Parnamirim-Pernambuco
Por Djalmira Sá Almeida | 22/02/2010 | HistóriaMuitas pessoas principalmente as mais jovens, não sabem que a emancipação da cidade deu-se quando ela ainda era Leopoldina, e que foram brigas políticas causadoras da mudança de nome, além de fortes os argumentos de esquecer as injustiças da monarquia e valorizar a cultura indígena, optando por um nome de origem Tupi. Se pensarmos em termos de inclusão social é possível que justiça tenha sido feita, embora ninguém comente sobre os índios cariris que o Tenente Coronel Martinho da Costa Agra ainda encontrou à margem do rio Brígida, de 1830 a 1847, no período de demarcação das terras. Como sendo filho de um bandeirante português, advogado nomeado para delimitar terras e combater índios no sertão da Paraíba, e o próprio Martinho da Costa sendo da Guarda Nacional e com o propósito de proceder as medidas topográficas da região, é possível que a luta contra os indígenas pela posse terra já tivesse cessado à época da instalação da fazenda e, posteriormente da Vila. Logo que o tenente–coronel se instalou na área adquirida, construiu a sede da fazenda que era onde hoje está localizada a casa de Givoneide Cabral e outra casa na fazenda Humaitá, atualmente propriedade de João Pedrina. Outro espaço da época é a casa da Fazenda Belmonte, reduto que até hoje tem presença de descendentes da família de Hermógenes Martiniano da Costa Agra, neto do fundador. Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município de Leopoldina já estava constituído de 2 distritos: Leopoldina e Terra Nova. Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o município ainda aparece constituído de 2 distritos: Leopoldina (sede) e Terra Nova. Muitas brigas políticas ocorreram entre as lideranças desses municípios, com interesse no domínio da região.
A Formação Administrativa de Distrito criado com a denominação de Santana do Saco, pela lei provincial nº 773, de 06-06-1867, subordinado ao município de Cabrobó. Pela lei provincial nº 924, de 25-05-1870, o distrito de Santana do Saco passou a denominar-se Leopoldina. Elevado à categoria de vila com a denominação de Leopoldina, pela lei provincial nº 1464, de 16-06-1879, foi desmembrada de Cabrobó sendo sua Sede instalada em 19-04-1880. A lei municipal nº 3, de 13-03-1896, cria o distrito de Terra Nova o qual é anexado à Leopoldina que foi elevada à condição de cidade com a mesma denominação pela lei estadual nº 991, de 01-07-1909.( Documentos do Município).
Vários impressos e recortes de jornais desse período mostram que Cabrobó, Salgueiro, Bodocó, Granito e Serrinha disputavam a área do município de Leopoldina e contavam com influências políticas de Recife. Era preciso criar municípios novos com a feição do primeiro governo de Getúlio Vargas, através dos governadores, nessa época, o prefeito de Leopoldina era Antonio de Sá Neves, intendente indicado pelo governador do estado. Pelo decreto-lei estadual nº 314, de 27-06-1934, o município de Leopoldina foi extinto, sendo seu território distribuído pelos municípios de Granito, Salgueiro e Serrinha. Em divisões territoriais datadas de 1936 e 1937, Leopoldina ainda figurava uma pequena parte do que era, com esse nome, mas como distrito, no município de Granito - Pe. Pelo decreto estadual nº 92, de 31-03-1938, o município de Granito passou a denominar-se Bodocó e o distrito de Leopoldina passou a aparecer no município Bodocó. Elevado novamente à categoria de município com a denominação de Leopoldina, pelo decreto lei estadual nº 235, de 09-12-1938, desmembrado dos municípios Bodocó e Serrinha, voltou a ser Sede no antigo município de Leopoldina, constituído desta vez por 4 distritos: Leopoldina, Veneza, Icaiçara e Terra Nova. Não aparece nos registros de Terra Nova nem nos de Parnamirim a data de Instalação. O decreto-lei estadual nº 235, de 9 de dezembro de 1938 fixou a divisão para vigorar no qüinqüênio 1939-1943, o distrito de Terra Nova passou a ser município e o município de Leopoldina passou a denominar-se Parnamirim, também reforçado pelo decreto-lei estadual nº 952, de 31-12-1943. Em outro decreto-lei, que fixou a divisão territorial judiciário-administrativa do Estado, vigorante no qüinqüênio 1944-1948 também criou a comarca de Parnamirim, continuando a mesma situação, determinada pela lei estadual nº 1819, de 30 de dezembro de 1953. (Dados extraídos da Internet dia 27 de maio de 2008). A partir daí Leopoldina começou a ser esquecida e seus antigos moradores também. Atualmente, não se encontra na região leopoldinenses e sim parnamirinense ou parnaminioara (formas não usadas) e parnamiriense (forma mais usada).
