PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 19.02.2003, horário: 11: 00 horas:

Dia 28.01.2003, por volta de nove horas a Delegada Sonêa (esposa do Delegado Neves) veio até a “Assistência Jurídica”  atrás de um livro de frases bonitas para escolher uma para ser colocada na capa de um livro. De imediato e com muita simpatia deu o ar da sua graça:

- “Tudo beleza?”

Respondi:

- “Tudo beleza pura!”

Sonêa acabou rindo e eu também. Sempre tive uma boa impressão daquela pessoa com quem nunca tive muita intimidade. Na verdade havia um grupo que há dias estava se reunindo na “sala de reuniões” (auditório) da Delegacia-Geral, dentre eles, os Delegados Neves, Adriano Luz, Sonêa..., e parecia que estavam prestes a concluir um ‘plano’ na área de segurança pública para o Governo Luiz Henrique... Argumentei que não tínhamos um livro dessa natureza e Sonêa, sempre muito simpática, aparentava estar muito estimulada com a missão.

Aproveitei para fazer um cafezinho enquanto Sonêa procurava algum livro, em seguida, me interrompeu para perguntar:

- “Tu está sozinho aqui?” 

Respondi:

- “Sim. Uma passou no concurso da Justiça Federal e a outra o marido é Major da Aeronáutica e foi transferido para Campo Grande no Mato Grosso”.

Sonêa argumentou:

- “Tem um monte de ‘guria’ lá no Gabinete. Por que tu não pedes uma de lá? Tem um monte de mulher lá sem fazer nada!”

 Argumentei:

- “Não é qualquer uma que tem perfil para trabalhar aqui. Aqui não se ganha nada para trabalhar”.

Sonaê concordou que não seria fácil escolher alguém e eu prossegui:

- “Eu quero ver é como é que vai ficar a situação dos Delegados nessa reforma do Governo. Os Oficiais acabaram ganhando os dois soldos e meio e nós continuamos com nossa isonomia lá no Supremo”.

Sonêa continuou:

- “Os policiais só querem a escala vertical. O João Batista só quer a escala vertical, eles só pensam nisso!”

Interpretei que Sonêa não havia entendido muito bem a extensão do que eu havia acabado de dizer, mas procurei reiterar melhor:

- “O que eu estou dizendo é que nessa reforma acertaram a situação dos Oficiais e nós continuamos na mesma. Eu gostaria de saber o que é que os Delegados vão ganhar com essa reforma. Os Oficiais ganharam a isonomia e não correm risco algum. Os policiais vão acabar ganhando a escala vertical... E os Delegados? Eu acho que está faltando articulação do pessoal aí para o próximo governo. Os Promotores ganharam o auxílio moradia, Juízes, Procuradores, todos tiveram aumento nos últimos quatro anos e nós?”

Sonêa concordou e fez uma revelação:

- “Foi aprovada duas emendas na reforma. Uma delas prevê a desvinculação da Polícia Técnica. A Polícia Técnica agora não vai ser mais da Polícia Civil. Foi uma emenda de um Deputado lá. Dizem que o governador não vai vetar emenda alguma porque quer ficar bem com todos os deputados. O Mário Martins esteve lá e não viu a emenda, quando o Mário soube já tinha sido aprovada. A solução agora é entrar com ADIns”.

Quase que não acreditei e resolvi fazer meu comentário final:

- “É, desse jeito vamos perder também a Academia da Polícia Civil, a Corregedoria-Geral tudo a reboque da Polícia Técnica. Começamos mal este governo, heim?”

Sonêa deu a impressão que concordou com minhas afirmações e logo em seguida deixou a “Assistência Jurídica”.

Na verdade procurei abreviar a nossa conversa porque Sonêa e seu marido estavam trabalhando para o PMDB em busca de espaços e projetos políticos pessoais (leia-se: cargos comissionados, posições...).  Era bem verdade que a responsabilidade pelo comando da Polícia competia ao novo governo, mas não dava para dizer que os acontecimentos atuais tiveram sua gênese no governo passado, no outro “grupo” representado pelo “triunvirato” que aceitou goela abaixo um Perito ser nomeado para o cargo de Diretor de Polícia Técnico-Científica (Celito Cordioli) e um Delegado aposentado para o cargo de Diretor da Acadepol (Artur Sell).

