PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data:  30.01.2003, Horário: 18:00 horas:

Estava retornando para “Delegacia-Geral” depois de manobrar meu carro que estava na “Zona Azul” e quase na frente da Delegacia-Geral encontrei Hilton Vieira deixando o interior de um veículo Kadet que deveria ser uma viatura oficial descaracterizada. Do lado do carona também saltava uma loira jovem que fiquei pensando que poderia ser policial, sua filha ou... depois quase tive certeza que deveria ser alguém especial porque além de ser bem mais jovem e parecia bastante íntima. Ela também deixou o interior do carro e dava a impressão que iria acompanhar Hilton até a Delegacia-Geral.

Ganhei à dianteira e na subida das escadas do prédio encontrei Valquir  Sgambato de saída. Acabei fazendo um sinal que desejava conversar com ele. Valquir veio ao meu encontro e ficamos conversando próximo às escadas, na parte superior. Fui direto ao assunto:

- “Conversei com o Hilton...”.

Nem acabei de proferir essas palavras e Hilton começou a subir as escadas com a misteriosa loira. Fiz sinal para Valquir dizendo:

- “Falei no nome dele e olha quem é que aparece”.

Valquir olhou para baixo e Hilton exclamou:

- “Ô Valquir! Eu conversei com o Felipe...”.

Valquir acabou soltando uma gargalhada e apontou na minha direção:

- “O Felipe tá aqui ó! Ele acabou de me dizer: ‘conversei com o Hilton!”.

Hilton olhou na minha direção e disse:

- “Ah, tais aí!”

Acabamos rindo e a loira misteriosa continuou ladeando Hilton que parecia sob um estado de graça e, a seguir, levou sua companhia para conhecer o prédio.  Depois que Hilton se foi fiquei conversando com Valquir sobre aposentadoria...

Em seguida passou o Delegado Valdir Batista, seguido de Wilmar Domingues que vieram se juntar a nós. Fiquei mais de ouvidor da conversa. Wilmar estava curioso querendo saber como é que estavam as coisas enquanto Valquir fazia  um quase desabafo a respeito do novo Diretor de Polícia do Litoral:

- “Tá ruim, tá ruim, esse diretor é ‘e.’, está ‘b.’, não fala com ninguém. Acabou de assumir e já mudou, é a cadeira, é a maldição da cadeira, o cara assume um cargo e já muda...”.

Wilmar confirmou:

- “É a maldição da cadeira!”

Eu concluí dizendo:

- “Mas o que tu queres, o homem é irmão de deputado federal, ex-candidato a senador...”.

(...)”.

Data: 31.01.2003, horário: 07:20 horas:

Chequei um pouco mais cedo do que costume na Delegacia-Geral. Ao passar pela garagem olhei para o seu interior e não vi nenhum carro estacionado. Como na época de Lipinski, logo deduzi: “estão todos os novos diretores, gerentes, motoristas com as viaturas... Com isso eles economizam carro, combustível, estacionamento, tempo..., num verdadeiro “festerê!” Lembrei que até o meu amigo Braga deveria estar numa situação parecida com o Comissário Marlon que morava no Balneário Campeche (Florianópolis) fazendo o trajeto Ribeirão da Ilha usando o Renault Cénic esverdeado?

Data: 31.01.2003, horário: 09:30 horas:

Desci para tomar um café, sendo que antes resolvi dar uma chegada até a sala de Braga que ainda continuava atuando na mesma função designada. Logo que entrei chegou também Milton Sché Neves e  acabamos conversando sobre “lobbies” e que os Oficiais da Polícia Militar possuíam salários indiretos, além de inúmeras vantagens pessoais que elevavam os vencimentos para cima. Miltão argumentou que os Oficiais eram unidos, tinham espírito de corpo e estavam presentes em todos os principais órgãos do governo. Enquanto isso, os Delegados e policiais estavam divididos em grupos, facções..., todos em busca do poder pelo poder. Lembrou que existia o “olho grande”, todo mundo estava de olho em todo mundo, ninguém poderia ganhar uma vantagem que os outros já desciam o pau. Miltão comentou que na PM, com os Oficiais,  ocorria justamente o inverso, todos se ajudavam, havia  um espírito de corpo e que em alguns órgãos do governo os Oficiais ficavam “coçando o saco o dia inteiro”, mas estavam lá dentro ocupando espaços, fazendo “lobbies”... Finalmente, Miltão lembrou que na Assembleia Legislativa do Estado isso ocorria com frequência, os servidores ficavam o dia todo fazendo “lobbies” junto aos parlamentares para conseguirem vantagens e mais vantagens, um fazia um curso e requeria gratificação, o outro pedia por isso, por aquilo e assim acumulavam vantagens durante o transcurso dos anos. Miltão aparentava gostar de conversar e não dava muito espaço para seu interlocutor, depois, eu também procurei ser discreto...  Logo que Miltão se foi comecei a conversar com Braga. Lembrei que tinha um processo em cima da minha mesa, cuja comissão era integrada pelo Delegado Mário Martins. Em razão disso questionei:

- “O que tu achas Braga, o Mário sendo presidente da Adpesc poderia integrar uma comissão disciplinar?” 

