PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 22.04.2003, horário: 08:30 horas:

Horário: 14:15 horas:

Estava na “Assistência Jurídica”  e passei a conversar com a Investigadora Kristian e ela relatou que anteriormente atuou como “assessora jurídica” do Delegado Wanderley Redondo que estava à frente do Detran do Estado de Santa Catarina. A seguir, passou a fazer revelações confidenciais sobre o que realmente ocorreu com o o “triunvirato”:

- “O doutor Wanderley me contou tudo. O problema foi com o Dotta na Secretaria de Segurança. O Dotta começou a cortar tudo no Detran, começou com material, pessoal... e acabou com os estagiários. O doutor Wanderley não estava aguentando mais o Dotta. Sabe doutor, o Dotta queria tirar o Detran da Polícia Civil e o doutor Wanderley defendia o Detran como da Polícia Civil. O doutor Wanderley conversou com o doutor Lipinski e com o doutor Rachadel. O doutor Lipinski então acertou que numa audiência com o Secretário os três iriam juntos para conversar sobre o que realmente estava ocorrendo.  Eles tinham feito um acerto entre os três, era o seguinte, ou saiam os três ou saia o Dotta. No dia da reunião com o Secretário Chinato, o Lipinski depois de falar disse para que o Secretário que o doutor Wanderley gostaria de falar alguma coisa. O doutor Wanderley colocou tudo para o Secretário e no final disse que estava colocando o cargo dele à disposição. O doutor Lipinski e o doutor Rachadel ficaram calados, não falaram nada. O doutor Wanderley ainda olhou para os dois e perguntou se eles não iriam falar alguma coisa. Eles não disseram nada e o Secretário disse que estava bem. Então doutor...”.

Argumentei:

- “Eu conheço o Lipinski, sei que ele seria capaz de uma atitude dessas, mas o Redondo mereceu, eles eram que nem unha e carne atrás do poder, queriam assumir o comando da Polícia Civil a qualquer preço, e deu no que deu!”

Kristian fez uma cara de inconformada com minha opinião, dava para perceber que ela era bastante solidária a Wanderley Redondo, porém, tinha que dar um desconto para ela que não conhecia nada da história, apenas o que vivenciou enquanto esteve no Detran. Assim, era plenamente aceitável que não aceitasse as minhas considerações:

- “.Ah, não doutor, por quê? Olha eu trabalhei com o doutor Redondo e ele é uma pessoa muita honesta, muito séria, trabalhador!” 

Continuei:

- “É, mas o Lipinski e o Rachadel não foram criados também pelo  Redondo, não estavam os três juntos?”  

Kristian concordou e questionei a honestidade das pessoas,  também concordei que Redondo era muito trabalhador e honesto, especialmente, quando estava investido em cargos de destaque, entretanto, no campo político a coisa mudava de figura...

Kristian comentou que realmente pôde perceber que a política era é o defeito do Delegado Wanderley Redondo e eu acabei lembrando o episódio envolvendo meu primo Nilton Knabben que uma vez procurou ele no Detran e caiu na besteira de dizer que era meu primo... Depois comentei que as restrições de Redondo comigo eram por conta das minhas promoções, ou seja, porque fui promovido ao cargo de Delegado Especial na frente dele, apesar de ser mais novo na carreira, e ele ficou dizendo por aí que eu tinha legislado em causa própria. Na verdade ele não sabia de nada, nem queria saber, estava cego, obviamente que no merecimento eu passei ele para trás, só que foram em razão de critérios legais. Eu poderia ter sido promovido a Especial em 1994, quando ninguém se interessou em conhecer a nova legislação que entrou em vigor no final do ano anterior. Na verdade os Delegados estavam todos acomodados, nunca contestaram as promoções políticas por merecimento que eram feitas nos governos anteriores, e quando veio uma lei nova colocando ordem na casa aí pegou eles dormitando, claro que tinham que arranjar um ‘cristo’ para crucificar, moral da história, eu só fui promovido em 1998 para Especial, tive que esperar quatro anos por opção própria, justamente para que ninguém pudesse dizer que legislei em causa própria, fiz isso por uma questão ética e pessoal, porque fui eu que fiz a lei, conhecia tudo, e não quis me inscrever por respeito aos Delegados, e veio o Redondo falar o que falou para o meu primo, imagina o que não comentou com colegas?”

