Panorama Histórico dos Problemas Filosóficos
Publicado em 25 de junho de 2019 por Emanuel Isaque Cordeiro da Silva
HISTORICAL PANORAMA OF PHILOSOPHICAL PROBLEMS
Emanuel Isaque Cordeiro da Silva (1)
Antes de entrar cuidadosamente no estudo de cada filósofo, em suas respectivas ordens cronológicas, é necessário dar um panorama geral sobre eles, permitindo, de relance, a localização deles em tempos históricos e a associação de seus nomes com sua teoria ou tema central.
l. OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS - No sétimo século antes de Jesus Cristo, nasce o primeiro filósofo grego: Tales de Mileto(2). Ele e os seguintes filósofos jônicos (Anaximandro: Ἀναξίμανδρος:(3) 610-546 a.C.) e Anaxímenes: (Άναξιμένης: 586-524 a.C.) tentaram expressar/elucidar o que é a arché, ou constitutivo fundamental do Universo.(4) Também sobressaem as teorias de Pitágoras (Ὁ Πυθαγόρας: 570 a.C.- 495 a.C.), completas de misticismo e Matemática; a de Heráclito (Ἡράκλειτος ὁ Ἐφέσιος: 540-470 a.C.), o filósofo do devir e o de seu oponente, Parmênides (Παρμενίδης: 530-460 a.C.), que elucida a primeira teoria do ser, e para qual é alcunhado como o iniciador da Metafísica.
Anaxágoras (Ἀναξαγόρας: 500 a.C.- 428 a.C.) esboça uma teoria sobre o Nous, o espírito divino. Por outro lado, Demócrito (Δημόκριτος: Grécia: 460-370 a.C.) e Empédocles (Ἐμπεδοκλῆς: 490 a.C.-430 a.C.) insistem no materialismo. Em contrapartida, os sofistas (Parmênides, Cálicles (Καλλικλῆς: personagem platônico cuja existência é duvidosa) e Górgias (Γοργίας: 485 a.C.-380 a.C.)) gozam das suas aptidões à dialética, e colocam o relativismo como uma posição filosófica. Sócrates será o inimigo mais temível dessa posição. Este é o começo do movimento filosófico de Atenas, que culmina nos séculos quinto e quarto, tal qual, posteriormente, veremos.
2. O APOGEU GREGO – Sócrates (Σωκράτης: 469 a.C.-399 a.C.), Platão (Πλάτων: 428/427-348/347 a.C.) e Aristóteles (Ἀριστοτέλης: 384 a.C.-322 a.C.) formam o triunvirato dos grandes filósofos gregos. O primeiro (Sócrates), com seu método "maiêutico" e sua teoria do conceito; o segundo (Platão), com sua teoria das ideias e seu estilo literário (dialogista); e o terceiro (Aristóteles), com a estruturação dos principais ramos filosóficos, como a Lógica, a Metafísica, a Ética, a Psicologia racional e a Política; todos eles elevaram a Filosofia para um posto de primeira ordem.
Doravante, todos os filósofos tornam-se credores das contribuições desses gênios. Em certos autores, é clara a influência de Platão ou de Aristóteles. Sendo que, ambos os filósofos, tiveram influência absoluta de Sócrates, uma vez que Platão fora seu discípulo, e Aristóteles discípulo de Platão. A Idade Média, por exemplo, foi toda ela, em sua gênese e desenvolvimento, alicerçada no pensamento e nas ideias platônicas; tal era histórica é caracterizada pela luta em favor de um ou de outro autor; o platonismo tomou precedência nos primeiros séculos do cristianismo; somente após o décimo século Aristóteles foi redescoberto.
3. A FILOSOFIA CRISTÃ MEDIEVAL - Santo Agostinho (354 a.C.-430 a.C.) se destaca, no quinto século, com sua teoria da iluminação e a aplicação da teoria platônica ao Cristianismo. No século XIII, São Tomás de Aquino (1225-1274), sintetiza Aristóteles com o Cristianismo. Os dois autores formam o núcleo da filosofia cristã em seus respectivos séculos.
