PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 03.05.2002 – “Valorizando a história?”

A Polícia Militar tem por que valorizar a sua história, enquanto Lipinski valorizava o quê? Estava passando mais um dia “vinte e um de abril”, fatalmente também passará o “dez de maio”, e Lipinski continua como um velho “lobo solitário”, parecia que só tinha olhos para aquilo que agradava os fortes..., sem conseguir enxergar mais nada a não ser o “poder” ou pelo menos fazia de conta...:

“Polícia - Comando da Policia Militar inicia hoje a programação relativa aos 167 anos de fundação entregando títulos de Amigos da PM. Serão agraciados o procurador-geral de Justiça, José Galvani Alberton, as secretárias Miriam Schlickmann e Marli Nacif, o general Renato Lemos, o jornalista Manoel Timóteo, o prefeito Dário Berger e o empresário David Hasse”  (A Notícia, Moacir Pereira, 3.5.2002).

Data: 09.05.2002, horário: 09:30 horas – “O temor do Delegado Moacir Bernardino”:

Resolvi dar uma passada na sala do Delegado Braga que acabava de chegar do médico. Inicialmente, reclamou de seu problema na coluna, pois não sabia se operava. Braga explicou que não tinha o disco numa das vértebras.  Dentre outras coisas perguntei se ele sabia que o ato de nomeação do Maurício Noronha havia sido tornado sem efeito? Braga responde que soube e que conversou com o Delegado Moacir Bernardino sobre o assunto. Segundo Braga ele estava indignado porque soube que Maurício Noronha estava prestes a assumir o seu lugar dele na Chefia de Gabinete da Delegacia-Geral. Braga comentou ainda que teria dito para Moacir Bernardino que havia conversado com Maurício Noronha na Adpesc e que ele teria dito que em hipótese alguma aceitaria trabalhar no lugar do Moacir.

Enquanto isso:

 “Atenção Senhor Delegado-Geral: Falta polícia - Causou revolta na comunidade do Jardim Paraíso a depredação da Escola Municipal Rosa Maria Berezoski por vândalos, no ultimo final de semana. Até o muro da escola foi pintado com a inscrição ‘você está morta’, endereçada à diretora do estabelecimento. Ficou evidente a falta de policiais na região, em trabalho preventivo através de rondas. O maior absurdo é que sequer existe um distrito policial na região para o registro de queixas, pois o 4º DP, que atendia esse setor da cidade, foi desativado pela Secretaria de Segurança Pública do Estado. Ontem, o deputado Adelor Vieira (PMDB), que vem defendendo na Assembléia Legislativa a reativação dessa delegacia, esteve em audiência com o prefeito Marco Tebaldi, acompanhado de representantes de 14 associações de moradores, que pedem mais segurança pública para os bairros de Joinville. ‘É revoltante o pouco caso que o governo do Estado tem dado à segurança de Joinville’, comentou com os lideres comunitários presentes, garantindo que alguma providência, em caráter de urgência, precisa ser tomada”  (A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira, 14.5.2002).

“Içara pede mais policiais - Içara - A falta de segurança no distrito do balneário Rincão, levou a população a fazer um protesto, ontem, na frente da delegacia, fechada por falta de policial. Somente no final de semana, quatro residências foram arrombadas. A Polícia Militar registrou invasões em 60 casas somente em abril.  A polêmica sobre a falta de segurança aumentou depois que o comissário de polícia civil, Arildo Mezzari, responsável pela delegacia do balneário Rincão, pediu exoneração do cargo, sexta-feira, ao delegado de Içara, Carlos Emílio da Silva. O pedido de afastamento foi feito após denúncias feitas ao delegado regional de Criciúma, Valdenei de Bona, de que o comissário estaria usando o veículo da polícia para atividades particulares. Depois do protesto dos moradores, a delegacia regional já enviou um outro investigador para atender a população e até o final do dia de hoje vai apresentar novo comissário que ficará responsável pela delegacia do balneário”  (A Notícia, 14.5.2002). 

Data: 15.05.2002, horário: 07:00 horas – “Delegado-Geral Lipinski vive!:

Abri o jornal “A  Notícia”   e logo de cara percebi a foto triunfal de Lipinski. Fiquei surpreso, pois imaginava um Lipinski preocupado, desgastado, deprimido, estressado (como relatou a simpática e sorridente Psicóloga Policial Clarice Silva outro dia...) e, muito pelo contrário, nosso “Lobo Solitário” era a melhor na foto que já tinha visto de Lipinski na mídia, parecia repaginado, revitalizado... Aliás, uma foto em bom tamanho, um largo sorriso vitorioso, daqueles que dava a nítida impressão de que se tratava de um “estadista” ou “dirigente-mor” que estava sorvendo os aplausos na zona do  “gargarejo”.  Por um lado fiquei aliviado porque ele não estava moribundo, mas por outro, com tantas mazelas povoando por aqui e acolá...e nosso imaginário (lembrei dos relatos da Delegada Nara Driessen...), pois esses novos ares mostrava que o Delegado-Geral tinha grandes reservas de energia, não se deixaria abalar facilmente, ao contrário de antecessores que viviam encurralados, febris, amargurados, com insônia... sempre demonstrando uma condição mais de vítima, porém, fora do poder mudavam rapidamente seus discursos. E, pensei: “Será que Lipinski seria diferente?” Lipinski nessa foto dava plenos ares de quem tinha o domínio da coisa. Abaixo da sua foto uma matéria de cunho policialesco horripilante: 

