PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 01.07.2003, horário: 10:00 horas:

Havia acabado de chegar na sala do Delegado Tim Omar para ver como é que estava indo a reunião do nosso grupo. Na quinta feira passada havia deixado a cópia do “anteprojeto” já com as alterações solicitadas por Dirceu Silveira. Não se tratava ainda da redação final, apenas encaminhei para que o nosso pessoal desse uma revisada.  Estranhei ao olhar na mesa de reunião as três cópias já assinadas e rubricadas. Sentado estava Valdir Batista e de pé Wilmar Domingues e Mauro Dutra. Tim disse:

- “Tens que assinar!”

Nisso Wilmar Domingues foi pedindo licença, dando ares que estava meio estremecido comigo (acredito que meio envergonhado...).  Procurei conter a minha surpresa porque não era para o pessoal assinar o documento e sim para revisá-lo e Tim declarou:

- “O Mauro já assinou. Ele leu e gostou muito. Ele disse que ficou muito bom!”

Ao começar a ler a primeira página da exposição de motivos onde continha as principais alterações não gostei de algumas coisas e disse para o pessoal:

- “Bem, eu vou dar uma descida”.

Tim foi ironizando:

- “Vai voltar daqui uma ou duas horas?”

Respondi imediatamente:

- “Não. São cinco minutos só. Vou alterar a primeira página do anteprojeto. Não gostei”.

Depois que disse isso saí rapidamente com o propósito de dar uma revisada no material que só faltava ser assinado por Braga e Valquir. Quando cheguei na “Assistência Jurídica”, num primeiro momento, alterei três frases. Retornei com as alterações e Tim perguntou:

- “O que foi que tu alterasses agora? Me diz!”

Mostrei para ele no final da página e fui apontando:

- “Aqui constava ‘criminalidade’, achei melhor colocar ‘avanço da criminalidade’...”.

Tim interrompeu:

- “Alterasses o ‘a partir’ repetido duas vezes?”

Imediatamente respondi que sim e Tim perguntou:

- “Eu tinha notado, mas não quis falar nada. Aqui no início também consta ‘preliminar, registrar, soa meio mal, tu não achas? Mas deixa assim. O nome do Valquir saiu numa página e o cargo dele saiu noutra, mas deixa assim também”.

Imediatamente contestei:

- “Não. Não custa alterar. Eu volto lá embaixo, já volto”.

Retornei à “Assistência Jurídica” e alterei a primeira frase para “Como preliminar registramos” e acertei os nomes do pessoal do “grupo”, colocando todos na mesma página em duas colunas. Ao retornar à sala de Tim mostrei as alterações e ele se surpreendeu que eu tivesse acertado o nome do pessoal do “Grupo”. A seguir,  argumentei:

- “Ah, Tim, se é para fazer a coisa certa.  Eu mandei o anteprojeto para o ‘Grupo’ estudar e revisar. Só que cheguei aqui o pessoal já tinha assinado um documento que não era definitivo, pode? Só que agora o pessoal vai ter que assinar novamente”.

Tim ponderou:

- “Ficou bom. Agora sim, ficou perfeito”. 

Data: 02.07.2003, horário: 09:30 horas:

Estava na sala de Tim para ver como é que estava a reunião do nosso pessoal. Ao chegar fiquei surpreso, só estava Tim e ele disse:

- “Eu estava pensando em ti neste instante. Foi bom que tu aparecestes”.

Devolvi a frase com um sorriso com um quê de espartano.  Fechei a porta e sentei na mesa de reunião. Tim levantou-se energicamente da sua cadeira e veio sentar comigo, dizendo:

- “Eu estou preocupado. O não estou sentido firmeza do nosso pessoal. Tá difícil. Eu não estou sentido interesse. Desse jeito eu vou abandonar isso aqui. O meu cargo não é para isso. Eu vou embora...”.

Olhei para Tim e logo percebi que o pessoal não estava mais aparecendo para as reuniões, paulatinamente, foram se desinteressando, naquele clima de que o projeto já estava concluído. E, pensei: “será que não sabiam que o grupo foi criado em caráter permanente?” Aproveitei para externar minha opinião:

“Olha Tim, vamos devagar. O nosso pessoal está indo bem. Temos esse nosso ‘projeto’ que já se constitui uma grande vitória, ao invés de gente ficar jogando conversa fora nas reuniões, fizemos um projeto de impacto, o que tu queres? Tu não vê, o Conselho Superior da Polícia Civil? Só se reúne uma vez ou outra e nós aqui nos reunimos quase que todos os dias. Não dá para exigir muito do pessoal. Depois, o Braga está viajando direto, o Valquir está de férias, o Valdir está participando de comissões, o Mauro sempre ocupado...”. 

