Para uma filosofia da educação infantil (2) - a educação no universo escolar

O processo educativo, sem a menor dúvida, inicia onde começa a vida da pessoa: a família. São os pais que plantam os primeiros valores, e com isso dão início ao processo educacional da criança. Nenhum órgão ou poder público – ou privado – se sobrepõe ao poder educacional da família. A família é chamada de “célula mãe” da sociedade justamente porque é nesse ambiente que se fundam as bases da sociedade na medida em que ela transmite valores iniciando a formação do caráter da pessoa.

Entretanto, como a criança não vive isolada e nem as famílias se isolam, cabe também à sociedade uma participação no processo educacional das crianças. Essa colaboração da sociedade ocorre nas relações interpessoais ou seja, na convivência das crianças com outras crianças e com os adultos. Esse processo interativo com a sociedade ajuda a criança a solidificar os valores básicos oriundos da família e a ampliar os valores norteadores da sociedade em que ela.

Como um dos ambientes em que a criança e o jovem se insere está aquilo que chamamos de ambiente escolar que se materializa nas instituições de ensino.

Sendo assim, e em resposta à indagação sobre o papel e função da escola, poderíamos dizer que é duplo: em primeiro lugar e de forma inequívoca, a escola existe para o ensino; por ser um ambiente de ensino, também contribui no processo de reforço e solidificação dos princípios e valores da sociedade onde está inserida. Mas sem abrir mão de sua função essencial que é o ensino. Uma escola que não ensina, perde o sentido de sua existência.

Caso a escola deixe de cumprir com esse papel estará descumprindo com sua finalidade essencial e também expressa na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394-96). A LDB, em seu primeiro artigo, define a abrangência da educação: inicia na família e se prolonga pela ação da instituição escolar. E no primeiro parágrafo, afirma categoricamente que a educação escolar ocorre “por meio do ensino”.

A lei maior de nosso sistema escolar, a LDB, nos informa que o processo educacional é amplo e envolve a vida familiar, a sociedade, os movimentos sociais e culturais e as instituições de ensino. Quer dizer, o ambiente escolar também é um espaço em que se desenvolve o processo educativo e a educação também ocorre na escola. Entretanto, e isso tem que ficar bem claro: quando lemos com atenção o texto da lei perceberemos que finalidade da educação escolar não é a formação do caráter, visto ser esta uma atribuição da família, mas o ensino.

Podemos fazer a correlação de espaços educacionais: a formação do caráter, o qual tem a ver com os comportamentos morais, desenvolve-se na instituição familiar; a formação e ampliação dos conhecimentos desenvolve-se na instituição escolar. Portanto, família e escola são instituições distintas desenvolvendo aspectos distintos do mesmo processo educacional.

E aqui se manifesta uma exigência: é necessário que a família desenvolva bem sua atribuição educativa para que a escola possa cumprir seu papel de forma competente. Sendo assim, querer que a escola responda pela formação do caráter, é não entender o papel da escola ao mesmo tempo que negligenciar o papel da família. Ambas as instituições podem se complementar, interagir e colaborar, mas uma não pode usurpar ou se apropriar da competência da outra sob pena de atropelar o processo ou desvirtuar o significado do processo.

Se é verdade que escola e família podem colaborar, entre si, ampliando o processo educacional: a escola, por exemplo, reforçando aspectos dos valores propostos pela família; ou os pais acompanhando as tarefas dos filhos, tirando dúvidas ou incentivando-os a estudar em casa.

Por outro lado, é inadmissível que uma instituição deixe de cumprir seu papel, esperando que a outra o faça. Por isso é inconcebível a fala de um dos pais nestes termos: “espero que vocês consigam dar um jeito em meu filho, pois já não sei mais o que fazer”

Podemos complementar a afirmação, dizendo: a educação escolar depende da educação familiar para cumprir eficiente e eficazmente seu papel de formação intelectual. Mas a escola também pode orientar o estudante a se tornar um filho melhor.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura- RO