realizada por policiais em Chapecó contra a decisão da Promotoria. Anote: ação penal ajuizada pelos 13 promotores de Justiça da Comarca de Lages resultou na decretação, nesta semana, da prisão preventiva do delegado Adelino Roberto Toigo, por crime de prevaricação e extorsão. A decisão judicial já foi executada e o delegado foi interrogado pelo juiz Salim Schead dos Santos, da 3ª Vara Criminal da Comarca de Lages. Extorsão 2 - No seu despacho, o juiz afirmou: ‘No caso dos autos, o acusado teria praticado os delitos no exercício da função de delegado, e apesar de estar respondendo a dois processos, e dos fatos terem repercutido intensamente na imprensa estadual, permanece exercendo suas funções normalmente, o que permite concluir que solto, estará em contato com os mesmos estímulos que o levaram a delinquir, bem como gerará insegurança no meio social, pois o cidadão vê na autoridade policial alguém que deve combater o crime e não auxiliá-lo, razão pela qual sua segregação cautelar se impõe para garantia da ordem pública.’ E complementou argumentando que a decisão também visa evitar que, uma vez em liberdade, possa "interferir na colheita das provas, quer influenciando, quer tentando intimidar as testemunhas". Toigo e Luiz Carlos Freitas de Souza são acusados de extorsão de R$ 7 mil contra João Agostinho da Silva Sutil e Antônio Scotti, envolvidos com receptação de trator. O dinheiro, de acordo com a Promotoria de Justiça de Lages, era cobrado para evitar a instauração de inquérito policial para apurar o esquema de receptação de máquinas. Extorsão 3 - Os promotores de Justiça destacam que esta decisão judicial não tem relação com a da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, que no dia 21 deste mês reformou a decisão da 2ª Vara Criminal de Lages e decretou a prisão preventiva do delegado Adelino Roberto Toigo. O recurso ao TJ foi apresentado pelo ministério público depois que o pedido, feito ao Juízo de Lages, na primeira quinzena de março, foi negado pelo juiz José Everaldo da Silva. Neste caso, salientam os promotores de Justiça, o envolvimento é com corrupção ativa e passiva”  (A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira, 31.5.2002).