Braga passou a defender participação de Mário dizendo:

- “Sim, ele está prestando serviços na Polinter. Ele é o responsável. Ele cumpre meio expediente na Polinter e meio expediente na Adpesc”.

- Contraditei Braga, argumentando:

- “Dá licença Braga, que Polinter? Ele não está licenciado para presidir a Adpesc?” 

Braga respondeu com ênfase:

- “Não. Não! Ele também está lá na Polinter!”.

Continuei:

- “Eu acho que tu está enganado porque saiu agora o ato de designação dele para a Polinter, só agora. E de mais a mais Braga ele não poderia integrar comissão de processo disciplinar porque se encontra exclusivamente prestando serviços na Adpesc. Ele deveria se declarar suspeito, é representante classista, não possui isenção”.

Braga perguntou:

- “Mas quem é o acusado? É Delegado?”

Respondi que não sabia se era Delegado, porém isso não importava, porque sendo Delegado ou não ele era representante classista...  Braga fez o seu último arremate:

- “Ele só quer ponto para promoção. Ele participou da comissão só para ganhar pontos. Não vê em quantas comissões colocaram o T.?” 

Contraditei, dizendo que o T. já era Delegado Especial. Depois de virar esse assunto perguntei para Braga se ele viu a relação dos novos Delegados Regionais. Braga respondeu que sim e eu perguntei:

- “Tu vistes que o Ademir Braz de Souza vai assumir a Delegacia Regional de Brusque?” 

Braga confirmou que viu  e eu continuei:

- “Brincadeira, o cara me fez aquele ‘auê’ todo, saiu candidato, fez contatos, procurou a gente, só para acabar sendo Delegado Regional de Brusque, que frustração...!”

Braga aproveitou para fazer uma consideração ácida:

- “Outro dia ele estava ali embaixo e eu passei, tu acreditas que ele nem me cumprimentou direito. Olha Felipe tu precisas ver, ele ficou todo desajeitado, achou que eu iria pedir alguma coisa, ficou com medo”.

Completei:

- “Imagina, eu acho que ele tem nos evitado porque acha que vamos pedir alguma coisa ou porque não quer se vincular a nós por causa do pessoal da Lúcia”.

Braga fez um questionamento:

- “Felipe será por quê? Eles nos tratam como leprosos, o doutor Braga, o doutor Wilmar, o doutor Felipe, eles não querem saber da gente...”.

Não concordei com aquele raciocínio e fui falando:

- “Olha Braga eu não concordo muito. Eu penso que eles têm é prevenção, isso sim!. Imagina, muitos ainda não são Delegados Especiais, e estão atrás de políticos para ocupar cargos comissionados, ferem a hierarquia, a disciplina, então é óbvio que eles nos tratem assim, somos uma pedra no caminho deles, a consciência pesa, não somos puxa-sacos, temos luz própria, não bajulamos ninguém, não vamos atrás de políticos...”.

Braga pareceu não concordar e eu fui mais além:

- “Olha Braga se aquele nosso grupo de Delegados estivesse ainda se reunindo quanta coisa a gente poderia ter evitado, influenciado... Eu acho que teríamos que formalizar uma agenda, colocar numa pauta uma série de medidas, a começar por pedir a suspensão dos processos de promoção. Enquanto não fossem resgatados nossos princípios como a hierarquia, disciplina  não haveria promoção. Assim, que nós passássemos a tomar essas iniciativas eu duvido se não surtiria efeitos?”

Braga pareceu espantado com minhas afirmações, no entanto:

- “Não! Eles logo mudariam a lei. Não adianta!”

Fiquei pasmo e pensei: “Como é difícil se mudar as coisas”. Enquanto isso Braga fez um desabafo:

- “Olha eu vou pegar  uma semana de férias na praia de Palmas, não quero nem saber, já estou avisando, a semana que vem eu vou para Palmas. Estive lá em cima conversando com o Dirceu ontem. Falei com ele e pedi uma semana de férias e ele disse que não tem problema, só que me deu um conselho: ‘olha Braga toma cuidado. Vem pelo menos uns dois ou três dias aqui despachar. Tu estais assim de amigos por aqui, querem o teu lugar a qualquer preço. Tu estais cheio de amigos entre aspas aqui, tu não imaginas o que eu tenho escutado desses teus amigos, tu não imaginas Braga! Então, vem pelo menos umas duas ou três vezes aqui”.

Não fiquei surpreso e sabia que esses “amigos” a que Dirceu deveria ter se referido eram provavelmente o pessoal que estava bajulando Lúcia Stefanovich, Lourival Matos... e que não gostava de Braga, mesmo porque ele havia dito que Lúcia queria colocar um Investigador no seu lugar. Depois fiz a seguinte observação:

- “O Dirceu realmente te disse isso?”

Braga insistiu:

- “Estou te falando, só que ele pediu reserva!”