Depois de me ouvir e entender o que realmente aconteceu, Kristian soltou uma risada espontânea e acabou concordando:

- “Ele é bem assim doutor, até parece que eu estou vendo ele aqui na minha frente, até parece que eu estou vendo a cara dele...”.

(...)”.

Data: 22.04.2003, horário: 14:25 horas:

Braga veio até à “Assistência Jurídica”, a bem da verdade queria saber das novidades, começou puxando conversa com Kristian (que na verdade todos chamavam de “Celly”). Quando Braga me viu externou certo ar de surpresa (Braga já tinha me visto no prédio na parte da manhã e sabia que eu já havia retornado das minhas férias) e foi dizendo:

- “Estais aí, pena que eu não sabia, se não de manhã eu já iria cobrar a tua presença no grupo. Hoje de manhã na reunião só foi elogios, não adianta Felipe, tu tens que participar do grupo, o pessoal está parado, ninguém faz mais nada sem a tua presença”. 

Acabei achando graça porque já conhecia o discurso e fui replicando:

- “Ah, para, não é bem assim!”

Braga intercedeu imediatamente:

- “Tu tens que participar Felipe”.

Kristian só ouvia e eu fui mais picante:

- “Sim, é para o bem bom ou é para o bem mal?”

Braga percebeu o que eu queria dizer e argumentou:

“Não é para o ‘bem bom’ ou para o ‘bem mal’, não é nada disso, é institucional mesmo, tudo que o doutor Felipe sempre defendeu, o institucional, a Polícia Civil!”

Continuei:

- “Ô, doutor Braga, o grupo é do pessoal, foi constituído pelo Delegado-Geral, ele é do comando, e está certo que querem mostrar serviço. Olha quem mandou um abraço para ti foi o ‘Natal’. Ele disse que gostou muito da reunião que tu fizestes a semana passada lá”.

Braga já mudou de cor e a voz:

- “O pessoal tem gostado muito das minhas reuniões, a não ser que pela frente dizem uma coisa e por traz outra, a gente gasta em diárias, viaja, mais vale a pena, é importante, a Polícia nunca trabalhou tanto como está trabalhando agora. Até o Lipinski foi na minha reunião. Ele sentou bem na frente, que coisa, antes ele era o Delegado-Geral e eu era subordinado dele. Ele estava lá na reunião em Brusque e perguntava para mim me chamando de senhor, dizendo: ‘doutor Braga o senhor...’, onde é que já se viu, o homem que foi Delegado-Geral agora naquela condição melancólica...”.

Imediatamente retruquei:

- “Que ridículo, que absurdo isso Braga. Olha kristian isso só ocorre na Polícia Civil, brincadeira. Que ‘esculhambação’, e o que ele fez para mudar isso?”

Braga concordou dizendo:

- “É, ele foi Delegado-Geral, o homem mais forte da Polícia Civil, e agora está lá como um simples Delegado de Comarca, pode?”

Continuei:

- “Sim, está lá, mas isso só acontece na Polícia Civil. Olha a situação da Lúcia, é pior ainda, está lá jogada na 5a DP, uma mulher que foi Secretária da Segurança”.

Braga ainda revelou o confronto do Secretário Blasi com o Delegado Gentil na Lagoa da Conceição (Florianópolis) acerca das festas “rave”. João Henrique Blasi teria desautorizado Gentil, declarando à imprensa que tomaria providências contra o Delegado. Fiquei impressionado com o fato e preocupado com o nosso futuro.

Depois que Braga saiu comentei com Kristian:

- “É claro que eles querem formiguinhas para trabalhar para eles. Fazem as reuniões, lançam brilhantes ideias no grupo, depois caem fora e deixam tudo para ser feito, e quem é que vai ter que fazer, redigir, pensar...?” 

Kristian pareceu concordar com meu desabafo e eu acabei lembrando da conversa que tive com o Delegado Natal no último final de semana lá em Chapecó.