PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 17.01.2002, horário: 09:40 horas – “O Delegado Ademar Grubba”:

Ademar Grubba (Delegado aposentado e ex-Delegado Regional de Polícia de Jaraguá do Sul) me telefonou. Inicialmente perguntou sobre os precatórios que estavam sendo pagos por meio da “Fecapoc”. Repassei as informações necessárias e ao final da conversa Grubba perguntou:

- “Genovez e aquele livro que tu andavas escrevendo, é sobre a História da Polícia Civil , como é que está isso, já terminasses?” 

Tive que conter meu riso, pensei no meu “Haporema”, no “Triunfo Final” e outras trabalhos, mas Grubba estava tão longe... cheguei a pensar em lhe dizer que o material já estava incorporado ao Estatuto da Polícia Civil – Edição Histórica (ainda não editado). Acabei me contendo e apenas disse:

- “Estou trabalhando nele, espero não decepcionar o amigo”.

Grubba do outro lado conclui dizendo:

- “Puxa...! Estou curioso, me avisa quando sair, quando eu for aí em Florianópolis eu vou te visitar, estou morando em Balneário Camboriú, na rua três mil e seiscentos”. 

Aproveitei para afirmar:

“Ah, sim, na famosa três mil e seiscentos, conheço, é aquela que dá acesso a BR-101”. 

Depois de desligar, comentei com “Jô Guedes”:

- “Está aí uma pessoal com quem tenho prazer de conversar, que pessoa excepcional, perdeu um filho que era o xodó dele, é gente muito boa!” 

 

“Obituário”:

Em seguida, quando retornei do cafezinho “Jô Guedes” disse:

- “Tenho uma notícia triste para lhe dar!”

Fui me aproximando e ela completou a informação:

- “A Anísia morreu!”

Pensei um pouco, ão falei nada, era um mínimo que poderia fazer em sua homenagem.  Anísia Heidemann era Escrivã de Polícia e fez Academia comigo no ano de 1977. Ela atuou muitos anos na  Delegacia da Mulher, também foi Gerente de Recursos Humanos na época da Secretária de Segurança Lúcia Stefanovich, estava muito doente (com um tumor maligno). Em seguida “Jô Guedes” comentou:

-  “Disseram que morreu também a mulher de um Delegado, um Tal de José Henrique”.

Esclareci:

- “Ah, sei, do Henrique, José Henrique da Costa, ele já esteve aqui ‘Jô’, lembra? A mulher dele também estava com um tumor”.

“Jô Guedes” afirmou que não lembrava e guardei para mim as minhas considerações. Olhei o céu azul pela janela ao lado da minha mesa e fiquei pensando naquelas notícias tristes, tudo tão presente, real...

 

Horário: 16:30 horas – “Presos novamente em Delegacias e ninguém soube?”

“Jô Guedes” foi até minha mesa e começou a mexer em alguns Diários Oficiais. Em certo momento ela perguntou:

- “Viu essa lei aqui que trata sobre Cadeias Públicas? Ela  estabelece que os presos agora poderão ficar nas Delegacias?”

Fiquei atônito e pedi que ela olhasse melhor  e me lesse a matéria:

-  “Tá aqui, excepcionalmente, é em caráter excepcional, sabe como é, eles sempre dão um jeitinho, os presos poderão ficar nas Delegacias quando conveniente”. 

Pedi o número da lei e “Jô Guedes” depois de procurar novamente o Diário repassou:

- “É a Lei n. doze mil cento e dezesseis de sete de janeiro de dois mil e dois”. 

“Um Delegado Regional vai levantar uma bandeira?”

Logo em seguida recebi um telefonema do Delegado Regional de Laguna (Anibal) pedindo que o ajudasse numa ação cível pública que estava sendo movida pelo Ministério Público em razão da Cadeia Pública local. Argumentei:

- “E agora tem essa legislação nova, legitimou os presos nas Delegacias, você viu?”

