PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data 19.02.2002, horário: 14:30 horas - “O drama de ‘Jô Guedes’”:

“Jô Guedes” estava no telefone e parecia bastante indignada com o resultado do concurso para Delegado de Polícia. Ela primeiramente conversou com o Delegado Márcio Fortkamp, depois com a Comissária Cleusa que também estava inconformada com o resultado. 

“Jô Guedes” havia tirado nota sete na redação e acertou trinta e três questões.  Um candidato ficou classificado entre os duzentos  acertando vinte e quatro questões e tirando dez na redação. Ela declinou que havia feito a redação para tirar nota dez.  Já o filho do Secretário Chinado (Eduardo Chinato Ribeiro) tinha feito o concurso e foi classificado em décimo quinto lugar, enquanto o filho do Delegado-Geral João Manoel Lipinski foi reprovado.

“Jô Guedes”  foi orientada pelo Delegado Márcio Fortkamp a ir até a Udesc levar um requerimento, acompanhada de um professor de português e pedir revisão de prova. 

Data: 19.02.2002, horário: 13:30 horas:

Quando estava subindo as escadas rumo à “Assistência Jurídica” (Delegacia-Geral) ouvi gritos no balcão da portaria. Logo que me aproximei percebi que se tratava da Investigadora Ana Coutinho, com seu cabelo tingido (prestou auxílio na ‘Fecapoc’ durante parte do meu mandato). Logo que me viu, parecendo meio que “fora da casinha”, na presença de vários policiais, disse:

- “Felipe, Felipe, como é que é, virou marajá, ganhou na mega sena, não conhece mais os amigos?” 

Me voltei, respondi com um sorriso e como era essa a condição, fiz sinal para que ela subisse a escada até onde eu me encontrava. Ana reclamava da administração e antes de se despedir disse:

- “O quê? O dia que esse Lipinski morrer eu vou no funeral dele,  pode deixar. Ah, se vou, eu vou lá, vou com a  minha arma ainda para dar uns tiros nele para ver se ele está bem mortinho”.

Horário: 14:30 horas – “O Delegado Braga e caso da nomeação do Delegado Mauro Dutra”:

Finalmente o Delegado Braga reapareceu na “assistência Jurídica”. Permaneceu junto à porta dizendo que logo retornaria para uma conversa, estava precisando de uma ajuda.  Antes que ele se fosse, lancei uma pimenta:

- “Pô, o Mauro Dutra foi nomeado para um cargo, visse? Ele bateu pé e conseguiu!”

Braga respondeu:

- “Ele não sabia, ele foi nomeado sem saber, tu acreditas nisso?”

Olhei sério para Braga e antes que eu terminasse ele continuou:

- “É, eu não entendo, se fosse comigo eu simplesmente diria que não aceito, como é que pode a pessoa ser nomeada sem pedir, sem saber, foi o que ele me disse!”.

Continuei:

- “Imagina eu aqui, digamos que me nomeassem para o cargo de ‘Assistente Jurídico’ sem eu pedir, o que eu deveria fazer, heim Braga, o que tu farias lá embaixo? Imediatamente procuraria o Delegado-Geral e diria: ‘Tá aqui o cargo, podem me tirar do setor’. E depois, né Braga, estamos no último ano de governo, aceitar um cargo agora seria passar um atestado..., dá licença, seria como aceitar esmolas!”

Braga acabou concordando...

Horário: 16:00 horas:

O Delegado Braga retornou à “Assistência Jurídica” e acabou fazendo um relato sobre a última reunião do Conselho Superior da Polícia Civil, quando ele, os Delegados Mauro Dutra, Valkir e Jeferson ficaram até por volta de dezesseis horas cobrando de Lipinski a falta de apoio, as afrontas de Wilson Dotta (Secretário-Adjunto/SSP). Braga disse que Mário Martins fez muitas críticas à administração, especialmente em relação ao “Caso Jeferson” , envolvendo a retirada do seu computador na Diretoria de Comunicação e Informações (Dinf).  Braga afirmou que Lipinski a certa altura da conversa defendeu Dotta, dizendo que eles estavam sendo injustos com o Secretário Adjunto, e que eles estavam fazendo um complô para derrubá-lo. Braga enfatizou que não pretendia fazer o que fizeram na época de Jorge Xavier, quando já havia nomes prontos para substituir o Delegado-Geral, enquanto era redigido um documento de exoneração coletiva, mas tudo um verdadeiro faz de conta, onde o bobo da corte era o próprio Jorge Xavier.  Disse também que sentaram o pau porque durante os meses de verão a Polícia Militar só fazia expediente no período da tarde, enquanto que na Delegacia-Geral exigiu-se expediente integral. A certa altura da conversa Braga disse que estava com muito serviço na Gerência de Jogos e Diversões e que estava  recebendo muita pressão de todos os lados e que estava sendo processado por uma mulher... Relatou que teve uma conversa com Lipinski e deu ciência do que estava acontecendo na sua Gerência e que tinha dois policiais que trabalhava no setor que estavam boicotando o seu serviço o tempo todo. Braga ainda fez uma surpreendente revelação:

