PARE NO P DE PROJETOS E SIGA EM FRENTE!

Maria Eunice Gennari Silva

 

Interessei-me pela pedagogia de projetos enquanto observava e refletia a respeito de temas que despertavam, em mim, o desejo de pesquisar para aprender mais e ensinar melhor na escola. Ensinar o melhor no sentido do aluno ser despertado para uma aprendizagem que acontece no processo de sua construção.

A pedagogia de projetos tem um olhar voltado para a organização do currículo, de forma que o aluno seja instigado a investigar a relação entre áreas de vários conhecimentos. Uma investigação que provoca compartilhamento durante a busca de boas ideias que oferecem alternativas para soluções de problemas.

Como trabalhar com projetos é uma prática dinâmica e pedagogicamente significativa, o aluno torna-se ativo e interconectado no processo da aprendizagem. Assim, a construção de projetos passa a ser inserida, naturalmente, tanto na vida do profissional da educação e do aluno, como forma de planejamento e organização, dentro e fora da escola. São os propósitos didáticos articulados aos propósitos sociais que, posteriormente, serão participados na comunidade, através do resultado de cada projeto.

Introduzir a pedagogia de projetos na educação faz surgir uma escola inovadora, onde dúvidas serão esclarecidas em debates que provocam reflexões. O aprendizado, nesta dinâmica, acontece com e na prática, portanto, não se faz necessário esperar para fazer acontecer. Basta efetivar uma transformação na escola, por meio de uma nova arquitetura, na qual seu sistema educativo estará alicerçado no objetivo de se tornar em espaço eficaz e produtivo. Lembrando que esta estrutura, primeiramente, passa por edificar as necessidades do aluno em relação às suas habilidades e competências - muita leitura e pesquisa. E, em cada projeto pensado e construído com o aluno na escola, é sem dúvida uma contribuição para sua formação profissional.

Parar no P de Projetos exige, também, uma liderança educadora que tenha, como princípio, identidade colaborativa e mediadora definida na capacidade de comunicar e inspirar pessoas. Ou seja, o aluno, com certeza, se sentirá à vontade na companhia deste educador, porque ele o perceberá como parte desta liderança que, continuamente, aprende e ensina. Mais do que isso, todos caminham aperfeiçoando para multiplicar ideias, porque são livres no exercício das atividades propostas.

A importância desta liderança educadora, colaborando e mediando o desenvolvimento de um projeto, junto aos alunos, pede a presença de um profissional simples e educado. Porque trabalhar com quem sabe como despertar e conduzir as habilidades de todos, cria um ambiente de bons relacionamentos, formando e consolidando, assim, uma equipe saudável. Esta condução é a principal visibilidade de um projeto em desenvolvimento – tijolo sobre tijolo.  

Como os projetos proporcionam autonomia aos alunos, é preciso que haja liberdade para que eles explorem seus potenciais e habilidades, seguindo o seu próprio ritmo. No entanto, é preciso ressaltar a importância de investir nas habilidades não cognitivas, tais como a imaginação criativa, o facilidade de relacionar-se, de buscar e encontrar soluções para desafios. São habilidades que, quando compartilhadas, possibilitam a aprendizagem de todos em um ambiente favorável para o saber.

É por isto que pensar um projeto e perceber a necessidade das pessoas se envolverem com ele, o melhor caminho é convidando-as a fazer parte do processo de construção. É permitindo que elas aprendam que todo projeto tem começo, meio e fim. Entretanto, no começo, no meio e/ou no fim, é preciso a liberdade de recriar para inovar, porque nesta aprendizagem se estimula novos projetos, novas construções.

Certa vez, fui inspirada por uma ideia de desenvolver um projeto intitulado, “Dançando com a Literatura”, em uma escola municipal do Ensino Fundamental I e II, da minha cidade.

O objetivo era trabalhar, com os alunos de cada sala de aula, literaturas específicas integradas a vários estilos de músicas - clássica, folk, rock, MPB, gospel, samba, sucessos do cinema e outros. Após a leitura, reflexão e compreensão do livro trabalhado com os alunos de cada sala, eles aprendiam uma coreografia, com danças de roda, que representava a síntese da história de cada livro.

