PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 10.07.2003: horário: 11:00 horas:

O Delegado Tim Omar me telefonou avisando que já estava na “Casa” (Chefia de Polícia), ou seja, foi uma forma delicada de me dizer que já estava na sala dele pronto para a reunião do “grupo”. 

Em seguida cheguei na sua sala e estavam lá sentados Valquir e Valdir. Mais tarde apareceu Wilmar Domingues que apenas abriu a porta e deu uma espiada... “Wilmar mais parecia um errante que fazia muita falta no grupo” pensei, porém, a impressão é que queria nos penalizar com sua ausência, ao mesmo tempo que vivia nos espreitando. A conversa girou inicialmente sobre informática, e  Valquir começou a explicar o porquê da tomada de três plugs (fase, neutro e terra). Também explicou a voltagem necessária para o micro funcionar (cinco volts) e a importância de um bom estabilizador e aterramento. Também, que a voltagem ideal para as máquinas funcionarem era a de cento e dez volts porque a duzentos e vinte era muito forte, as máquinas corriam o risco de sofrerem maiores danos. Tim lembrou que tinha um estabilizador que não era muito bom no seu computador e acabou perdendo tudo.

Em certo momento da conversa Tim olhou na minha direção e foi dizendo:

- “Tem alguém aqui que está...”.

Ele queria dizer que eu estava longe e imediatamente rebati:

- “Não! Não! Estou escutando tudo, nos mínimos detalhes. Deixei o Valquir explicar, mas já sabia...”.

Valquir do outro lado completou:

- “Vinte reais pela aula”.

Tim perguntou:

- “Sim, e os notebooks?”

Respondi:

- “Os notebooks estão fora desse esquema...”.

Valquir praticamente respondeu a pergunta junto comigo e completou:

- “É por isso que aquela porra custa caro. O disco rígido de um notebook é do tamanho disso aqui...”.

Valquir dobrou uma folha de papel em várias partes para demonstrar a espessura do “HD” e fez referência a tecnologia utilizada num aparelho portátil.  Valquir lamentou que seu portátil já estava desatualizado e lento. Perguntei qual era configuração do seu notebook e Valquir respondeu:

- “É um dois três três, Toshiba”.

Valquir explicou o porquê das restrições impostas pela Secretaria ao uso da Internet, vedando durante o horário de expediente o acesso aos sites comerciais (ponto com) e foi dizendo:

- “Eles começaram a recolher todos os ‘modens’ dos computadores para que ninguém pudesse ter acesso direto a Internet. Todos estão integrados via rede e é uma ‘naba’ se um vírus entra no sistema, acaba contaminando toda a rede. O negócio é fazer como eu faço, como o Felipe faz, ter a máquina da gente e fazer um acesso direto”.

Antes que Valquir terminasse:

- “Para Valquir, eu ainda não estou conectado, estou me conectando!”

Valquir argumentou:

- “Não estais ainda, mas vais te conectar logo, não vais?”

Concordei, mas já estava. Valdir confidenciou que não entendia nada de informática e que tinha muita dificuldade com as novas tecnologias. Em seguida perguntei para Tim se Braga já havia assinado o nosso “projeto” (criação da Procuradoria-Geral de Polícia). Tim confirmou que todos já haviam assinado e que entregaria no dia seguinte (sexta-feira) para Dirceu Silveira.

Como já estava próximo de meio dia e todos estavam curiosos com o documento que eu trouxe (Valdir já tinha feito uma leitura logo que cheguei) e Tim pedia que eu desse conhecimento do assunto que já tinha levando no dia anterior e não havia conseguido discuti-lo. A primeira notícia havia sido publicada no jornal dando conhecimento que um “projeto”  apresentado pelas “entidades de classe” na área da Segurança Pública já estava sendo analisado pela Procuradoria-Geral do Estado. Sobre isso assunto argumentei:

- “Eu acho que esse ‘projeto’ repercute na nossa proposta de criação da ‘Procuradoria-Geral de Polícia’. Mexe nos salários dos Delegados. Então, como é que a Chefia de Polícia não tem conhecimento do assunto? Nós temos que pedir para o Dirceu interceder junto ao Secretário para que tão logo esse ‘projeto’ saia da Procuradoria-Geral do Estado que seja dado vistas para a direção da Polícia Civil opinar, vocês não acham? Eu penso que o Tim deveria encaminhar uma comunicação interna para o Dirceu...”. 

