PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 29.01.2003, horário: 15:10 horas:

Estava na “Assistência Jurídica” e recebi a visita do Delegado  Juraci Darolt (meu velho conhecido) que estava no “auditório” ao lado participando da reunião com os  novos Delegados Regionais.  

Enquanto ele se aproximava, pensei: “Báh, está aí a minha vítima (estava passado com o clima de euforia ao lado..)!”.  Obviamente que Darolt deveria estar sendo credenciado para assumir uma Delegacia Regional de Blumenau porque era “peemedebista” ferrenho de carteirinha. Darolt foi perguntando:

- “Desculpe incomodá-lo doutor, mas aquele meu processo de promoção ainda não passou por aqui?”

Respondi que não e quase que satirizando perguntei:

- “O que quê tu andas fazendo por aqui?”

Darolt dava a impressão que pressentiu algo estranho no ar e apenas respondeu:

- “Estou participando de uma reunião bem aqui ao lado”.

Voltei à carga:

- “Não vais me dizer que tu também está nessa reunião aí dos futuros Delegados Regionais?”

Darolt respondeu:

- “Sim, eu fui indicado politicamente para ocupar o cargo de Delegado Regional e nós estamos participando de uma reunião de apresentação. De manhã nos foi orientado para não trazer muita gente para as Ciretrans para que não ocorra aquilo que aconteceu no sul do Estado”.

Eu, curioso perguntei:

- “Mas quem é que está presidindo os trabalhos?”

Darolt respondeu:

- “É o Delegado-Geral e os dois Diretores, o Colatto e o Henrique!”

Ouvindo a reiteração daqueles risos ao lado e o vozeirão que não cessava, lancei minhas primeiras farpas:

- “Mas Darolt como é que esse pessoal pode estar em clima de comemoração sabendo o que estão fazendo com a Polícia Civil? Eu não sei se tu vais aceitar esse cargo, vais? Eu acho que o Delegado que tem um mínimo de dignidade jamais deveria aceitar um cargo comissionado diante do que estão fazendo com a instituição”.

Darolt meio que procurando manter a classe e os ares formais fez a seguinte consideração:

-- “Pois é, a coisa parece que não está boa para nós”.

Continuei:

- “Imagina, estamos perdendo a Corregedoria-Geral, a Academia, a Polícia Técnica, até a Diretoria de Polícia do Interior o Henrique está levando para Curitibanos, a sede é em Lages, que esculhambação!”

Darolt me interrompeu:

- “Pois é, o Henrique colocou isso na reunião que tinha necessidade de continuar residindo em Curitibanos e o Delegado-Geral já foi aceitando os argumentos dele. Ele anotou ali de manhã”.

Fiquei indignado e fiz um desabafo:

- “Olha Darolt como é que nós vamos reclamar, diz o ditado ‘quem muito baixa...’. Essa é a nossa situação, os Delegados não podem reclamar de nada, entra governo e sai governo e eles ficam loucos atrás de cargos comissionados. Nós nunca vamos conseguir mudar isso. Entra uma facção e sai a outra que vai esperar mais quatro anos...  Sinceramente, podem me convidar para ser Secretário de Segurança Pública, Delegado-Geral... nessas condições eu mandava esse pessoal tomar no...! Jamais aceitaria tamanha indignidade que estão fazendo conosco. Os Oficiais conseguiram isonomia com os Delegados. Eles levaram os dois soldos e meio e o que os Delegados conseguiram? Nada! Absolutamente nada! O Mário Martins estava em Brasília enquanto a reforma estava sendo votada aqui em Santa Catarina. O Presidente da Fecapoc/Sintrasp estava não sei onde  e passou tudo lá na Assembleia com Heitor Sché, João Rosa... Olha só que tristeza a nossa condição. Lembro que na época da constituinte de 1989 eu ficava quase que direto na Assembleia Legislativa percorrendo gabinetes de Deputados,  viajando o Estado todo e olha o que esse pessoal fez?”

Darolt interrompeu:

- “Mas o doutor Lourival reclamou na reunião. Na parte da manhã ele pediu a palavra e disse que o que estão fazendo com a Polícia Civil não pode continuar. Ele disse que com esse projeto de reforma a Polícia Civil vai ficar pequenina. Ele disse para o Delegado-Geral que ele vai ser ‘pequeninho’!”

Fiquei surpreso e perguntei:

“O quê, o Lourival disse isso?”