Para finalizar o projeto, as coreografias foram apresentadas em uma grande festa de final de ano letivo, com a participação de todos os presentes, na dança de roda que encerrava o evento. Era o projeto abrindo espaço para que novas ideias motivassem a continuidade no próximo ano letivo.

Desde o início, estava consciente das dificuldades que enfrentaria, principalmente, quanto à adesão de outros profissionais da escola, pois, em algum momento, precisaria de todos. Primeiro, porque se tratava de uma ideia inédita naquela escola, até então, e tudo que é novo... assusta. Segundo, porque o projeto era ousado em relação ao espaço e o tempo fora do que se rotula como convencional no currículo escolar.  E, terceiro, porque ele precisava de um esforço além do que normalmente o professor considera como suas atribuições.

Decidi, então, que o melhor caminho era mostrar as possibilidades do projeto e deixar que o tempo e os fatos, no espaço, se encarregassem de mostrar o que eu estava propondo. Crendo nesta possibilidade, o surgimento dos adeptos à ideia foi acontecendo na medida em que revelava a sua eficácia.

Na descrição da justificativa, inseri uma tabela com os dias da semana e a hora/aula, para que cada professor escolhesse apenas uma vez na semana, estar comigo e com os alunos na biblioteca, desenvolvendo o projeto. Coloquei a tabela fixada na Sala de Professores e, rapidamente, ela foi preenchida.

Nesta visão e perspectiva, eu chegava mais cedo, passava pano molhado no piso da biblioteca, após encostar cadeiras e mesas junto a parede da sala, para ganhar tempo e para que os alunos encontrassem o espeço arrumado. Assim que eles chegavam, tiravam os sapatos no corredor ao lado da porta e assentavam no chão. Em seguida, deitados e de olhos fechados, escutavam uma música, enquanto eu contava algum fato histórico relacionado à ela. Falava do compositor e/ou do cantor, dos instrumentos, da melodia ou, ainda, sobre curiosidades relevantes e significativas.

Posteriormente, o livro escolhido e relacionado com a música era trabalhado sob diversas formas – contação de histórias, teatro improvisado, releitura do texto, interpretação escrita ou corporal, desenhos no papel, construção de outro livro em grupos, painel coletivo da história (desenhado e/ou pintado) e outras tantas alternativas que eram sugeridas, na maioria das vezes, pelos próprios alunos.

No final do ano, o resultado de cada uma destas atividades foi apresentado em coreografias com danças de roda. 

 A escola, como um todo, via este trabalho de segunda à sexta-feira até que, gradativamente, surgiram parceiros que acreditaram no projeto. Mas, a observação sobre cada detalhe estava diretamente relacionada com o que acontecia lá dentro da biblioteca. Como havia um bom resultado aos olhos dos demais e atendendo o objetivo maior que era o aluno, a ideia foi além do ver, mas acompanhada. Ela conquistada e o projeto pode prosseguir.

Observe que mesmo sem contar com a participação dos professores, para iniciar o desenvolvimento do projeto, ele foi, insistentemente, compartilhado. Em seguida, a adesão aconteceu muito mais pela criatividade e originalidade da ideia, do que pelo interesse de se envolver na execução de um projeto.

Esta reação demonstrou a distância da escola entre as teorias que propõem boas idéias e a vontade de “desacomodar” da mesmice. Era a oportunidade de fazer acontecer e proporcionar, aos alunos, o prazer de ler, aprender, refletir, brincar e construir. O projeto oferecia o desfrutar da aprendizagem de como ser alegre, mesmo diante das muitas adversidades que cada aluno traz na sua bagagem. Além do mais, de formar uma equipe, permanentemente, grata por conhecer e aprender com um profissional que relaciona-se com ela, mostrando caminhos a serem percorridos pela vida.

Finalmente, o que ficou desta experiência na minha vida?

A compreensão de que o projeto maior é o de aprender sempre e aperfeiçoar o que se aprende, lendo, estudando, escrevendo, refletindo e compartilhando...

O que esta experiência confirmou?

Que é preciso, primeiro, aprender a conhecer o projeto de Deus, para a nossa vida, porque ele é eterno.

Aprender onde queremos chegar para realizar este projeto eterno que Ele coloca no nosso coração. Aprender na certeza de que cada um deles só termina quando o objetivo de Deus está alinhado ao nosso. E, novamente, parar no P de Projetos e seguir em frente.