Continuei:

- “É, realmente o Dirceu foi uma boa escolha dentro do que tínhamos aí para assumir a Delegacia-Geral, agora é esperar para ver. A partir de agora ele cresceu mais ainda no meu conceito. Olha Braga se ele te disse isso é porque merece crédito”.

Braga concordou que Dirceu cresceu no conceito dele também e lembrou uma nota na coluna do Cacau Menezes (DC) que foi publicada no final da semana passada onde o ex-Delegado Elói Gonçalves de Azevedo mandou uma carta para o governador Luiz Henrique denunciando que Dirceu Silveira não era filiado ao PMDB, que ele serviu ao governo anterior.  Afirmei para Braga que vi a nota, mas não li a carta e ele argumentou:

- “Todo mundo sabe que o Dirceu acabou com a ‘Deic’. Isso todo mundo sabe. Mas Felipe o Dirceu é institucional,  ele é institucional, veste a camisa!”.

Concordei e fiquei contente porque havia remetido no dia anterior para ele um exemplar do meu “Estatuto da Polícia Civil – edição 2001”, coisa que não fiz no governo anterior. Estava preocupado, não sabia se tinha agido corretamente, mas depois do que Braga me relatou fiquei mais tranquilo. Mais tarde fiquei pensando no que Dirceu Silveira havia dito para Braga, não seria uma forma de dominação, de autoafirmação, cooptação...? Enfim, estávamos todos no mesmo barco e tínhamos que dar um voto de confiança, assim como foi dado inicialmente a Lipinski. Por último fiquei lembrando o que o Delegado Natal havia me dito acerca de Dirceu nos últimos contatos, certamente que não dei muito crédito, apesar da nossa amizade, e atribuí tais adjetivações mais as diferenças entre eles, se bem que Natal foi assim com relação a Colatto e depois mudou sua opinião, o mesmo ocorreu com o Delegado Alex... 

Data: 31.01.2003 – “A relação dos novos Delegados Regionais – DRPs”:

“Conselhos - Entre as autoridades e pessoas que acompanharam a posse dos delegados regionais, um grupo viajou de Joinville para a Capital, especialmente, para assistir à cerimônia. Os 25 representantes dos Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs) encararam a jornada como uma vitória. Isso porque o novo delegado regional de Joinville, Marco Aurélio Marcucci, foi um nome indicado pela comunidade. Segundo o presidente do Conseg do Boa Vista, Vicente Rodrigues, todos os 13 conselhos constituídos de Joinville se reuniram para estudar um nome para o cargo. ‘Pela primeira vez a comunidade indica um delegado regional e este é aprovado pelo governo. Após chegarmos ao nome do delegado Marcucci, fizemos um documento que foi assinado por todos os conselhos e diversas entidades representativas’, conta. Polícia Civil - Quem são os legados regionais - 1ª DRP São José - Lourival Mattos;  2ª DRP Joinville - Marco Aurélio Marcucci; 3ª DRP Blumenau - Juraci Darolt; 4ª DRP Itajaí - Werner Koepsel;  5ª DRP Tubarão - Jair José Tartari; 6ª DRP Criciúma - João de Mello;  7ª DRP Rio do Sul - Karla Fernanda Bastos Miguel;  8ª DRP Lages - José Rogério de Castro Filho;  9ª DRP Mafra - Osmar Simplício de Amorim; 10ª DRP Caçador - Luiz Antônio Piazzon; 11ª DRP Joaçaba - Luiz Carlos Gross; 12ª DRP Chapecó - João Roberto de Castro; 13ª DRP São Miguel do Oeste - Lenoir da Rocha;  14ª DRP Concórdia - Luiz Augusto Buchele; 15ª DRP Jaraguá do Sul - Djalma Alcântara da Silva; 16ª DRP Xanxerê - Admir Tadeu de Oliveira;  17ª DRP Brusque - Admir Braz de Sousa; 18ª DRP Laguna - Manoel Silveira Teixeira; 19ª DRP Araranguá - Airton Ferreira; 20ª DRP Ituporanga - Aldo Pinheiro D'Ávila; 21ª DRP São Bento do Sul - Leonísio Lauro Marques; 22ª DRP Canoinhas - Jaime Martins; 23ª DRP Porto União - Getúlio Luiz Scherer; 24ª DRP Curitibanos - Juscelino Carlos Boos; 25ª DRP Videira - Flares José Rosar;  26ª DRP Campos Novos - Edson Antunes Jacques; 27ª DRP São Joaquim - Otávio César Lima; 28ª DRP São Lourenço do Oeste - Olívia Moretto; 29ª DRP Balneário Camboriú - Paulo Roberto Freyslebem Silva”  (A Notícia, 31.1.2003).

“Marcucci - O delegado regional de polícia de Joinville, Marco Aurélio Marcucci, foi prestigiado pelo governador Luiz Henrique ontem na solenidade de posse dos novos secretários. LHS chamou o delegado lá na frente” (A Notícia, Cláudio Prisco, 4.2.2003).