Lucas Berger da Silva1 , Oscar de Sousa 2, Brunno Fonseca 3 , Gilson Roberto de Oliveira4  

Resumo. A pancreatite aguda é uma doença com inúmeras etiologias, grande variabilidade de expressão clínica, imprevisível quanto à evolução e extremamente controvertida em terapêutica, principalmente em sua apresentação mais grave, essas indefinições dificultam o diagnóstico, a terapêutica e pioram o prognostico. Entende-se por pancreatite aguda (P.A.) um processo inflamatório do pâncreas de instalação rápida e que geralmente se manifesta por dor abdominal, vômitos, os eventos iniciadores da pancreatite não são completamente compreendidos, mas os danos das membranas acinares e a ativação intrapancreática do tripsinogênio estão envolvidos. Após ativada a tripsina estimula outras enzimas digestivas, resultando em cascata progressiva de ativação enzimática intrapancreática. Uma vez iniciada, seu progresso depende de fatores como os radicais livres derivados do oxigênio, complemento ativado, sistema de calicreína-cinina, coagulopatia intravascular. Prognóstico reservado, Embora a maioria dos pacientes se recupere, a pancreatite é uma doença de risco de vida, frequentemente com um curso clínico prolongado e imprevisível, por isso justifica-se tal prognóstico passando a ser desfavorável quando o paciente evoluir a choque séptico, coagulação intravascular disseminada (CID), insuficiência renal aguda ou infarto intestinal. O diagnostico se da através de exames de imagem, bioquímicos séricos e avaliação clínica, a depender do curso da doenças, deverem ser acrescentados outros exames laboratoriais. O tratamento de eleição é suportivo, consistindo em repousar o pâncreas, proporcionando uma terapia de suporte e controle de complicações que intermearem a fim de dar tempo para melhora da inflamação pancreática. O objetivo deste trabalho foi de relatar um caso de tratamento aonde paciente reagiu bem ao protocolo adotado, utilizando de diagnósticos e protocolos atuais. Conclui-se, que embora seja uma doença com prognostico reservado, com um manejo suportivo e acompanhando o paciente e mantendo correções e ajustes o tratamento apresenta excelentes resultados.      

PALAVRAS-CHAVE. Pancreatite, terapêutica, pancreática, lipase pancreática específica, calilcreína-cinica.  

ABSTRACT. Silva, L. B.; Souse, O.; Paulo, C. M; Custodio, B. H. C.  [Acute Pancreatitis in a Dog: case report.] Pancreatite Aguda em cão: Relato de caso. Revista Brasileira de Medicina Veterinária 00(0):00-00, 2000. Clínica Veterinária Clínica Veterinária Mestre Vet, Rua Alfredo Pujol, 1445, Bairro Santana, São Paulo, SP 02017-012, Brasil. E-mail: [email protected]

Acute pancreatitis is a disease with innumerable etiologies, great variability in clinical expression, unpredictable in terms of evolution and extremely controversial in therapy, especially in its most severe presentation, these vagueness make diagnosis, therapy and prognosis worse. Acute pancreatitis (AP) is understood to be an inflammatory process of the pancreas of rapid onset and which usually manifests itself in abdominal pain, vomiting, pancreatitis initiating events are not completely understood, but damage to acinar membranes and intrapancreatic activation of trypsinogen are involved. After activated trypsin stimulates other digestive enzymes, resulting in a progressive cascade of intrapancreatic enzymatic activation. Once started, its progress depends on factors such as free radicals derived from oxygen, activated complement, kallikrein-kinin system, intravascular coagulopathy. Reserved prognosis, although most patients recover, pancreatitis is a life-threatening disease, often with a prolonged and unpredictable clinical course, so this prognosis is justified, becoming unfavorable when the patient progresses to septic shock, coagulation disseminated intravascular (CID), acute renal failure or intestinal infarction. The diagnosis is made through imaging tests, serum biochemicals and clinical evaluation, depending on the course of the disease, other laboratory tests should be added. The treatment of choice is supportive, consisting of resting the pancreas, providing supportive therapy and controlling complications that intermediate in order to allow time for improvement of pancreatic inflammation. The aim of this study was to report a case of treatment where the patient reacted well to the adopted protocol. We conclude that although it is a disease with a poor prognosis, with supportive management and following the patient and maintaining corrections and adjustments, the treatment shows excellent results.