A escolástica teve seu tempo de decadência. Se mencionam, principalmente, dois autores: João Duns Escoto (1266-1308) e Guilherme de Ockham (1285-1347). O primeiro é o "Doutor Sutil ", e o segundo cai em um fideísmo e um nominalismo, para todos os conceitos criticáveis. Em uma segunda parte, tentaremos explicar os respectivos pensamentos dos autores mencionados, e outros que pertencem ao mesmo tempo, antigos e medievais. Naquela época, a Filosofia era puramente realista, aplicada ao mundo e ao homem. Somente na Idade Moderna, a Filosofia assumirá o problema do conhecimento como a base e o começo de todo filosofar.
4. A FILOSOFIA RACIONALISTA (MODERNA) - Na Idade Moderna, sobressai o racionalismo de Descartes (1596-1650) prolongado, então, com Malebranche (1638-1715) (ocasionalismo), Espinosa (1632 -1677) (panteísmo) e Leibniz (1646-1716) (teoria das mônadas). Estamos nos séculos XVII e XVIII. A atenção será focada nas disputas filosóficas da corrente empirista contra a racionalista.
5. A FILOSOFIA EMPIRISTA – O empirismo é florescido, principalmente, na Inglaterra. Francis Bacon (1561-1626), primeiro, e depois Locke (1632-1704) com sua rejeição de ideias inatas, Berkeley (1685-1753) com postura e ideias paradoxais, também idealistas e Hume (1711-1776), com suas famosas críticas contra o princípio da causalidade e o conceito de substância, são os principais autores.
6. KANT E OS IDEALISTAS ALEMÃES - Como a tentativa de sintetizar o racionalismo e empirismo, está a teoria de Kant (1724-1804), no século XVIII. Para o seu gênio seguido pelos três idealistas alemães mais importantes: Fichte (1762-1814) (idealismo subjetivo), Schelling (1775-1854) (idealismo objetivo) e Hegel (1770-1831) (idealismo absoluto). Esses Autores representam o ápice da especulação filosófica. A análise, a profundidade, a complexidade da expressão e o espírito sistemático são as características do gênio alemão idealista.
7. OS FILÓSOFOS DO SÉCULO XIX - Antes de tudo, é necessário mencionar, no século dezenove, aos dois grandes críticos de Hegel, que são Kierkegaard (1813-1855) (precursor do existencialismo) e Marx (1818-1883) (com seu materialismo dialético). O próximo é outro casal: Nietzsche (1844-1900) (teoria do Super-homem) e Schopenhauer (1788-1860) (com seu absoluto pessimismo). Comte (1798-1857) com sua doutrina positivista, completará o quadro desses filósofos.
Numa outra oportunidade, vamos desmembrar sobre o pensamento e principais ideias acerca desses autores.
8. OS FILÓSOFOS DO SÉCULO XX - Antes de tudo, há um autor que iluminou a filosofia do século XX: Edmund Husserl (1859-1938), fundador do método fenomenológico. Em seguida, existem dois fluxos que são derivados diretamente de Husserl, a saber, o existencialismo e a axiologia.
Dentro da corrente axiológica, estudaremos Scheler (1874-2928). Por outro lado, o existencialismo tem quatro autores principais; dois são alemães: Heidegger (1889-1976) e Jaspers (1883-1969); e os demais são franceses: Sartre (1905-1980) e Marcel (1889-1973). Heidegger insiste em que seu tema tratado em sua filosofia não é a unicidade do homem, mas o ser em geral. Jaspers é famoso por seu conceito de transcendência (Deus). Sartre é um antiteísta sincero, e seu existencialismo é definido como um pensamento que assume todas as consequências da negação de Deus. Em contraste, Gabriel Marcel é um filósofo Católico, que conseguiu uma análise profunda das situações humanas, que aparecem em íntima concordância com as verdades cristãs. Vamos terminar com Russell (1872-1970), autor básico do positivismo lógico.