Tim concordou e pediu que eu redigisse a comunicação interna para ele. Afirmei que não teria problema algum. Valquir e Valdir também concordaram com o encaminhamento que eu havia proposto.  Fui para a segunda matéria que tratava sobre a prisão do atual Ministro da Cultura Gilberto Gil. Tratava-se de uma nota da jornalista Juliana Wosgraus no caderno especial do último domingo, onde dizia que “o Delegado visando assegurar o ‘Ibope’ antes da prisão do cantor havia convocado toda a imprensa”. Sobre o assunto comentei:

- “Vejam como isso até hoje respinga em nós. Como um trabalho conduzido dessa maneira é ruim para a instituição...”.

A seguir, sugeri que o grupo posteriormente apresentasse uma proposta ao Chefe de Polícia restringindo a aparição de policiais na mídia:

- “Além disso, o nosso pessoal é despreparado e acaba favorecendo uma imagem negativa da instituição. Eles vem com aqueles jargões como ‘modus operandi’, o ‘individuo’ o ‘elemento’ foi preso, e por aí vai... Uma linguagem totalmente fora dos padrões que se deve exigir de uma autoridade policial, de uma polícia tecnológica, moderna. Nós temos que frear isso. Eu acho que só o Delegado Regional deveria falar em nome da instituição ou determinadas pessoas credenciadas”.

Valquir concordou que tinha que impor restrições e Valdir relatou que já foi vítima de um jornalista na cidade de Tubarão e propôs que fosse designado um porta-voz.  Passei finalmente a terceira matéria onde o Secretário Blasi dava uma entrevista à imprensa durante a discussão do “Plano Nacional e Sistema Único de Segurança Pública” (Susp)  realizado na Fiesc, com a participação do Secretário Nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares. Segundo consta:  

“Santa Catarina reivindicou R$ 15 milhões, mas a verba ainda não foi repassada. ‘Nenhum Estado recebeu verba para o Susp até o momento’, disse Blasi. Santa Catarinja foi o quinto, de 22 Estados, a aderir ao sistema. O modelo, concebido pelo govenro federal, integra todas as esferas do poder público. ‘Criamos no Estado um plano quadrienal com 61 ações que está em conformidade com o projeto nacional’, disse Blasi” (A Notícia, 8.7.2003).

Depois de ler a matéria comentei:

- “Eu quis trazer isso à discussão para que todos tivessem certeza que o pensamento do Secretário é de submissão ao ‘Plano Nacional de Segurança’. Então, nós estamos propondo alterações à lei dois quatro três quando o Secretário defende o que está lá. Defende uma Corregedoria ligada ao Gabinete dele. Defende uma Academia única vinculada a ele e que venha a englobar as duas Polícias... E têm essas sessenta e uma ações que o pessoal trabalhou nisso. Vocês conhecem?”

Tim argumentou que nós já tínhamos discutindo o assunto. Concordei lembrando que teve a participação dos Delegados Thomé, Krieger e do próprio Tim que havia sido voto vencido no colegiado que decidiu sobre as ações. Lembrei da conversa que tive com Krieger e que ele nunca veio até o “grupo” dar alguma explicação. 

Valquir lembrou a caminhonete (S10-Chevrolet) que estava diariamente estacionada na frente do prédio da Chefia da Polícia Civil:

- “O que é aquilo? Um carro com puxador na frente, cabo de aço... O que uma viatura dessas está fazendo aqui dentro da cidade? Que cores são aquelas?”

Tim apartou do outro lado para afirmou:

- “Se eu tivesse um Omega velho eu iria preferir usar. Eu não embarco num carro daqueles, mas nem a pau”.

Era uma situação hilária e eu lembrei das cores (verde e vermelho) ao invés do escudo da Polícia Civil, das cores azul e branco, as nossas cores... Chamei a atenção que a Polícia Militar não usava uma viatura daquelas pois não possuía identidade alguma com eles, apenas a cor vermelha. No final, concluímos sobre a necessidade de se defender a manutenção das duas Polícias como era a filosofia do anteprojeto de criação da “Procuradoria-Geral de Polícia” no molde original, cada qual com sua história, com uma com sua estrutura e funções institucionais, mas submetida a um comando policial único, com custo baixo para a sociedade, moderna e tecnológica.