Em entrevista, o Sr. Geraldo Simões de Almeida, paraibano nascido na cidade de Batalhão, no dia 05 de abril de 1928, conta que chegou a Parnamirim em 1944, morou na casa de seu irmão Severino e de sua cunhada Djanira, na casa da Rua Coronel Jambo, que ficava vizinha do lado esquerdo da antiga casa de Zé Magalhães, no caminho que seguia para Poço da Porta; e, do lado direito era vizinha com Julieh Magalhães. Na época, segundo ele conta, só os mais velhos e colonos ainda chamavam a cidade de Leopoldina, pois era comum, na feira, ouvir-se: “venho toda terça à Leopoldina”.
Geraldo, ainda jovem trabalhou com Severino e Djanira durante cinco anos em Parnamirim e na Fazenda Surubim. Geraldo lembra passagens engraçadas que os mais velhos da época contavam. Diz que a maioria falava de Leopoldina como uma coisa do passado que se queria esquecer e que estava ligada à política anterior dos Sampaio e Alencar. Ao chegar a Parnamirim, ele ouvia boatos sobre Antonio de Sá, pai de Djanira. Segundo conta, o comentário da época era que ‘ Doza ‘ e ‘Beca de Dondon de Bêja eram irmãos de Djanira, por parte de pai. Isto pareceu se confirmar quando Antonio de Sá, antes de morrer, presenteou Dondon e Bêja com uma casa da Rua Coronel Jambo. De suas lembranças destaca a Rua Padre Lima que seguia da casa de Geraldo Aquino até o Posto Caldas, que foi também importante referência para boiadeiros, comerciantes e viajantes da época. Isto porque além da prestação de serviço do posto de gasolina, a família Caldas e a família Freire traziam gado para venda do Piaui e do Ceará.
Diz Geraldo que a família Freire nesta época tinha muito dinheiro e destaque na economia de Parnamirim, tanto em atividades de comércio de gado que traziam do Piauí, quanto na revenda de lotes de terras e grande criatório de rebanhos de modo geral. Narra que Ciço Freire, ainda jovem, na década 20, foi levado pelo bando de lampião por causa de 10 contos de reis. Lembra também da primeira difusora de rádio de Constantino Maranhão que só sabia falar contra Gumercindo Cabral, porque não concordava com a luta pela emancipação política. Ele recorda que as condições na região estavam ruins, em termos de trabalho, por isso ele foi para São Paulo com 21 anos; viajou 17 dias de caminhão de Parnamirim até São Paulo, com uma carta de recomendação de Seu Landim para João Pernambuco em Araraquara. Segundo ele: ’Trabalhei lá em diversas áreas em firmas, depois larguei tudo para trabalhar nos cafezais’. Ainda hoje continua sua vocação migrante: morou em Garça, em São Paulo, mudou com a família para o Paraná, depois se instalou no Paraguai onde reside hoje, mas pretende mudar novamente para Santarém, no estado do Pará.
Djanira de Sá Almeida, que nasceu na região, em 19 de janeiro de 1922, quando ainda era Leopoldina,conforme registro, conta que ajudava seu pai, Antonio de Sá, na Farmácia que ele tinha ao lado da Prefeitura velha, a qual mais tarde foi comprada por Ulisses Menezes e transferida para o outro lado da Rua Padre Lima. Ela afirma que Antonio de Sá era muito namorador e tinha outros filhos além dela, e que legalmente sabe de Nelson de Sá Neves, que teve com Maria da Conceição. Djanira, depois que seu pai morreu, casou com o paraibano de taperoá Severino Simões de Almeida e foi morar na casa grande que era de seu pai, na rua Coronel Jambo, que faz esquina com o antigo caminho do Poço da Porta. Diz ela que seus filhos Reusa, Reuma e Antonio Huyamachita nasceram naquela casa ,e, mais tarde, quando mudou para a fazenda que herdou do seu pai, os outros filhos já nasceram por lá.
No início, quando mudou para a fazenda, ela ficou num casebre conhecido como Casa dos Vaqueiros, (uma moradia feita de taipa, barro batido e trançado com caroá), enquanto estava sendo construída a Casa Nova da Fazenda Surubim. Seus filhos Severino Filho, Abel Huyapuam nasceram já na casa nova, que foi feita por seu marido, Severino. Outros dois, Djalmira e Iran Carlos nasceram em Terra Nova, quando já não pertencia mais a Parnamirim. Os demais, Huyriam, Huyrajá, Reuva e Huynalvarone nasceram no Surubim. O mais novo, Huynalvak, foi o único filho de Djanira que nasceu em Ouricuri. Sobre religião, costumes e a festa de Santana, Djanira conta que desde o tempo de Leopoldina que as coisas acontecem do mesmo jeito: o povo junto com a igreja faz a festa, procissões, novenas, missas, as bandas de pífano, a passeata dos vaqueiros, a festa do Clube. O que muda, diz ela, é que os jovens comandavam todas as festas antes e se queixa: “parece que hoje na igreja e na procissão só se vê velho”. Morando atualmente no Pará, Djanira mudou com os filhos de Parnamirim, primeiramente em 1972, por ocasião dos conflitos no distrito do Barro, o que motivou a mudança da família Sá Almeida para o Paraná. Depois para Itaituba, em virtude de seus filhos terem instalado uma Faculdade nesse município.
