PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 10.06.2003, horário: 09:30 horas:

Resolvi subir para ver como é que estava a reunião do nosso grupo. Logo que cheguei só estava Valdir e Tim Omar aguardando a chegada dos demais membros. Wilmar chegou, deu uma olhada da porta, e bateu em retirada Lembrei que outro dia  Tim Omar havia comentado que logo que eu chegava Wilmar se retirava, parecia que estava comigo atravessado na sua garganta. Não liguei, mas já comecei a me questionar...

Valdir e Tim passaram a conversar sobre um projeto que tratava sobre psicólogos. Perguntei sobre o nosso “Projeto” e se já haviam sido colhidas às assinaturas do nosso pessoal. Tim informou que Braga estava de férias e viajando com a família (tinha ido para Tubarão) e que Valquir também ainda não havia assinado o documento. Em determinado momento da conversa Tim falou sobre outro “projeto” que tratava da compactação das Delegacias da Capital. Já tinha ouvido falar sobre o assunto dentro do próprio grupo, sendo que achava que se tratava da proposta do Delegado Wanderley Redondo entregue para o Secretário Blasi. Tim comentou que já tinha apresentado esse projeto em 1990. Fiquei curioso e logo fui externando minha opinião:

- “Eu sou contra essa compactação. Imagina, ninguém fala em diminuir de tamanho no atual momento, só nós. Vem esse pessoal iluminado apresentar um plano mágico de compactação das Delegacias para sobrar mais efetivo. A Polícia Militar acabou de criar mais batalhões. Criaram até uma nova Polícia, o Corpo de Bombeiros. E nós fizemos o contrário, pelo menos vamos manter o que nós já temos...”. Tim ficou meio que “desmontado” e foi argumentando:

- “Mas isso é bom. Não tem policiais. É preciso compactar. Eu desde 1990 que defendo a criação de uma Delegacia que funcione vinte quatro horas”.

Valdir estava de saída da sala e vaticinou:

- “Eu também sou contra a compactação. Estou de saída. O doutor Felipe defende a nossa ideia contra essa compactação”. 

Depois que Valdir saiu eu fui mais efusivo ainda nos meus argumentos. Tim levantou-se e foi dizendo:

- “Eu vinha com a ‘Gema’ para o trabalho outro dia e fui dizendo para ela: ‘como a gente se decepciona com as pessoas’. Eu não conhecia esse teu lado. Outro dia tu fosses a favor desse mesmo projeto”.

Interrompi para dizer:

- “Não Tim. Eu não externei minha opinião. Ainda não fui chamado a opinar sobre isso. Sou contra se diminuir o tamanho da Polícia Civil na atual conjuntura. Se o problema é a falta de efetivo nós temos é que demonstrar para a sociedade e para os governos a nossa situação e pedir o aumento do efetivo, apresentar uma proposta de quadro lotacional para mostrar isso para a sociedade. Se fecharmos as Delegacias da Capital a Polícia Militar acaba instalando ‘postos militares’ nos bairros...  De jeito nenhum Tim, jamais defendi essa compactação. Nós não podemos aceitar isso.  O que eu vejo é que ao invés de nós batermos de frente com o governo exigindo aumento do efeito vem o pessoal que está na cúpula apresentar uma alternativa agradável para não bater de frente, dá licença!” Tim interrompeu:

- “Eu só estou tendo prejuízo neste cargo. Mil e oitocentos reais eu recebo num final de semana dando aulas de tiro. Não tenho apego nenhum a este cargo. Qualquer coisa eu caio fora. Tu dissesses ideia, como é mesmo que tu usasses a expressão? Sim, ‘idéia fantástica’, acho que foi isso...”.

Interrompi:

- Olha Tim eu não disse ‘ideia fantástica’. Eu disse ‘ideia mágica’.  É que esse pessoal assume cargos e quer agradar o governo, lança essas ideias mágicas, depois passam os anos e ninguém mais sabe quem foi. Acabam eles ficando quietos, andando por aí numa boa entre nós, com as mãos no bolso. Nós temos que saber quem são os autores dessas ideias. É isso que eu quis dizer...”.

Aproveitei para dizer que estava falando abertamente porque tinha ele como um amigo e acreditava que tinha liberdade para defender minhas opiniões. Enquanto eu falava Tim andava tenso de um lado para outro dentro da sua sala, intercalando com se levantar e sentar, percebia nitidamente certo desconforto com a minha posição contrária até que fez um arremate:

- “Então eu vou retirar esse projeto!”

 Argumentei:

- “Não. Vamos ver o que o pessoal do grupo tem a dizer, vamos discutir para sabermos se a ideia é mágica ou fantástica mesmo, não é?”

Acabamos encerrando nossa acalorada discussão e Tim foi se acalmando um pouco:

- “Não vai fazer como o Wilmar, tu não vens mais as reuniões do grupo?” 

Olhei firme nos seus olhos e vaticinei:

- “Falasses outro dia aqui no grupo que eras minha ‘testemunha’, lembra? Mas acho que tu não me conheces mesmo? Fica tranquilo porque nesses casos eu fico sempre com a maioria. O que o pessoal decidir eu acatarei...”.