KEY WORDS. Pancreatitis, therapy, pancreatic, specific pancreatic lipase, calylcrein-kinetics

 

 

1 Médico veterinário, Especialista, Mestre CRMV 15.533 Autônomo, Atua em Clínica, Cirurgia e em Gastroenterologia de pequenos animais, Clínica Veterinária Mestre Vet, Rua Alfredo Pujol, 1445, Bairro Santana, São Paulo, SP 02017-012, Brasil. E-mail: [email protected].

2 Médico veterinário, Especialista. CRMV 4.998 Autônomo, Atua em Clínica de pequenos animais, Clínica Veterinária Mestre Vet, Rua Alfredo Pujol, 1445, Bairro Santana, São Paulo, SP 02017-012, Brasil.

3 Médico veterinário. CRMV 50.106 Autônomo, Atua em clínica de pequenos animais e imaginologia, Clínica Veterinária Mestre Vet, Rua Alfredo Pujol, 1445, Bairro Santana, São Paulo, SP 02017-012, Brasil

4 Médico veterinário. CRMV 50.515 Autônomo, Atua em Clínica de pequenos animais, Clínica Veterinária Mestre Vet, Rua Alfredo Pujol, 1445, Bairro Santana, São Paulo, SP 02017-012, Brasil.

 

INTRODUÇÃO

             O pâncreas é uma glândula que faz parte tanto do sistema digestivo quanto do sistema endócrino, é considerado tanto exócrino quanto endócrino (Bunch 2006), tendo por principal função secretar enzimas e substancias que auxiliam na absorção de nutrientes, vitaminas e minerais da alimentação e hormônios como a insulina e o glucagon que regularizam o metabolismo (Ettinger & Feldman 2009). A produção errada dessas enzimas digestivas ativadas, provocam lesões teciduais no órgão, levando-o a inflamação este fenômeno chamamos de pancreatite, que no caso dos cães na grande maioria das vezes não esta associado a presença de bactérias (Mansfield 2003; Silva 2018; Simpson 2003; Willians 2005). Sendo a principal afecção exócrina desse órgão, acredita-se que essa doença seja subdiagnosticada, estimando que 92% dos casos de pancreatite, fiquem sem diagnóstico, não existem dados concretos que apontem a incidência ou a prevalência dessa afecção (Bunch 2006; Tilley & Smith 2008).

            Uma doença de caráter súbito, sendo a forma aguda a mais comum no cão, doença traiçoeira, se não estabelecida certeira e rápida terapêutica, (Birchard & Sherding 2008), complicam e evoluem rapidamente a arritmias cardíacas, coagulação intravascular disseminada (CID), choque, sepse, falência renal, e peritonite (Mansfield 2003), instaladas essas complicações e sem o ideal suporte, o paciente vai evoluir a óbito (Silva 2018), já a forma a crônica é incomum em cães e possui caráter inflamatório, com alterações irreversíveis (Willians 2003).

           Doença de difícil diagnostico clinico, por não possuir sinais patognomônicos específicos, apresentando muitas vezes variados sintomas, por isso exames complementares devem ser solicitados a fim de melhor diagnostico (Ruaux 2003), exames como hemograma, de imagem, bioquímico sérico de lipase e amilase ajudam a direcionar o diagnóstico, porém para se ter um diagnostico conclusivo, deve se utilizar além dos citados o bioquímico sérico de lipase pancreática especifica ou o a biopsia pancreática (Nelson & Couto 2006).

            O prognóstico é variável, pois depende do estado clinico do paciente, e sua resposta frente a terapêutica dotada (Birchard & Sherding 2008).   

O objetivo do presente estudo, foi de relatar um caso onde o tratamento e a conduta clinica, mostrou-se excelente resultado terapêutico.

 

RELATO DE CASO

Foi atendido na clínica veterinária Mestre Vet, na zona norte de São Paulo, no bairro Santana, um femea, canina, daschund, de aproximadamente 14 anos de idade,

Na anamnese o proprietário relatou que o animal apresentava apatia, vômitos, diarreia pastosas com muco e dor ao toque principalmente em região.

Ao exame clínico o paciente apresentou hipertermia (40,5°C), peso de 13 Kg, linfonodos mandibulares, cervicais superficiais e poplíteos aumentados de volume, abdominalgia, desidratação 8%, discreta taquipnéia.

Foi solicitado, para avaliação do estado geral, exames hematológicos de hemograma e bioquímicos como: ureia, creatinina, albumina, alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotrasferase (AST), fosfatase alcalina (FA), gamaglutamil trasferase (GGT), bilirrubinas total, amilase, lipase e exame de imagem ultrassonográfica. Após exame de imagem acrescentou-se o teste de lipase pancreática especifica rápida, suspeitando-se de pancreatite.