“Indiciados 13 acusados de desmanche em SC - Quatro policiais civis foram afastados após investigações - Florianópolis - O esquema catarinense de legalização de veículos roubados pode ter um alcance muito maior do que a Polícia Civil tem conhecimento. De acordo com as investigações, sabe-se que, além de Santa Catarina, há ramificações, pelo menos, no Paraná e em São Paulo. A Polícia finalizou, na semana passada, a primeira fase de investigações e, ontem, foram traçadas estratégias para uma nova etapa. Segundo o delegado geral da PC, João Manoel Lipinsk, na última sexta-feira o inquérito da Ciretran de São José foi ajuizado e o da Capital deve ser concluído em 15 dias. ‘Descobrimos que, em São José, aproximadamente, 200 veículos foram emplacados de forma irregular, somente no período a partir de janeiro de 2001. Nesse inquérito, 13 pessoas foram indiciadas, sendo quatro policiais civis. Mas preferimos não divulgar os nomes, já que a investigação não está concluída’, informa Lipinski. (...)” (A Notícia, 15.5.2002). 

Data: 20.05.2002, horário: 11:00 horas – “Final de governo: sinais de quebra do silêncio?”

Retornei à “Assistência Jurídica” e fui informado por “Jô Guedes” que Ricardo Lemos Thomé havia deixado recado para que eu ligasse para ele na 6ª DP da Capital.  Perguntei para ela se havia recado e ela respondeu:

- “Eu acho que ele quer parabenizá-lo pelo artigo”.

Achei que seria possível, não tinha muita amizade com esse Delegado que ajudei muito na passado e não imaginava que tivesse chegado onde chegou tão rapidamente, conseguindo se esquivar das armadilhas e de sua impetuosidade. Logo em seguida fiz a ligação para Thomé (um dos homens fortes pelos bastidores na gestão Lúcia Stefanovich, porém, optou também pela do silêncio, só que agora estávamos no último ano de governo e aí o pessoal começava a se assanhar...). Do outro lado um policial passou a ligação e Thomé atendeu o telefone dizendo:

- “Oi Felipe eu estou te ligando para parabenizá-lo pelo artigo, foi muito bom mesmo...”. 

Depois de ouvir atentamente, argumentei:

“É, eu procurei mais fazer um desabafo em nome de uma grande maioria, bom acho que de uma minoria que se sente sufocada e não quer se expor, não é nada pessoal contra o Lipinski, a coisa é institucional. E esse pessoal que assumiu o comando da Polícia Civil não tem coragem de peitar o governo, de exigir soluções...”.

Thomé do outro lado interrompeu para dizer:

- “Olha Felipe na época do Trilha eu achava que tudo iria terminar, eu achava que o Trilha marcaria o fim de uma era e entrou esse Lipinski que para mim é o grande divisor de águas, eu pensava que iria ser o Trilha, eu acho que depois que esse sujeito sair a Polícia Civil nunca mais será a mesma, o pessoal não aguenta mais, está no limite. Esse teu artigo ficou muito bom, parabéns pela coragem, eu estava vendo ali tu já tinhas escrito há mais tempo?”.

Respondi:

- “Sim. Eu fui surpreendido pelo Mário, não imaginava que ele ainda fosse publicar esse artigo a matéria, sabe como ele é, o Mário é uma caixinha de surpresas, já recebi algumas felicitações...”.

Thomé ainda argumentou:

- “É, bota caixinha de surpresas. Eu estava vendo, o artigo tá meio deslocado no tempo, cita ali janeiro, dava para ver que foi escrito num outro momento, mas parabéns...”. 

E assim acabamos nosso contato, fiquei feliz de ouvir Thomé dizer aquelas coisas, o seu reconhecimento, o seu desabafo, justamente vindo dele já que me sentia bastante responsável pelo seu destino profissional, desde os tempos que cursou a Academia da Polícia Civil..., depois, o tempo que passou em Joaçaba..., em cuja ocasião acabou sendo  representado por um Juiz de Direito e Promotor de Justiça daquela comarca..., vindo o documento parar na “Assistência Jurídica”, sob minha direção, bem diferente destes tempos, pois tinha poder manifestação e acatamento...