PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 13.07.2003:

E depois de toda aquela discussão com o Delegado Tim sobre compactação das Delegacias de Polícia da Capital vem o Dirceu dizer no DC:

“Investigação será intensificada com mais policiais – Diretor da Polícia Civil considera satisfatória análise que resultou na nota 6,22 para a segurança – Estimulados a avaliar a segurança pública na Capital através de notas, de zero a 10, os entrevistados chegaram a média de 6,22. O diretor da Delegacia Geral da Polícia Civil, Dirceu Silveira, avaliou como satisfatória a análise da população. Os dados servem de estímulo para continuarmos trabalhando para obter a nota 10, mesmo sendo utópica esta expectativa’, ressaltou o delegado. Ele prevê que com a chegada dos novos policiais, o trabalho de investigação seja intensificado pelas delegacias do município, já que alguns delegados serão transferidos do interior para Florianópolis. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa do Cidadão também estuda a readequação das 10 delegacias que compõem a Capital. Segundo Silveira, os distritos policiais terão a área de atuação alterada, possibilitando melhoria no trabalho de investigação. O delegado destacou os cursos de atualização e treinamento dos policiais civis. ‘Estamos investindo na capacitação dos policiais. Isso fará que a falta de efetivo não seja notada com tanta veemência’, completa Silveira. Um ponto negativo levantado pela pesquisa diz respeito a presença ostensiva da Polícia Militar no município. Dentre os entrevistados, 57% afirmaram que nunca se vê um policial quando precisa. ‘Não podemos ser onipresentes, mas trabalhamos em cima de dados estatísticos. Também optamos por um policiamento motorizado, pela velocidade no atendimento as ocorrências e a grande área de cobertura’, afirma o subcomandante da Polícia Militar, coronel Valmir Cabral (...)” DC, 13.7.2003).

Ora, dirão eles que não fizeram nada de mal, que nunca...:

“Saúde  - Uma boa notícia para um setor que depende de atenções médico-hospitalares. Por iniciativa do secretário da Segurança Pública e Defesa do Cidadão, João Henrique Blasi, o Hospital da Polícia Militar, em Florianópolis, poderá ampliar seu atendimento para todos os policiais civis e seus familiares. Totalmente equipado, inclusive com centro cirúrgico, tem capacidade para 9 mil atendimentos mensais”  (A Notícia, Raul Sartori, 14.7.2003).

Data: 14.07.2003, horário: 10:00 horas:

Já estava na sala do DelegadoTim Omar (quarto andar do prédio da Chefia de Polícia) que já estava reunido com os Delegados Valquir e Valdir e conversavam sobre futebol. Logo que me viu chegar Valquir disse:

“Doutor Felipe tem um xá quente amargo aí, qué? O doutor Felipe chegou para dar o quorum!”

Era uma brincadeira passável que já havia virado mania do pessoal quando me via chegar. E o assunto continuou girando sobre futebol, especialmente, porque o “Figueirense” havia derrotado o Paraná por quatro a dois. Acabei entrando no embalo, já que tinha que respirar aqueles ares “circenses”.

Depois que passaram alguns minutos (uns trinta) passamos finalmente a tratar sobre o “projeto”. Perguntei para Tim se ele já havia conversado com Dirceu Silveira e ele respondeu que ainda não.  Valquir fez uma revelação:

- “Vocês sabem qual é o apelido do Valério? O pessoal diz que ele é o cemitério’!”.

Tim confirmou dizendo:

- “Puxa, fica tudo ali em cima da mesa dele. Não saí nada. Mas eu estou só esperando o Dirceu chegar. Ele e o Peixoto estão em Joinville. Mas tem um cara aí que é muito bom, mas eu tenho notado que ele é meio subserviente”. 

Tim não quis dizer o nome, mas todos já sabiam que ele estava falando do “P”. Aproveitei para argumentar:

- “Ele é prudente Tim, mas todo prudente é subserviente. Imagina se um de nós aqui teria vida longa?. Ninguém! Gente  como nós cobrando, dizendo verdades, na vive! O ‘P.’ é prudente porque é subserviente, aí não dá. É por isso que a nossa instituição está assim”. 

Valquir concordou com o que eu externei e Tim saiu da sala para verificar que horas o Chefe de Polícia chegaria. Enquanto ele estava fora eu fiz um comentário:

- “Um dos problemas que nós temos é esse negócio de colocar Delegados aposentados em cargos comissionados. Olha Valquir tu visses naquele dia que eu falei isso para o Tim e ele não gostou. Mas eu disse a verdade, quem se aposentou cedo e retorna para um cargo comissionado e ainda tem outros negócios passa ter uma visão diferente de quem vai ter que trabalhar até os sessenta anos. Isso é perigoso!”

Depois de alguns instantes Tim retornou à sala e Valquir afirmou:

- “Doutor Tim estávamos falando mal do senhor agora”.

