PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 25.04.2002, horário: 11:20 horas:

Estava entretido em leituras na “Assistência Jurídica” e “Jô Guedes”  que estava na máquina fazendo cópias de documentos comentou que os quatro policiais de Chapecó haviam sido condenados, no entanto, a informação era que os mesmos poderiam ser inocentes das acusações  e que tudo foi porque um Promotor de Justiça de lá teria feito tanto “mise em scène” junto à imprensa, a seu tempo e modo... “Jô Guedes”  revelou que conhecia o Promotor Geovani Werner Tramontim e eu insisti na pergunta:

- “Você conhece ele?” 

E ela respondeu:

- “Que lhe parece?” 

E ficou só nisso. Por volta das quinze horas e dez minutos o Delegado Braga chegou na “Assistência Jurídica” trazendo a grande novidade do dia, ou seja, que o novato Delegado Paulo Koerich seria o Diretor de Polícia do Interior e fez o seguinte comentário:

-  “Ele vai responder pelas Delegacias Regionais do Interior do Estado. Acharam uma forma de valorizar a região de Blumenau. O Mauro Dutra vai ficar só com as Delegacias da Capital. O Mauro aceita qualquer coisa, ele é uma pessoa excepcional, mas na hora de aceitar cargos ele aceita ser até subordinado de um Delegado Substituto”.

Perguntei:

- “Mas não dissestes que iria ser o Delegado Toninho?” 

- “Eu disse que o Toninho falou que foi convidado. O Paulo vem para Capital e  o Toninho vai para Blumenau.” 

Depois Braga disse que o Delegado Toninho era indicação do Presidente da Adpesc (Delegado Mário Martins) que era candidato a Deputado Estadual, portanto, estaria atrás de cabos eleitorais e personalidades simpáticas a sua candidatura.... Argumentei então:

- “Eu acho que deveriam revogar os princípios da hierarquia e disciplina. De que valem? Não têm valor algum, só quando é para punir alguém, aí então eles invocam, eu sei que eles precisam disso no nosso Estatuto para obrigar os policiais a cumprirem ordens, só para isso, sob pena de serem responsabilizados, mas não vale para nomeação para os cargos políticos, aí a conversa é outra, são uns cínicos...”.

Braga me surpreendeu ao pedir voto para o Delegado Nazareno Zachi (Delegado/Corregedor/Polícia Civil) que seria candidato a Deputado Federal. Depois acabamos falando do imposto de renda,  da sangria no povo...  Braga disse que recebeu a visita da presidente dos viciados em jogos anônimos na sua gerência e que ele tinha nas mãos um material sobre o tratamento e argumentou que achou muito bom:

- “É uma senhora de quase uns cinquenta anos, ela já esteve no programa do Salum, ficou de costas, deu o número do celular. E tu vê que coincidência, na hora o pessoal do Diário Catarinense ligou e eu disse que estava recebendo uma visita.  O pessoal quis logo o nome dela, mas eu não dei, não poderia dar.  Mas tu vê, eu conversei com o Lipinski,  disse para ele que conversei com o Paulo Alceu e que ele disse que o Edson Caporal, presidente da Codesc,  foi até o governador com um documento assinado por mim autorizando o funcionamento das máquinas eletrônicas, inclusive, com carimbo da Jogos aqui. O Jaime Martins autorizou o funcionamento de duas máquinas lá em Canoinhas.  Eu falei para o Lipinski que disse para o Paulo Alceu que não era verdade. Que não dei documento algum, não autorizei nada, era tudo falsificado. O Paulo Alceu disse que o pessoal da Codesc foi até o governador e mostrou para ele esse documento. Disseram para o Amim que o pessoal da Polícia  Civil são todos uns corruptos. Ele disse que nós somos corruptos, imagina. Eu disse para o Lipinski ir até o Secretário, até o Governador para pedir cópia do documento. Disse para ele que eu quero ver.  O Lipinski disse que iria conversar com o Secretário. Eu ainda não conversei com ele. Ele foi para um encontro sobre violência em Goiânia, chegou hoje, eu vou conversar com ele, só estou esperando”. 

Perguntei para Braga:

- “Escuta aqui Braga, se há fortes indícios que falsificaram a tua assinatura eu acho que tu deverias colocar isso no papel. Deverias colocar sim no papel e pedir para que o Lipinski mandasse instaurar inquérito policial. Eles disseram que nós é que somos os corruptos? Bom, pode até ser que existe policiais recebendo ‘bola’, tu não achas?”

Braga levantou-se com energia e respondeu:

- “Mas claro, eu não tenho dúvidas. Lá embaixo em tenho dois funcionários que recebem,  todo mundo sabe”. 

Olhei para Braga e argumentei:

- “Então, está aí mais um motivo, acho que tu deverias pedir a instauração de inquérito. Olha Braga se eu fosse Delegado-Geral te chamaria, és um Delegado Especial, chamaria também o ‘Dirceuzinho’ lá na Deic e mandaria instaurar inquérito, pegaria o teu depoimento, ouviria o Paulo Alceu..., requisitaria investigações,   só para ver no que vai dar. Eu acho Braga que tu deverias colocar tudo isso no papel, vamos acabar com essa jogatinha, não é possível isso continuar assim desse jeito, vamos acabar com isso, bota tudo no papel porque se não vai valer aquela máxima de quanto pior melhor para a ‘ratazada’!” 

Braga argumentou:

- “Eu só estou esperando para falar com o Lipinski, daqui a pouco eu vou subir. Tu soubestes, vão mandar aquele policial Ramos embora também (Ramos estava sendo acusado - juntamente com os policiais Elói de Azevedo Junior e Jeferson - na morte de um detento no sábado de carnaval de 2000), o pessoal estava comentando. Dizem que o Lipinski não aceitou os teus argumentos porque o Ramos tem outras broncas, dizem que o rapaz é complicado, mas no entanto, naquele caso do Celito ele vai aceitar os teus argumentos, não vai pedir a demissão do Celito”.

Acabei dando uma risada bem escrachada e antes que Braga abrisse a porta para se retirar comentei:

- “Bom, mas aí é diferente, aí fica fácil, a pressão vem de cima e o discurso para baixo está prontinho, não é?”

Braga saiu meio que resmungando.

 

Horário: 16:30 horas:

“Jô Guedes” retornou do dentista eu logo que chegou perguntei se ela sabia quem iria ser o Diretor de Polícia do Interior. Ela respondeu que sabia quem iria ser o Delegado Regional de Blumenau. Fiquei um pouco surpreso, parecia que ela sabia tudo, tinha olhos e ouvidos direcionados para todos os lados, e completei:

- “É o ‘Toninho’, lembra que eu mandei uma carta para ele”. 

Ela continuou:

- “Sei, é aquele da...”. 

“Jô Guedes”  queria se referir a duas garrafas de “Staïnheguer”.

Respondi:

- “Isso mesmo!”

E ela perguntou:

- “O que o senhor acha disso?”

Respondi:

- “Dentro de uma perspectiva institucional eu pergunto como é que um Mauro Dutra, Delegado Especial, vai me aceitar se subordinar a um Delegado como o Paulo Koerich que é inicial de carreira? Brincadeira, não achas? Dizem que o Mauro por cargo comissionado aceita tudo, aceita se submeter até a um Delegado substituto!” 

“Jô Guedes” interrompeu e disse:

- “Submeter não! É ser subordinado. Ele já aceitou quando foi nomeado para o cargo!” 

Era impressionante o grau de clarividência da minha mais dileta confidente e completei:

-  “E não dá para fazer nada, esperar o quê do Delegado-Geral que  quem nem final de carreira é?”