Toda a cultura de Parnamirim deve-se às suas personagens ilustres que fizeram e fazem o seu desenvolvimento. Antes de enumerar os nomes importantes vinculados à História de Parnamirim é preciso, mais uma vez, ressaltar o destaque a Martinho da Costa Agra - Tenente Coronel vindo de Catolé do Rocha na Paraíba, descendente de Português, que foi o fundador da Vila de Santana do Saco, responsável pelas primeiras medidas de terras e definição da vila de Santana e dos povoados de Humaitá e Belmonte, antigas fazendas que deram origem à Leopoldina e, que é atualmente, é o município de Parnamirim. Também se deve à Brígida de Alencar a influência religiosa de culto à Senhora Santana e sua participação política para elevação do Povoado do Saco à Vila de Santana e mais tarde à cidade de Leopoldina. De família cearense, Brígida das Virgens de Alencar, nasceu em Cabrobó, era arrendatária da Casa da Torre dos Garcia D’Ávila, tornou-se rica fazendeira e herdeira das terras que antes arrendara. Era sogra de Martinho da Costa Agra, proprietária de grande extensão de terra que ia de Cabrobó a Exú, parte da sesmaria que corresponde às antigas Fazenda Grande, Fazenda do Norte e Fazenda Panela D’água, e que, segundo consta em cartório de Cabrobó, deixou em testamento o lote de terra da Vila de Santana, depois Leopoldina (atual Parnamirim ) para a sua filha Josefa Maria do Carmo, esposa de Martinho da Costa Agra. Também deixou as terras que hoje pertencem ao município de Ouricuri para outros herdeiros, sendo na época tutoradas por Bernardino Maranhão, juiz de Direito daquela Comarca. O casal Martinho e Josefa, teve onze filhos: José, Joaquim, Martiniano, Ernesto, Mª Florinda, Inocência, Geracinda, Joaquina, Balbina, Hermínia e Ana.
Em 1851, veio a Vila de Santana, para tratar dos negócios da terra, um juiz de Direito de Salgueiro, Miguel Gonçalves Lima. Com a morte de Martinho, Josefa nomeou seu outro genro Lino da Costa Araújo para resolver os problemas relacionados ao inventário da família. Ocorreram vários casamentos envolvendo herdeiros dos fundadores do lugar. Hermínia, filha de Martinho, casou-se com o juiz de Direito, Miguel Gonçalves Lima, de Salgueiro. Quando Leopoldina virou Comarca, o primeiro Juiz de Direito ficou sendo Bernardino Maranhão e o primeiro Vigário Manuel Simplício do Sacramento, ambos amigos antigos da família Agra. Com a criação das comunas (cidades imperiais), em 1880, foram nomeados os primeiros vereadores de Leopoldina: José Joaquim Amando Agra, Martiniano da Costa Agra, Eufrásio Araújo Costa Filho, Cipriano Rodrigues da Silva, João de Araújo Costa, Ângelo Ernesto da Costa Agra e João Cardoso Miranda. Ao contrário dos dias de hoje, para ser vereador naquela época tinha que ser grande proprietário de terras, ser influente na região e ter domínio sobre os moradores, ou seja, vereador não ganhava da coroa, e sim, pagava para administrar, pois com isso ganhava prestígio.
Em 1918, veio de Recife para Leopoldina a primeira professora estadual formada, Dona Leonídia, sendo inaugurada a primeira sala de aula, ao lado da antiga prefeitura. Da cidade mesmo, da área da educação não pode ser esquecido o nome de Francina Agra, neta de Martinho da Costa Agra, irmão de seu Hermógenes Agra, uma professora leiga que dava aulas em Leopoldina, no período de 1930 a 1934, na gestão do prefeito Antonio de Sá Neves. Essa professora alfabetizou a maioria das lideranças que criaram Parnamirim, cuja escola era na casa do próprio Antonio de Sá, imóvel que mais tarde foi da professora Ismênia Miranda. Santa de Neci, uma descendente de Martinho da Costa Agra, conta que ela e Djanira levavam os banquinhos de casa para sentar na escola, às vezes não conseguiam passer de lição, aliás se passava-se de livro e não de ano e assim tinham que esperar até que todos mudassem de lição. Djanira e Santa são de Parnamirim, amigas desde a infância, estudaram juntas na escola de Francina Agra, passaram sua juventude nessa cidade e têm três filhos casados entre as suas famílias: Reuma e Rubens (Deba); Maria do Socorro e Osvaldo (Benga); Marinês e Huyrajá (Jája).