Cronologia de filósofos e suas escolas até nossos dias
Filosofia Antiga
- Escola naturalista da Jônia: Tales, Anaximandro e Anaxímenes;
- Escola matemática da Itália: Pitágoras e os pitagóricos;
- Escola idealista de Eléia: Xenófanes (570-475 a.C.), Parmênides, Zenão (490/85-420 a.C.) e Meliso (h.443);
- Escola empirista: Heráclito, Empédocles e Anaxágoras;
- Escola atomista de Abdera: Leucipo (h.437) e Demócrito;
- Escolas de Atenas:
- Sofistas: Protágoras (480-410), Górgias (484-375?);
- Sócrates, Platão e Aristóteles;
- Pirronismo: Pirro (h.365-h.275);
- Estoicismo: Zenão de Cítio (359/33-262) e Crisipo (281/77-208);
- Epicurismo: Epicuro (341-270);
- Nova Academia: Arcesilau (315-241) e Carnéades (214-129);
Romanos: Sêneca (4 a.C.-65 d.C.), Marco Aurélio (121-180) e Cícero (106-43).
- Escola greco-judia: Fílon de Alexandria (25 a.C.-50 d.C.);
- Neoplatonismo: Plotino (204/5-270), Porfirio (h.233-304), Jâmblico (h.250-330) e Proclo (h.411-485).
Filosofia patrística
- Apologistas: São Justino (100/10-165), Ireneu de Lyon (h.140-h.l 77) e Atenágoras (fines s. II);
- Alexandrinos: São Clemente (h.145/50-215) e Orígenes (h.185-255);
- Africanos: Tertuliano (h.160-230), Arnóbio (h.260-h.327) e Lactâncio (nascido h. 250);
- Gregos: São Basílio (h.330-379), São Gregório de Nazianzo (330-390), São Gregório de Níssa (330-390) e Pseudo-Dionísio (h.500);
- Latinos: São Hilário (h.315-367), Santo Ambrósio (333-397) e Santo Agostinho;
- Outros: Claudiano (+h.473), Boécio (480-524), São Isidoro (h.560-633) e Beda (672/3-735).
Filosofia Medieval/Escolástica
- Judeus: Isaac Israeli (+h.940), Salomão Ibn Gabirol (h.l020-p.l058) e Maimônides (1135-1204);
- Árabes: Alquindi (h. 796-874), Al-Farabi (870-950), Avicena (980-1037), Algazali (1058-1111) e Averróis (1126-1198);
- Escola palatina: Alcuíno de Iorque (730/5-804), Rábano Mauro (h.784-856), Escoto Erígena (h.810-h.870) e Papa Silvestre II (+1003);
- Dialéticos: Santo Anselmo (1033/4-1109) e Pedro Abelardo (1079-1142);
- Tradutores: Domingo Gundisalvo (meados s. XII), Gerardo de Cremona (h. 1114-1187);
- Enciclopedistas: Teodorico de Chartres (+1155), Hugo de São Vitor (+1141) e Vicente de Beauvais (+1264);
- Universidades: Guilherme de Auvergne (1180- 1249) e Sigerio de Brabante (+h.l284);
- Dominicanos: São Alberto Magno (1206-1280) e Santo Tomás de Aquino;
- Franciscanos: Alexandre de Hales (1170/80-1245), São Boaventura (1217-1274), Roger Bacon (h.1210/14-1292), João Duns Escoto, Raimundo Lulio (1235-1315) e Guilherme de Ockham (h.1285-1349).
Filosofia Moderna
- Humanistas Renascentistas: Ficino (1433-1499), Erasmo (1467-1536), Maquiavel (1469-1527), Thomas More (1480-1535), Juan Luis Vives (1492-1540) e Giordano Bruno (1548-1600);
- Racionalismo: Descartes, Malebranche, Espinosa e Leibniz;
- Empiristas: Francis Bacon, Thomas Hobbes (1588-1679), Locke, Berkeley e Hume;
- Escola escocesa: Thomas Reid (1710-1796);
- Iluministas: Voltaire (1694-1778), Condillac (1715-1757), Diderot (1713-1784) e J. J. Rousseau (1712-1778).