Anibal respondeu que soube da lei e perguntei:

- “Pois é, e ninguém disse nada, aprovaram uma lei dessas, se antes eles já colocavam presos nas Delegacias sem base legal, imagina agora que a lei criou essa excepcionalidade. Fico imaginando: ‘como é que a cúpula da Polícia Civil foi deixar aprovar uma coisa dessas? Por que o Conselho Superior da Polícia Civil não deliberou sobre assunto? Onde andam os Delegados Regionais’, e a nossa Adpesc?’ Olha Anibal eu acho que numa das próximas reuniões dos Delegados Regionais tu deves levantar essa preocupação!”

Anibal argumentou:

- “Pode deixar, vou virar a mesa ou então eu jogo a chave disso aqui no mar”.

Fiquei meio surpreso com a sua resposta e disse:

- “Seria bom tu conversares com o doutor Edelson, ele é o Consultor Jurídico da Secretaria, vais precisar de advogado para te defender”.

Anibal  argumentou:

- “Era só o que me faltava, pego a chave disso daqui e jogo no mar, era só o que me faltava, eles querem é interditar a Cadeia Pública”.

Sim, eu sabia que era isso, mas também era preciso colocar uma pilha no Delegado Regional Anibal, era preciso criar resistência, fazer o pessoal pensar um pouco, pois era impensável saber que iriam se encontrar para discutir coisas tão pequenas maquiadas por um discurso místico de relevância. No final da conversa me coloquei à disposição de Anibal que disse que já tinha encaminhado um expediente para o Delegado-Geral Lipinski que se comprometeu em ver no que poderia ajudá-lo.

Data: 21.01.2002, horário: 14:30 horas – “Delegado Optemar Rodrigues (Diretor de Comunicação e informações) também não sabia de nada?”

Chegou na minha mesa (“Assistência Jurídica”)  a Comunicação Interna n. 0317 – circular, datada de 15.01.2002, assinada pelo Chefe de Gabinete do Delegado-Geral da Polícia Civil e que dava conhecimento e pedia divulgação acerca do teor da Lei n. 12.116, de 07.01.2002. Pensei: “Sim, é aquela mesma, legitimaram presos nas Delegacias, então era oficial, os policiais civis deverão cuidar de presos, serão coadjuvantes do Sistema Penitenciário.  A cúpula aceitou numa boa, dentro daquela máxima que o Secretário Chinato veste a camisa da Polícia Civil, mas ao “avesso”, como disse outro dia “Jô Guedes”. Acabei pensando no Delegado Optemar (Diretor de Comunicação e Informações) que se diz um peixe fora d’água,   mas também não largava o osso e não pede para sair, também não protestava. Na verdade as coisas vinham prontas de cima, não havia resistência da cúpula o Delegado Mário Martins, Presidente da Adpesc dizia que a culpa não era dele, era dos “Especiais”. Mas o fato é que aceitavam tudo que vinha de cima goela abaixo. Pensei: “será que foi por isso que o Delegado Julio Teixeira desapareceu? Está na Secretaria de Estado dos Transportes como Adjunto, bem quietinho, esperando o tempo passar...

 Também, o Delegado Wanderley Redondo estava na Assembleia Legislativa fazendo o quê? Bom, que estava cuidando dos seus interesses ninguém duvide, mas deixar passar essa lei sem dizer nada eram outros quinhentos... E os nossos Deputados Heitor Sché e João Rosa, o que dizer? Rachadel se enterrou na Corregedoria-Geral e o Delegado-Geral Lipinski fazia às vezes de ‘Xerifão’, talvez fosse tudo o que Secretário Chinato mais quisesse?  O Conselho certamente não sabia de nada e nem iria querer tomar conhecimento.  Celito Cordioli parecia ter se acomodado um pouco,  tudo indicava que iria apostar num novo mandato de Amin no governo...