A bem da verdade a impressão agora era que o atual “grupo”  repetia a mesma lógica desenvolvida pelo “triunvirato”, capitaneado pelo Promotor de Justiça Chinato: manter-se a qualquer custo nos seus cargos comissionados e procurar atuar dentro dos interesses da ordem política vigente, não navegando em águas revoltosas, evitando incidentes, apagando possíveis elementos contrários a seus interesses... e apostando no fator tempo, especialmente, que passasse com a maior brevidade possível, não para eles, mas para os pobres mortais. 

Horário: 10:10 horas:

Estava indo ao Banco do Besc e encontrei o Delegado  Braga quase em frente ao “Conjunto Comercial Ceisa Center”. Fiquei contente por encontrá-lo, especialmente depois da conversa com a Delegada Sonêa. Começamos a conversar e Braga não teve muito o que contar, mas lembrou uma nota publicada no jornal:

- “Os Delegados Regionais já foram escolhidos, vão ser nomeados em solenidade na Acadepol, tá no jornal de hoje, não visses?”

 Confirmei que já sabia e fui direto ao assunto:

- “Tu sabias que foi aprovada uma emenda na Reforma Administrativa que torna a Polícia Técnica independente da Polícia Civil?” 

Braga ficou me olhando sem ação, não sabia o que dizer e eu continuei:

- “Sim, foram aprovadas duas emendas. A Sonêa, a esposa do Neves acabou de me contar. Ela disse que foi uma emenda de um deputado. Os Peritos foram lá e por debaixo dos panos aprovaram a emenda, imagina, com o Celito na direção da Polícia Técnica eles criaram asas. Ela disse que o Governador não vai vetar nada na reforma e que o Luiz Henrique não vai querer ficar mal com os deputados, tu sabes que ele tem interesse em obter maioria na Assembleia Legislativa, além disso tem a eleição para a Presidência e ele quer fazer o próximo presidente”.

Braga interrompeu:

- “Quem foi o deputado que apresentou isso?” 

Pensei um pouco e segurei para não falar o nome de Heitor Sché. Não como o autor da emenda, mas como alguém que estava lá dentro e poderia ter informado,  se posicionado..., enfim, poderia ter feito alguma coisa. Aproveitei para fazer minhas considerações finais:

- “Pois é Braga, desse jeito vamos perder a Academia, a Corregedoria-Geral e vai começar pela Polícia Técnica, que situação a nossa com esse governo do PMDB, que tristeza, armaram o gatilho no governo passado e agora estamos nessa situação”.

Braga interrompeu:

- “E o Mário na hora da votação estava lá em Brasília, sim, ele estava viajando...”.

Procurei reproduzir as palavras da Delegada Sonéa

- “Não, ela disse que o Mário estava lá na Assembleia acompanhando a votação do projeto, mas quando se deu por conta a emenda já estava aprovada”.

Braga corrigiu:

-  “Não, ele estava em Brasília, tu lembras que eu telefonei para ele?”

Confirmei e fiquei me perguntando: “Sim, se era tão imprescindível a ida dele para Brasília justamente naqueles momentos cruciais, onde é que andava o resto da Diretoria da Adpesc? Onde andava o Maurício Noronha?”  Em seguida nos despedimos, e Braga foi avisando que à tarde iria até a “Assistência Jurídica” para conversarmos melhor. No caminho fiquei lembrando dos quatro anos de governo Amin, dos trabalhos dos Peritos, dos espaços que permitiram que tivessem... lembrei daquele meu parecer, da exoneração de meu irmão, do “triunvirato”... e do trabalho competente de Celito que deu asas ao vôo dos Peritos. A bem da verdade, a independência da Polícia Técnica só poderá ocorrer por meio de emenda constitucional, mas de qualquer maneira ficava demonstrado que no governo do PMDB a Polícia Técnica iria  conquistar um espaço ainda maior, mas, jamais, poderíamos esquecer que todo o processo de perdimento começou no governo anterior com Redondo, Lipinski, Rachadel, Moreto que aceitaram pacificamente e ao arrepio da lei aquelas nomeações ilegais...