PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 20.05.2002, horário: 22:00 horas:

O amigo e Delegado Helio Natal Dornsback me telefonou de Chapecó:

- “É o Doutor Felipe Genovesi?” 

Fiquei contente, estava assistindo a novela “O Clone” na Rede Globo. Logo percebi que Natal queria me felicitar pelo artigo no jornal da Adpesc:

- “Eu li aqui o jornal, ficou muito bom doutor, parabéns.  Eu sei que a gente também deveria se manifestar, somos uns acomodados!”

Argumentei que quem escreveu o artigo foi o “Felipe Genovez”, lamentando que pessoas que deveriam estar fazendo oposição ao governo estavam silentes:

- “Pois é Natal, a gente fica se expondo, dá pena do pessoal,  alguém precisava dizer alguma coisa, fazer alguma coisa. Eu não sei o que a Lúcia Stefanovich anda fazendo, o que o Lourival Mattos anda fazendo, esse pessoal é que deveria estar fazendo oposição ao governo desde o início..., e onde andam eles? A impressão é que estão todos escondidos, nem chegam a miar, é incrível! A própria Adpesc, o Mário deveria estar batendo de frente. Eles ficam aceitando esse estado de coisas, essa barbaridade, não há resistência alguma, o que o pessoal do Ministério Público vai pensar? E o pessoal da Polícia Militar? Talvez que nós somos uns ‘bananas’,  Natal tem que haver resistência, meu Deus! Eu, como esse artigo, pelo menos quis mostrar que existem pessoas resistentes dentre nós”. 

A conversa durou mais de uma hora e Natal insistiu que queria  saber das novidades. Acabamos falando das coisas de sempre e ele fez algumas considerações:

- “O pessoal aqui continua preso, foram condenados há nove anos, fica uma situação terrível, a Consuelo está direto dando atenção ao marido dela...”.

Curioso, perguntei:

- “O quê? Tu estais me dizendo que o Wilson (Brunello) está preso?” 

Natal confirmou:

- “Sim. Para mim o rapaz não tem nada, fizeram um oba-oba, o rapaz é um coitado.  Tem um Promotor aqui que tá barbarizando,  manda no Fórum, todo mundo aqui tem medo dele, até os juízes, só falta ele começar a assinar sentenças. O ‘p.p.’  esteve por aqui, acho que ele esteve umas três vezes, só ajudou a enterrar os policiais,  coitados...”.

Fiquei curioso e perguntei:

- “Mas Natal quem é esse Promotor?” 

Natal respondeu:

- “O cara é um tal de Tramontin, ele foi Oficial  da PM, é filho do Coronel Tramontin, tem um tio que é Procurador de Justiça, o homem tá barbarizando, tá se promovendo na imprensa, telefona para os Delegados cobrando por quê não lavraram flagrante,  telefona na cara dura para os Delegados e manda lavrar o flagrante, ele diz: ‘pode lavrar, é situação de flagrante’. Ah, se isso acontecesse comigo, ainda bem que até agora não aconteceu comigo, eu mando esse cara prá... Rapaz, tem um soldado que enterrou os nossos policiais civis no depoimento, esse militar me entra nas Delegacias exigindo a lavratura do auto de prisão em flagrante, eu já presenciei ele umas duas, três vezes na Delegacia,  como é que um sujeito desse, depois de fazer o que fez tem ainda coragem de entrar numa Delegacia, meu Deus do Céu e a coisa tá assim... E o ‘p.p.’ teve por aqui ouvindo esse pessoal, barbaridade, como é que um Delegado-Geral se presta para isso...?” 