Darolt confirmou e eu continuei meu desabafo agora na presença da Inspetora Myriam que estava prestes a ir embora para Campo Grande/MT:

- “Olha Darolt então eu vou dar um conselho para ti, agora à tarde tu pegas tira a camisa a gravata na reunião e diz que é um protesto contra tudo que estão fazendo contra nós. Diz que tu não concordas com essa reforma e que não aceitas nada, começa você a dar um exemplo para esse bando aí...!”.

Darolt fez uma cara de azedo, deu a impressão que havia perdido um pouco o equilíbrio do corpo, e fez uma reflexão:

- “Mas quem é que está fazendo isso com a gente? Quem são as pessoas que estão fazendo esses projetos?”

Meio aturdido com a pergunta procurei dar uma resposta na lalta:

- “Ora, Darolt, quem está fazendo esses projetos é o grupo de transição. Começa com o Thomé que é o coordenador-Geral. Tem vários Delegados que integram o grupo de transição, compete a eles adotarem uma postura digna...”.

Acabamos lembrando da responsabilidade de Mário Martins, da Fecapoc/Sintrasp em todo aquele processo...  Em seguida Darolt deixou a “Assistência Jurídica” e eu acabei comentando com a Inspetora Myriam:

- “Olha, esse acabou sendo a minha vítima hoje!”

Darolt era uma pessoa discreta e depois que deixou a “Assistência Jurídica” é provável que ficou bastante preocupado, entretanto, dava para perceber que estava completamente seduzido pelo cargo de Delegado Regional de Blumenau, bem provavelmente a exemplo dos demais que também estavam na reunião.

Enquanto isso eu fiquei mais injuriado com aquelas gargalhadas e vozes cheias de “egos” que vinham do lado de lá...

Reforma - Luiz Henrique sanciona - Florianópolis - A nova estrutura administrativa do Executivo será avalizada pelo governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) em cerimônia na Assembléia Legislativa (AL) hoje às 15 horas. Para o ato de sanção da lei aprovada há uma semana pelos deputados estaduais foram convidados os 293 prefeitos catarinenses. Além de todo o seu secretariado, o governo espera contar especialmente com a presença dos titulares dos municípios-sede das 29 Secretarias Regionais de Desenvolvimento criadas pela nova legislação. Até ontem à noite, quando a lei ainda passava por análises nas Secretarias da Casa Civil, Fazenda, Administração e na Procuradoria-Geral do Estado (PGE), Luiz Henrique não pretendia vetar nenhum artigo, apesar de o texto ter sido aprovado com emendas. "Só haverá veto se o artigo implicar em aumento de despesa ou em inconstitucionalidade", advertiu o titular da Casa Civil, Danilo Cunha (PMDB) (...)” (A Notícia, 30.1.2003).

Enquanto isso, os futuros Delegados Regionais que ontem estavam felizes, ansiosos, animados, entusiasmados... vão tomar posse:

“Delegados - Posse coletiva dos 29 delegados regionais de polícia está agendada para hoje, às 10 horas, na Academia de Polícia Civil. À tarde, serão empossados os diretores do sistema penitenciário do Estado” (A Notícia, Moacir Pereira, 30.1.2003).

“Delegados regionais de polícia assumem - A Secretaria da Segurança Pública definiu ontem os 29 novos Delegados Regionais de Polícia (DRPs), que assumem hoje, às 10h, em cerimônia na Academia da Polícia Civil (Acadepol), com a presença do governador Luiz Henrique da Silveira. Os delegados assumem com a missão de descentralizar os serviços administrativos e intensificar o trabalho de prevenção e repressão à criminalidade. Ontem, os titulares se reuniram com o delegado-geral da Polícia Civil, Dirceu Silveira, e com diretores, para definir as primeiras ações após a posse. O encontro discutiu criminalidade, ações integradas com a PM e medidas administrativas. O delegado-geral anunciou que a estrutura da Polícia Civil no Estado deverá ser alterada com a criação da 30ª Delegacia Regional de Polícia de Palhoça. A nova estrutura, proposta pelo governo e aprovada pela Assembléia Legislativa, será oficializada pelo governador durante a assinatura da reforma administrativa. Até o ano passado, a Comarca de Palhoça estava subordinada à 1ª DRP de São José. A DRP de Palhoça atenderá os municípios de Santo Amaro da Imperatriz, Angelina, Paulo Lopes, Alfredo Wagner, Águas Mornas, São Bonifácio e Anitápolis”  (DC, 30.1.2003).