Paralelo entre " O Auto da Barca do Inferno" e " Auto da Compadecida"
Publicado em 22 de novembro de 2012 por Orlando Rocha Machado
Paralelo entre “O Auto da Barca do Inferno” e “Auto da Compadecida”
Orlando Rocha MachADO (UFC)
Os dois autos em questão fazem críticas e denúncias contra a sociedade hipócrita e corrupta, através da inversão de valores religiosos e morais, com o objetivo de conscientizar o povo por meio do riso a um comportamento inverso, para o bem da sociedade. Vale ressaltar que, habilmente, os autores destes gêneros ficam isentos de qualquer responsabilidade perante os ofendidos ou desmoralizados.
Gil Vicente e Ariano Suassuna exploram os defeitos ocultos dos padres e patrões. No Auto da Barca do Inferno peça teatral encenada na Idade Média, brilhantemente elaborada por Gil Vicente na qual a figura do frade é contestada, como também acrescentaria à do patrão no contemporâneo Auto da Compadecida de Ariano Suassuna, através de estrofes compostas de versos heptassílabos ou redondilhas maiores com linguagens populares, típicas do gênero “Auto” evidenciadas nas estrofes respectivas abaixo, citadas no artigo“.A sátira social através do teatro: o gênero “Auto” e sua relação sociocultural” de Franklin Costa da Silva:
(...)
Tornou a tomar a moça pela mão, dizendo:
Frade - vamos à barca da Glória!
Começou o Frade a fazer o tordião e foram dançando até o batel do Anjo
Desta maneira:
Frade – Ta-ra-ra-rai-rã; ta-ri-ri-ri-rã;
rai-rai-rã; ta-ri-ri-rã; ta-ri-ri-rã,
Huhá!
Deo Gratias! Há lugar cá
para minha reverenda?
E a senhora Florença
Polo meu entrará lá!
(...)
João Grilo
O que eu vou pedir é coisa muito mais fácil do que cumprir os
Mandamentos.
Padre
Diga então o que é!
João Grilo
O cachorro de meu patão está muito mal e eu queri que o senhor benzesse
O bichnho.
Padre
De novo? Mais é possível?
João Grilo
Mais do que possível. O senhor não i benzer o do major Antônio Morais?
Padre
E de que é que você está falando?
João Grilo
Do meu patrão.
(...)
Nas duas estrofes acima evidencia-se semelhanças formais e conteudísticas, respectivamente, com expressões típicas das referidas épocas e enfoque maior na temática religiosa.
Referências:
Lira, Franklin Costa de. “A sátira social através do teatro: o gênero “Auto” e sua relação sociocultural”. Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/3087237 Consulta em 10 de abril de 2012.