Tim respirou mais fundo, como se levasse uma banho de água fria e uma injeção de oxigênio puro. Em seguida chegou o Delegado Valdir. Acabei lembrando que muitos Delegados escreviam mal... Citei um caso envolvendo um ex-Delegado Regional que mandou um documento para a “Assistência Jurídica”  pedindo uma manifestação quanto ao fato de um “Promotor de Justiça” estar pegando no pé da Polícia local.  Relatei que ao ler o documento acabei fazendo uma informação não tendo como foco o “Promotor”, mas sim o documento formulado pela autoridade policial, pois estava cheio de erros de português... Lembrei que outro dia li um editorial no informativa da Adpesc, assinado por Mário Martins que escreveu três vezes a palavra “assessoria jurídica” com “acessoria jurídica”... Não pude me segurar e fui buscar o documento para mostrar para eles...  Ao retornar, retomamos a conversa e acabei mostrando a foto do Delegado “Pedrão” (Pedro Benedeck Bárdio)  em destaque no informativo. Não pude me segurar e fiz o seguinte comentário:

- “Eu não entendo como é que o ‘Pedrão’ pode ser tão prestigiado pelo Mário Martins... Qual foi a contribuição dele para a Polícia Civil? Ficou três anos no comando da instituição, fizeram aquela ‘politicagem’ toda na época do Heitor e aí vem o Maurício Noronha dizer que o ‘Pedrão’ é o exemplo de policial para ele, pode?”. 

Tim  concordou  com meus argumentos e afirmou:

- “A passagem dele pela Polícia Civil foi nebulosa... Tudo nele sempre foi nebuloso.... Até o concurso para Delegado foi nebuloso..., abriram o concurso de acesso só para ele fazer e no dia seguinte não tinha mais concurso de acesso, vocês sabiam disso, né? Sério, até o curso de Direito dele foi nebuloso...”. 

Valdir deu a impressão que concordava com aqueles argumentos e acabei lembrando o sobrinho do ‘Pedrão’, também, o Delegado aposentado R. M. e eu fiz minhas considerações:

-  “Ele é sobrinho do ‘Pedrão’, entrou depois de mim na carreira de Delegado e com trinta anos de idade se aposentou por invalidez. Não foi para o interior, o pouco tempo que ficou no cargo permaneceu na Capital. Hoje você encontra ele aí andando pelo centro da cidade, advogando... e aposentado. Brincadeira! É muita injustiça. Outro caso é o do Delegado Meira, tu lembras dele, não Tim? É outro que com trinta anos de idade se aposentou por invalidez e hoje está aí atuando no comércio a mil, andando pela cidade normalmente... Enquanto isso, nós aqui temos que trabalhar uma vida, até os sessenta anos, inclusive, por esse pessoal, que legado, heim?” 

Voltamos a conversar sobre “Pedrão” e eu acabei fazendo uma revelação sobre a forma como fui removido de Blumenau para Florianópolis... Concluí, relatando:

- “Só que eles me trouxeram para cá e me colocaram com o Evaristo lá na Décima Delegacia da Lagoa achando que iriam me calar, controlar, vigiar, preparar alguma arapuca..., muito pelo contrário, nós entramos naquela nossa luta contra o ‘Estatuto da Polícia Civil’ na Assembleia, depois me lancei candidato a deputado federal constituinte, bom, tu lembras né, Tim?”

Tim imediatamente confirmou porque participou ativamente fazendo oposição...  Lembrei, também, que todos os exemplares da “Revista Vanguarda Policial” do Comissário Villela estavam comigo e que elas trazem um pouco da História da Polícia Civil. Valdir lembrou também os problemas que teve com o Delegado Domingão (Vilmar Domingos) quando este era Delegado Regional e atuavam juntos na cidade de Tubarão. Naquela época o pessoal da revista “Vanguarda Policial” andou pela cidade criando problemas e Valdir teve tomar algumas providências, só que sofreu restrições por parte de Domingão, provavelmente a mando de ‘Pedrão’ que era o Chefe da Polícia Civil no Estado.

Depois que Valdir saiu da sala eu e Tim  retornamos a conversar sobre os trabalhos do “Grupo”. Aproveitei para afirmar:

- “Eu acho que nós temos que ver qual a nossa próxima prioridade. Acredito que seja ‘divisão administrativa da Polícia Civil’, depois o quadro lotacional, só que isso depende desse nosso ‘anteprojeto’, não achas?”

Tim concordou e se mostrou ansioso por reunir o grupo e, por último arrematou:

“Todo dia está entrando aqui papéis. Hoje entrou um documento do G. N., meu Deus, que documento mal escrito, eu não consigo entender...  Aqui tem outro documento propondo a criação da Delegacia do Idoso, não tem condições...”. 

Ao ouvir isso argumentei:

“Olha Tim, tem certas coisas que a gente tem que matar aqui na reunião, não precisa nem de deliberação, temos muitos absurdos na instituição e colegas que não têm as mínimas condições..., aliás, esse é outro fardo que temos que carregar e olhar para frente, abrir caminhos para o futuro!”