- Idealismo transcendental: Kant;
- Idealismo subjetivo: Fichte;
- Idealismo objetivo: Schelling;
- Idealismo absoluto: Hegel;
- Pessimismo: Schopenhauer;
- Ecletismo: Cousin (1792-1867);
- Positivismo: A. Comte, J. S. Mill (1806-1873) e H. Spencer (1820-1900);
- Socialismo: H. Saint-Simon (1760-1825), Ch. Fourier (1772-1837) e K. Marx;
- Vitalismo: Nietzsche e W. Dilthey (1833-1912).
Filosofia Contemporânea
- Intucionismo: H. Bergson (1859-1941);
- Pragmatismo: Ch. S. Peirce (1839-1914), W. James (1842-1910) e J. Dewey (1859-1952);
- Fenomenologia: Husserl, Scheler, N. Hartmann (1882-1950) e M. Merleau-Ponty (1908-1961);
- Existencialismo: Jaspers, Heidegger, Marcel e Sartre;
- Atomismo lógico: B. Russell (1872-1970) e L. Wittgenstein (1889-1951);
- Positivismo lógico: M. Schlick (1882-1936), R. Carnap (1891-1970 ) e A. J. Ayer (1910-1990).
- Filosofia analítica: J. L. Austin (1911-1960), G. Ryle (1900-1976), W.V.O. Quine (1908-2000), P. F. Strawson (1919-2003) e H. Putnam (1926-);
- Hermenêutica: H. G. Gadamer (1900-2002), P. Ricoeur (1913-2007) e J. Habermas (1929-).
- Estruturalismo e pós-estruturalismo: F. de Saussure (1857-1913), C. Lévi-Strauss (1908-2009) e M. Foucault (1926-1984).
- Filosofia pós-moderna: J. F. Lyotard (1924-1999), G. Deleuze (1925-1995), J. Derrida (1930-2004), R. Rorty (1931-2007) e G. Vattimo (1936-).
- Comunitaristas: A. Maclntyre (1929-), Ch. Taylor (1931-).
Notas:
(1): Bacharelando em Zootecnia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE (2019-). Tecnólogo em Agropecuária pelo Instituto Federal de Pernambuco Campus Belo Jardim (2016-2018). Normalista (magistério) pela Escola Estadual Frei Cassiano Comacchio (2014-2017). Pesquisador assíduo de assuntos com cunho educacional, filosófico, político e social. Contatos: [email protected] / [email protected] e
WhatsApp: (82)9.8143-8399.
(2): Θαλής ὁ Μιλήσιος (624 a.C./623 a.C. a 546 a.C.) – É considerado o primeiro filósofo da História. Vem da tradição da Escola Jônica, Escola de Mileto e da tradição Naturalista. Seus principais interesses foram a Matemática, Metafísica, Ética e Astronomia. Para Tales, o princípio de tudo provém da unidade chamada água.
(3): Nomes em grego antigo e datas conforme o portal Wikipédia.
(4): ἀρχή – Arché ou arqué, para os pré-socráticos é o elemento constitutivo de todas as coisas do mundo. Começo,
ponto de partida, princípio final, substância subjacente (Matéria), princípio não demonstrável (PETERS, F. E. Greek Philosophical Terms: A Historical Lexicon. New York: New York University Press, 1967. p. 23-24). Diante disso, os primeiros filósofos, ditos, fisiólogos, eram divididos em monistas e pluralistas, conforme a quantidade de elementos que os mesmos consideravam inerentes da constituição do todo. Para Tales, o elemento constitutivo do todo (arché) era a água ou a umidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHAUÍ, M. Iniciação à Filosofia. Vol. Único. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2013. 460 p.
SANTOS, R. dos. Filosofia: Uma breve introdução. 1ª ed. Pelotas: Dissertativo Incipiens, 2014. 108 p.
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