Para a segurança das empresas, a convergência é uma nova prática ou apenas um modismo?

“ASIS International identifies security “convergence” as a trend affecting global enterprises. ASIS International defines convergence as, “the identification of security risks and interdependencies between business functions and processes within the enterprise and the development of managed business process solutions to address those risks and interdependencies.” — ASIS International

O ato terrorista de 11 de Setembro em Nova York/USA ensinou que em eventos semelhantes, para preservar vidas humanas e garantir que empresas simplesmente não desapareçam, é necessário que todos os agentes internos envolvidas com a segurança, e que todas as entidades externas, públicas e privadas a serem acionadas, funcionem coordenadamente – e mais, que a Segurança das Empresas seja repensada.

Esse repensar, juntamente com as novas práticas estabelecidas pela Governança Corporativa, conduziu ao conceito da convergência, o qual demandou uma nova visão para as práticas da segurança empresarial. A missão da Segurança Empresarial passou a ser mais abrangente. Antes focada especificamente no patrimônio físico, evoluiu para a “a preservação de vidas e da continuidade do negócio”. Conforme preconiza a Governança Corporativa, a perenidade da empresa passou a ser uma das principais metas. Para tanto, o patrimônio humano, o físico e o do conhecimento (informações e dados) passaram a ser o foco. Daí a convergência da Segurança Patrimonial, da Segurança do Trabalho e da Segurança da Tecnologia da Informação e Comunicação e de outras áreas como Engenharia Civil, Elétrica, Mecânica, Meio Ambiente e outras que pertinentes. Este novo conceito não estabelece a centralização destas funções numa única unidade organizacional – a chave está na coordenação e no entendimento mútuo. Para isso é conveniente que se constitua uma entidade interna com a responsabilidade de estabelecer esse entendimento e uma coordenação para as ações e das tarefas dispersas e desarticuladas, promovendo o planejamento e ações integradas.

Destas responsabilidades, a mais complexa é a da promoção do entendimento mútuo. Isso significa que os diversos atores, ou seja, os gestores de cada uma das áreas envolvidas (Segurança Patrimonial, do Trabalho e da Tecnologia da Informação e Comunicação), devem entender e compreender seus respectivos papeis e funções, suas missões e objetivos, e as metodologias ou tecnologias envolvidas. Há que se vencer resistências culturais e de defesas. A resistência cultural somente é contornada com ações de longo prazo, num trabalho paciente e pertinaz de conscientização dos envolvidos. A resistência como defesa decai na medida em que a resistência cultural é minimizada.

Em empresas de pequeno porte, a convergência é quase uma decorrência natural da necessidade do gestor da segurança (se existir) ou de um funcionário com esta responsabilidade, de, por delegação concentrar, as funções e responsabilidades da segurança patrimonial, da segurança do trabalho, da prevenção e combate a incêndio, dos planos de emergência, entre eventuais outras. A experiência indica que existem casos de sucesso em que, apesar da carência de recursos, empresas dispõem de um serviço de segurança eficiente, eficaz e bem organizado administrativa e operacionalmente. O contrário, obviamente também é verdadeiro.

Empresas de médio para grande porte espontaneamente estruturam a Segurança Empresarial como unidades organizacionais especializadas (uma unidade organizacional é representada por uma caixa nos desenhos dos organogramas), muitas vezes se reportando a supervisores diferentes, às vezes de áreas diversas. Os problemas típicos deste arranjo organizacional são:

  1. Pouca ou nenhuma:
  • Comunicação formal ou informal entre as partes;
  • Documentação relativa aos procedimentos para disciplinar a ação quando da ocorrência de eventos danosos;
  • Coordenação quando é necessária a ação conjunta das diversas unidades, como por exemplo, quando ocorre um incêndio em que os vigilantes devam trabalhar coordenadamente com as brigadas de incêndio, com as equipes de socorristas e com os bombeiros da cidade – ninguém sabe exatamente qual papel cumprir;
  1. Jogo de poder entre as unidades cada uma funcionando e competindo entre si como feudos estanques;
  2. Ciumeira e fofoca entre as chefias das diversas unidades;
  3. Subtrair, esconder ou escamotear fatos e situações que possam prejudicar ou macular a imagem de qualquer dos atores acima mencionados.

Todos estes fatores funcionam em detrimento da segurança da empresa, da preservação de vidas humanas, e, da continuidade dos negócios, sendo que a primeira deveria ser o principal foco da Segurança Empresarial.

Vai daí que a convergência passa a ser uma necessidade para preservar vidas, a continuidade dos negócios e a própria empresa.

O autor, Victor Antonio Izquierdo é Técnico em Segurança do Trabalho, especialista em segurança da informação e em segurança corporativa. É sócio proprietário da ALLSecurity – (47) 3422-7510 / [email protected]