PAPAI NOEL 2009
Publicado em 18 de novembro de 2009 por Romano Dazzi
PAPAI NOEL 2009
De Romano Dazzi
Definitivamente, não gosto de você, Papai Noel.
Já quando criança, de uma maneira confusa, eu sentia alguma restrição a seu respeito; por exemplo, o fato de vir uma só vez por ano.
Puxa, você não faz a mínima idéia de quanto tempo é um ano, para uma criança! Eu começava escrevendo num papel o número um; no dia seguinte, o numero dois, no outro, o três. Nunca consegui chegar a mais que trinta; e ainda teria que esperar outros 330 para que você chegasse.
Ai largava o papel e ia correr no jardim, tentando esquecer essa crueldade que você fazia comigo.
Depois, realmente, apesar de você querer parecer alegre e bonachão, hoje penso que até você desconfia dessa alegria toda; deve ser só uma fachada, uma montagem.
Só a sua barriga é verdadeira, imagino; porque já descobri, logo cedo, que barba, cabelo e sobrancelhas brancas são coladas; e nem sempre com cola boa.
Acho que você é alugado por gente que quer vender mais, que quer parecer o que não é, mostrar o que não sente; e a alegria falsa, é mais triste que a tristeza.
Descobri também que na sua distribuição de presentes, você é pior que o governo: dá um montão de coisas a que já tem demais e regateia com os que têm pouco ou nada.
Os pobres ficam como estão; os ricos, mais ricos ainda.
Não fossem os “tios” que no Natal correm de um lado para o outro, entregando de graça bolas e bonecas baratas e docinhos aos pobres, aos pequenos, aos humildes, por você estes passariam em brancas nuvens e nem saberiam o que é um Natal.
São estes “substitutos”, os verdadeiros Papais Noel – não você.
Aliás, uma outra coisa me aborrece: sei que fazer todo o serviço de entrega numa só noite deve ser difícil, fatigante; mas aos ricos você traz os presentes primeiro; três ou quatro dias, ou uma semana até, antes do Natal: os meninos ricos aparecem com uma bicicleta nova, um carrinho brilhante, um velocípede tinindo, uma barbie sofisticada e luxuosa. E para nós, nada.
Precisamos esperar pacientemente que chegue a noite de Natal, que o cansaço nos vença e só aí, quando os olhos ficam tão pesados que não conseguimos mais mantê-los abertos, você vem, sorrateiro em silêncio e deixa nossos humildes presentinhos na sala – porque de lareiras, em nossos casas, nunca teve nem o cheiro ....um cheiro que seria tão bom.!....
Concordo que esta espera demorada, ansiosa, durante horas que não passam nunca, é confortadora; dá mais valor ao que recebemos, dá mais gosto ao docinho, mais perfume ao panetone.
Mas dá raiva ver os riquinhos passeando e mostrando a todos os seus presentes, enquanto nós temos que esperar que cheguem, às seis horas da manhã do dia de Natal.
Por tudo isso, Papai Noel, eu não gosto de você; preferia a Epifanía, a velha “Befana” dos tempos antigos, que a cada ano trazia apenas uma bola para os meninos e uma boneca para as meninas. E se trouxesse uma bicicleta, seria usada, reformada e demoraria cinco anos antes que chegasse outra.
Enquanto isso, nós espichávamos, esticávamos, crescíamos; e a bicicleta parecia encolher um pouco a cada dia.
E outra coisa, importante. A Befana trazia também sacos de carvão, para lembrar-nos das coisas erradas que tínhamos feito durante o ano . E assim, pelo menos por alguns meses, tentaríamos comportar-nos melhor.
Já viu um Papai Noel, com um saco de carvão ? E já imaginou quantos sacos de carvão merecem as pessoas que nos cercam ?