- “Eu conversei com Lipinski e relatei para ele parte da conversa que tu tivesses com o Dércio Knopp.  Vem cá, tu não vais me contar o que o Dércio Knopp te contou a respeito dos policiais? Eu falei para o Lipinski, depois o Mário também me contou um fato gravíssimo envolvendo os dois policiais. O Lipinski tá sabendo de tudo, eu pedi para que ele tomasse uma providência, dizem que um dos policiais recebe cinco mil reais só para dar cobertura. O Dércio não comentou nada contigo?” 

Braga ficou esperando que eu começasse a revelar o teor da conversa com o ex-parlamentar e maior defensor da abertura dos cassinos na Câmara Federal e eu apenas respondi:

- “Braga o Dércio é meu amigo, me fez revelações sem pedir segredo, mas eu não posso trair a confiança que ele tem comigo,   imagina se você  me fizesse revelações gravíssimas e eu saísse por aí para contar para todo mundo, você gostaria?  Mesmo por que não existem provas, tu sabes que corrupção é difícil de ser comprovada, mas se tu já desses ciência para o Delegado-Geral, tudo bem!”

Braga retomou o assunto:

- “Eu tive lá na Adpesc falando com o Mário Martins e ele fez colocações sobre as denúncias envolvendo os policiais, tu precisas ver, eu conversei com o Lipinski, e relatei tudo”. 

Quase que externando um ar de indignação, argumentei:  

- “Mas eu não entendo Braga, quanta coisa importante para nós nos preocuparmos, é a questão da isonomia, os nossos salários congelados e atrasados, ações na Justiça, é Brasília e o Mário vai lá bota uma pilha na tua cabeça, pronto! O Braga entra em parafuso, não pensa em mais nada, sujeito esperto esse Mário, heim? Olha Braga, quer dizer que você vai lá na Adpesc e o Mário sabendo dessa tua alugação, faz o teu jogo, bota fogo na lenha só para ver você passar mais alguns meses falando nisso e esquecendo o principal? É representação, é corrupção de policiais na tua Gerência e tu esqueces o resto, ninguém cobra mais nada,   eu sei que eu tenho culpa em cartório, não vou lá cobrar deles e nem poderia estar falando isso, mas você é uma pessoa que tem condições de fazer frente, estais sempre na Adpesc. Cada um que vai lá para conversar com o Mário, saber das novidades, criticar...  ele  prepara direitinho um discurso para o cara, puta merda,  assim não dá, e logo você Braga cai numa dessas?” 

E a nossa conversa acabou assim, ele estava com pressa, disse que iria voltar para conversamos mais...

“O jogo das luzes: Delegado-Geral e a Polícia Operacional”:

Enquanto isso, se o Delegado-Geral realmente pretendia ocupar sua mente com uma polícia operacional,  certamente que teria assunto para lhe dar muita visibilidade midiática:

MP investiga proprietários e aquisições - O Ministério Público também está fazendo um levantamento de todos os proprietários e aquisições de veículos da empresa Hankook Pneus. Até o início da semana, deve ser concretizada a nova perícia da camionete do delegado regional de Tubarão afastado, Júlio César Peres Arantes. A perícia deve ser realizada pelos peritos da Polícia Técnica da Polícia Civil, mas o MP exige a presença de peritos da empresa fabricante. De acordo com a promotora Márcia Arend, alguns documentos ainda faltam ser entregues pela empresa. "A princípio a camionete seria do Ceará, mas o pedido de transferência ocorreu dia 15 deste mês, depois que a camionete foi apreendida", comenta. O delegado geral da Polícia Civil, João Manoel Lipinski, diz já ter conhecimento do fato. Segundo o laudo pericial, a perícia constatou ausência de número do pára-brisa e no vidro da lateral da porta. Todos os demais vidros são originais. O sistema alfa numérico apresenta com sua gravação, sem vestígios de adulteração. Ainda segundo o laudo, a etiqueta do compartimento do motor é original. ‘O que importante são as plaquetas dos agregados. Qualquer um pode ter um vidro quebrado e trocar’, justifica. Dos 55 periciados pela Deic, dois foram comprovados produtos de furto ou roubo. Ontem, a PM de Tubarão recolheu mais três carcaças do Rio Cubículo. (MAB e CC)” (A Notícia, 21.02.2002).

“Acabar com os desmanches - O delegado Zulmar Valverde, que fechou três pontos de desmanche de carros em Joinville, disse que não é difícil acabar com esse tipo de operação no município. "Se for criada uma parceria entre a Polícia, Receita Federal, Receita Estadual e a Prefeitura, podemos acabar com a modalidade do crime", explicou. Lamentavelmente, existem os robautos - lojas que revendem pecas de carros roubados - e não há a menor fiscalização contra esse comércio, advertiu. Na Câmara de Vereadores, a vereadora Heliete Steingraber Silva apresentou um projeto que tem por objetivo obrigar esses estabelecimentos a trabalharem com notas fiscais e estoque regulamentado por lei. Por outro lado, Valverde não vê muita colaboração por parte da população, que não usa o disque-denúncia para avisar quando está funcionando um desmanche numa determinada rua. ‘Hoje, o desmanche não acontece mais em oficinas de automóveis, mas em garagens particulares. Os vizinhos sabem, mas temem avisar a polícia’, constata”  (A Notícia, Antonio Neves – Alça de Mira,  28.2.2002).

Despedida –O delegado Aroldo Soster despede-se hoje, às 10 horas, da superintendência da Polícia Federal em Santa Catarina, com respeitável folha de serviços prestados ao Estado e ao sistema de segurança. Sua unidade é a única com certificado de qualidade, mudou o perfil do trabalho policial, promoveu treinamento, inaugurou nova sede, expandiu os serviços e aprimorou a imagem da Polícia Federal”  (a Notícia, Moacir Pereira, , 28.2.2002). 

A nova Polícia Federal - A transmissão de cargo de superintendente da Polícia Federal em Santa Catarina de Aroldo Soster para Renato Porciúncula foi marcada por dois fatos: 1. O Coral de Servidores, cantando "A Despedida", de Roberto Carlos, homenageando o delegado que saia, e o "Rancho de Amor à Ilha", de Zininho, saudando o policial que entrava, numa singular humanização da corporação. 2. Os discursos enfatizando a credibilidade da Polícia Federal. Todos em defesa da ordem jurídica, dos direitos humanos e de inarredável combate à toda forma de criminalidade. Ao delegado Aroldo Soster está sendo creditada, merecidamente, razoável parcela dessa mudança positiva de imagem da organização. O relatório resumido do ex-superintendente retrata o significado de sua obra para Santa Catarina e para o sistema de segurança. Em dez anos de comando, criou as delegacias de Joinville e Chapecó, obteve a certificação ISO 9002 (única no mundo), participou de todas as maiores operações nacionais de combate ao tráfico de tóxicos (20 toneladas destruídas), construiu a bela sede própria da Capital, não deu tréguas aos crimes contra a previdência, atacou o contrabando, executou parcerias escolares em programas preventivos de drogas, atuou lado a lado com organizações comunitárias e de ensino, montou uma ‘home page’ modelo no Brasil e alterou a visão policial com prioridade ao setor de inteligência para combater os delitos na origem. A gestão virou parâmetro nacional. Há dez anos um passaporte era emitido após dez dias; hoje o cidadão leva o documento em uma hora. A adoção do pregoeiro reduziu os custos do setor de compras. E mais dois títulos respeitáveis: nenhuma denúncia de corrupção ou de lesão aos direitos humanos. É, por isso, mais aparelhada, mais respeitada e mais prestigiada” (A Notícia, 1.3.2002).