Tim ficou meio que desconfiando, mas disfarçou. Eu fui reiterando o que já tinha dito anteriormente. Tim rebateu na lata que não concordava com aquele julgamento e que trabalharia até mais tarde sem reclamar. Acabamos falando de Wilmar Domingues e Braga... 

E por falar em Wilmar ele apareceu na sala e ficou espreitando pela fresta da porta, porém, sem entrar e foi dizendo nas minhas costas:

- “O doutor Felipe não está aí, não? Bom pessoal venceu mais uma licença-prêmio e agora eu estou indo de verdade. Não retorno mais”.

Brinquei, fazendo uma provocação:

- “Não Wilmar, fica mais um pouquinho aqui conosco!” 

Depois que Wilmar fechou a porta nossa conversa passou a girar sobre aposentadorias e Valquir fez um desabafo:

- “Estou com cinquenta e dois anos de idade e trinta e quatro de serviço. Sinceramente, eu estou desmotivado.  Em noventa e oito faltava pouco para me aposentar e mudaram as regras do jogo. Agora querem mudar novamente. Eu não tenho mais motivação alguma para trabalhar”.

Tim com ares de inocência e surpresa, há anos aposentado, foi dizendo:

- “É mesmo, é mesmo, eu não entendo por quê?”

Valdir Batista argumentou que estava com trinta e dois anos de serviço e acabamos falando sobre a omissão do Delegado Mário Martins que permaneceu quase sete anos à frente da Adpesc e...  Valdir comentou que esteve conversando com Mário Martins e que durante todos aqueles anos nada foi feito sobre aposentadoria, e que veio a reforma de 1998... Lamentei que o advogado Alípio Mattje (Inspetor de Polícia aposentado) tenha sido escolhido para patrocinar  a causa de Valquir pelo fato dele não ter penetração no Tribunal de Justiça... 

Acabei fazendo considerações a respeito de como deveria ter procedido   o Delegado Mário Martins na questão da aposentadoria..., também, relatei a conversa que tive com ele na época que estava na presidência da adpesc. Valdir argumentou  que também conversou com Mário Martins que não teria feito  absolutamente nada. Valquir lamentou a posição do líder classista.

Eu relembrei que todas as vezes que procurava Mário Martins para reclamar ele acabava tentando inverter o ônus da responsabilidade dizendo que a culpa não era dele, nem da Adpesc, mas sim dos Delegados Especiais..., ficava nítido que ele queria calar a minha boca invertendo a situação...  Em silêncio lembrei que a culpa não era só de Dirceu Silveira, Lipinski..., mas também de Mário Martins, da direção da Fecapoc, porque optaram por permanecerem durante anos à frente daquelas entidades, numa situação confortável, tranquila, pacífica..., fazendo uso de dialéticas, conversações, muitas trovas... e poucas (ou nenhuma) soluções, atitudes, ações ... 

Lembrei também do papel de Alberton à frente do Ministério Público. Tim interrompeu para perguntar para o pessoal o que estavam achando da posição de Dirceu Silveira. Valquir lamentou que ele nunca mais procurou o nosso pessoal para prestigiar e se inteirar dos trabalhos. Tim também argumentou que anteriormente Dirceu estava sempre cobrando projetos, mas que agora não fala mais nada, parece desinteressado, distante... 

Valquir lamentou o que estava acontecendo e Tim pediu que eu externasse minha posição. Diante dessa convocação explícita argumentei que nós havíamos sido transformados em “ferramenta”, isto é, fomos criados para servir e dividir responsabilidades, desviar o fogo do Chefe de Polícia. Disse, ainda, que se no futuro alguma coisa desse errado ou que não fosse bem a culpa não seria só de Dirceu Silveira, teria um “grupo” por trás que seria o responsável pela ideia. Argumentei que não via Dirceu como um sonhador, um idealista, mas que talvez faltasse isso e lembrei que ele recebeu o  ‘projeto’ e nem se dignou a ler o material. Disse que tivemos que cobrar a leitura do projeto, portanto, não se vislumbrava nele idealismo, interesse...  Aduzi que na minha visão Dirceu tinha que comer, dormir, beber o nosso projeto, enfim, tratá-lo como uma prioridade máxima, e o que fez? Deveria ter repassado essa carga emocional e repassá-lo ao Secretário Blasi, aí sim nós teríamos alguma chance. Mas do jeito que as coisas evoluíram, não tivemos a mínima condição.  Mencionei o “caso Leocádia”, o que acabou trazendo alegria, distensão e curiosidade ao ambiente que ficou muito carregado...  Mas todos sabiam que a situação do nosso projeto (Procuradoria-Geral) era altamente invariavelmente problemática. Recomendei que Tim conversasse com Dirceu Silveira. Aleguei que depois, dependendo da posição do Chefe de Polícia, nós poderíamos adotar outras estratégias, a começar por envolver a Adpesc no processo e marcar uma audiência com o Secretário Blasi.