Natal ainda comentou que Alex Boff estava deixando a Delegacia Regional, não queria mais ficar, iria pegar uma licença-prêmio, cuidar dos negócios particulares, ele e a esposa estavam  montando uma empresa de transportes. Natal disse que Alex estaria saindo em solidariedade aos policiais que estavam presos,  mais isso era pura “balela”, ele tá aproveitando é para sair porque queria pular fora do barco antes de terminar o governo...:

- “Eu não sei como é que pode uma cara desses que andava por aí c., foi preso... Mas tudo bem, ele tem as costas quentes, é um direito dele... Tá entrando no lugar dele o Delegado Morbine, fez curso no FBI. Tu não conheces o Morbini? Pois é, parece um rapaz bom, segundo eu sei foi indicação do “p.p.”. Olha, rapaz, eu fico impressionado como tem gente medíocre no nosso meio. Como é que pode ter gente como o ‘Dirceuzinho’ que veio aqui em Chapecó puxar-o-saco do ‘p.p.’. Que coisa nojenta, eu nunca imaginei que esse ‘Dirceuzinho’ fosse desse tipo de gente? Olha ele trabalhou comigo aqui em Chapecó e eu pensava uma coisa dele e o cara vem me fazer uma coisa dessas, vem dizer que o ‘p.p.’ é o melhor Delegado-Geral que já tivemos? Ele disse que o ‘p.p.’ tá fazendo uma grande administração. Eu me lembro que o Trilha esteve aqui em Chapecó com aquela mulher, como é mesmo o nome dela?”

(...)

- “Sim, é ela mesmo! O Trilha esteve aqui e babou na mulher... fizeram uma reunião e o homem que era o Delegado-Geral fez uma ‘puxação’ de saco. Eu pensei que ficaria por aí  e depois veio esse ‘Dirceuzinho’ fazer um papel desses, dá licença, doutor!”

Depois falamos em política e Natal disse que comentavam que havia nove candidatos postulando a Assemblelia Legislativa.  Acabamos nos despedindo, ficando de nos encontrar quando fosse possível.   Logo que desliguei o telefone, escutei uma outra chamada na linha dois três quatro sete cinco vinte e cinco... :

- “Alô!” 

Do outro lado da linha:

“Felipêêê?” 

Sim, só poderia ser o Delegado Damásio me chamando daquele jeito, era inconfundível o velho amigo e ele continuou:

- “Desculpa te telefonar esta hora da noite, mas eu tive que te ligar, li o teu artigo, olha estais de parabéns, eu estou afastado, estive na Delegacia pegando as minhas coisas e peguei o jornal da Adpesc para ler. Parabéns mesmo, foi o melhor artigo teu que já li, eu já li vários artigos teus, sempre são muito bons, mas esse foi o melhor. Felipê, eu gostei muito da nota do Mário Martins também, tu não lesses? Tá junto com o teu artigo!”

Acabei entendendo o que o Delegado Sena havia me dito no restaurante Pegorini do Shopping Beira-Mar. Ele havia dito que queria pegar um artigo do Mário no Jornal com críticas pesadas contra a administração Lipinski e eu não havia entendido, fiquei curioso, fui atrás dos jornais e não encontrei nada e agora Damásio estava me esclarecendo que tal nota foi publicada no jornal da Adpesc, junto com o meu artigo. Arrisquei uma ponderação:

- “Ah, então saiu no jornal da Adpesc, que bom, pena que o Mário não acordou mais cedo, só agora no final do governo”. 

Damásio disse que tinha acabado de conversar por telefone com Mário Martins e que fez isso para parabenizá-lo pela excelente nota:

 - “Felipê a gente sabe que não dá para dizer as coisas abertamente, a gente sabe que esse pessoal é perseguidor...”. 

Ao final da conversa disse para Damásio que meu artigo foi mais um desabafo em nome da grande maioria de policiais que se sente humilhado e Damásio conclui:

- “Felipê o pessoal não aguenta mais, está no limite, eu tive lendo a lei de promoções, como é simples se fazer o processo, eu não sei, ou esse pessoal é muito incompetente para fazer o processo ou realmente é muito difícil. Olha como o Ministério Público, a magistratura fazem as promoções deles...”.

Argumentei que não tínhamos mais data de promoção, era só baixar edital logo que cargos entrassem em vacância, mas nossos dirigentes eram fracos, tinham medos, temores...