PALIATIVO                                         

Belo Horizonte, 24-07-1977

 

Andava pela natureza

Sem um rumo certo.

Procurava a paz

Dentro da floresta,

E a floresta estava em paz

Comigo e consigo mesma.

 

Entrei numa cabana camponesa.

Ali reinava de tudo.

Ali reinava a paz,

Ali reinava a conformidade,

Ali reinava a fome,

Ali reinava a união,

Ali reinava a alegria,

Ali reinava o suor e o trabalho.

 

Fora, no terreiro

Uma criança chorava,

Emitia sons poderosos

Que fazia a historia dos homens.

Eram sons que faziam

Tocar o mais profundo

Do nosso estômago.

Sons que penetravam

O mais profundo

Do nosso mar de angustia.

 

Talvez no futuro,

Aquela criancinha que hoje chora

Fosse um revoltado.

Talvez fosse um camponês

Simples e honesto.                                                     

Talvez fosse um rebelde.                                                                    

 

De repente, entra no casebre

Aquele homem cansado,

Com um embrulho nas mãos

Grossas e calosas,

E com o coração angustiado.

Era o chefe da família.

 

Todos o olharam.

Todas as barrigas roncaram,

E todos para ele avançaram

Com uma fúria incontida,

Que só o desespero provoca.

 

Depois que todos comeram

Tudo ficou mais calmo.

A criancinha passou a sorrir,

E todo aquele mar de miséria

Ficou calmo e sereno,

Até a próxima semana.

 

O chefe da família me olhou e disse:

Foi Deus quem quis assim...