Os resultados foram: hemograma: leucocitose severa com desvio a esquerda, trombocitopenia, bioquímico: aumento das enzimas ast, alt, amilase, lipase e lipase pancreática especifica positivo; ultrassonografia abdominal: pâncreas hiperecogênico, irregular com aumento de volume, mediu-se lactato sérico a fim de avaliar prognostico dando valor alterado. Após junção dos exames laboratoriais, imagem e clinico fechou-se diagnostico de pancreatite corroborado por Birchard & Sherding em 2008.

Animal foi encaminhado para internação e rapidamente instituída terapêutica com protocolo: reposição continua de solução ringer com lactato (20ml/kg hora) I.V., dipirona sódica (25mg/kg bid) I.V., escopolamina (0,4 mg bid) I.V., cerenia (4mg/kg sid) S.C., omeprazol (0,8mg/kg sid) I.V., meropenem (24 mg/kg bid) I.V., meloxicam (0,1 mg/kg sid) S.C., jejum de 24 horas e retorno com alimentação de forma gradativa a fim de repousar o pâncreas, ou seja, o tratamento baseou-se de maneira suportiva, instituído em controle de infecção, choque, dor e aporte nutricional corroborando Ruaux em 2013.

Animal portou-se muito bem durante internação, que durou 3 dias, sendo repetido os exames apresentando-se de maneira normal, animal seguiu de alta com prescrição de metronidazol (15 mg/kg bid por 7 dias) V.O., meloxicam (0,2 mg sid por 3 dias) V.O., omeprazol (0,8mg/kg sid por 6 dias) V.O., escopolamina (0,4 mg bid por 3 dias) V.O., alimentação ração gastrointestinal low fat e retorno após 7 dias.

Em retorno animal apresentou-se ativo, clinicamente bem sem alterações, apetite excelente, fezes e urina normais, sem emese    

 

CONCLUSÃO

Podemos concluir que um rápido diagnostico baseados no exame clinico,  exame de imagem e teste específico fazem com que o prognostico e a resposta terapêutica sejam favoráveis e rápidas, baseando tratamento em ferramentas farmacológicas, melhora no manejo nutricional e de hábitos tanto do paciente quanto do responsável.  

REFÊRENCIAS 

Bichard, S. J.; Sherding, R. G. Manual: Saunders de Clínica de pequenos animais. 3 ed., v.1,  São Paulo: Editora Roca; 2008, 2007 p.

Coles, E.H. Patologia Clínica Veterinária. 3 ed., v.1, São Paulo: Editora Manole; 1984, 192p.

Bunch, S. C. O Pâncreas exócrino, in Medicina Interna de Pequenos Animais,3 ed., Rio de Janeiro: Editora Mosby; 2006, cap. 48, p. 477- 488.   

Ettinger, S. J.; Feldman, E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 5 ed., v. 1, Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 2009, 2196 p. 

Mansfield, C. S.; Jones, B.R. Trypsiogen Activation Peptide in the Diagnostico f Canine Pancreatitis- Journal of Veterinary Internal Medicine. v. 14, n. 3, Bruxelas; 2000, 364 p.

Nelson, R. W.; Couto, C. GFundamentos de medicina interna de pequenos animais. 2 ed., v. 2, Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 2006, p. 974 - 986 .

Pérez, D. R. M. Resistencia bacteriana a antimicrobianos: su importância em la toma de decisiones em la práctica diária. v. 22, n. 3, Madrid: Inf Ter Sist Nac Salud; 1998, p. 301 - 345.

Ruax, C. G. Diagnostic Approaches to Acute Pancreatitis- Australian Veterinary Journal, 5 ed, Melbourn: Journal Veterinary; 2012, 2009 – 2029 p.

Silva, L. B. Cetoacidose Diabética Canina, 2018; disponível em: www.webartigos.com/artigos/cetoacidose-diabetica-canina/155499; acessado em 21/04/2020

Simpson, R. W. Diseasses of the Pancreas in: Tams, TR Handbook of Small Animal Gatroenterology, 2 ed., Saint louis: Editora Elsier; 2003, 256 – 269p.

Tilley, L. P.; Smith, F. W. Consulta Veterinária em 5 minutos: espécies Canina e Felina. 3 ed., São Paulo: Manole; 2008, 370 - 420 p.

Willians, D. A. Diseasses Exocrine Pancreas. Pancreas in: Hall, Manual of Canine and Feline Gatroenterology, 2 ed., Gloucester: Bsava; 2003, 256 – 269.