Palavrão Também é Cultura!
Por Félix Maier | 19/09/2008 | SociedadeO brasileiro tem uma tendência natural para o humor.
Assim, dono de funerária é chamado de "papa-defunto", telefone público
vira "orelhão", o longo prédio da Universidade de Brasília, curvo, de
800 m de comprimento, é o "minhocão", os ônibus articulados são os
"papa-filas", a moça que gosta de rapaz com carro é "maria-gasolina",
bicicleta é "magrela", segurança de boate é "armário", agente secreto é
"araponga", Imposto de Renda é "Leão" (com letra maiúscula), evangélico
é "bíblia", católico carola é "papa-hóstia", bajulador é "puxa-saco" ou
"baba-ovo".
Na década de 1960, durante o governo de João Goulart, Santiago Dantas
pretendeu criar a Frente Única, formada pelo PTB, PSD e PCB, para dar
início às tais "reformas de base". A frente não se concretizou, porque
Brizola não aceitava os conservadores do PSD no grupo. O brasileiro,
gozador como sempre, apelidou de "frente única" aquela minúscula blusa
feminina, que deixava todas as costas de fora - às vezes dava para
espiar os seios, até o mamilo, principalmente quando a moça esticava o
braço pra se segurar no ônibus...
O Tesouro Nacional virou a "Viúva", a que sempre tem o cofre cheio...
O PAC do governo Lula virou "Programa de Ajuda aos Companheiros"...
(Mas também pode chamar de "Plano de Assalto ao Cofre", de Adhemar de
Barros, roubo realizado pelo grupo terrorista VAR-Palmares de Dilma
"Estela" Rousseff.)
O mais novo neologismo é "petralha". Reinaldo Azevedo acabou de lançar
um livro sobre os companheiros gatunos, "O País dos Petralhas" (Record,
337 pg.). Segundo o autor do livro, existe um glossário no fim do
livro, onde esclarece o significado da nova palavra: "Neologismo criado
com a fusão das palavras `petista` e `metralha` - dos Irmãos Metralha,
sempre de olho na caixa-forte do Tio Patinhas. Um petralha defende o
roubo social".
Além dessas expressões bem-humoradas, o brasileiro tem uma peculiar
capacidade para criar palavras e expressões de baixíssimo calão, como
se dizia antigamente. Ou seja, os famosos palavrões. Vejamos alguns
exemplos:
- Feito nas coxas. O significado é o sujeito sem nenhum valor,
rapidamente "feito nas coxas" num sarro numa esquina escura. Mas tem o
significado também das telhas que os antigos escravos faziam, ao moldar
o barro na coxa, daí a expressão.
Meu irmão Válter, numa ida ao Paraguai para comprar os presentes de
Natal da família, esperava o lanche na mesa, quando levantou para tirar
água do joelho. Ao passar perto da cozinha, viu uma gorda e suada
paraguaia afinando a massa de pastel na coxa. A vontade de comer pastel
passou na hora...
- Cu de bêbado não tem dono. Um primor de frase, sem maiores
comentários. Agora, com a Lei Seca, existe, em algumas cidadezinhas do
interior, até um "táxi-bêbado", um carrinho-de-mão adaptado para levar
o pinguço até em casa. Onde passará novamente a ser dono do fiofó.
- Cagar no pau. Outra frase que merece uma medalha de ouro. Além de
chamar o cara de "viado", ainda reclama que o cara "cagou no pau". Aí
já é demais...
- Fazer cocô cheiroso. Refere-se às pessoas metidas a besta, aquelas
que "cagam cheiroso". A expressão mais amena é "fazer cheiroso". Há
mulheres tão lindas que, eu acho, nem cocô fazem. Se fazem, deve ser
bem cheiroso...
- Cair de boca: sexo oral.
- Cair de quatro. Pode ser o Flamengo perder de 4 a 0, mas pode também
designar a posição subserviente de alguém, que fica na "posição de
Napoleão", para ser enrabado. Guido Mantega, após o colapso do Lehman
Brothers, disse que em outro tempo o Brasil já "estaria de quatro". Por
enquanto, o sarro ainda é de pé...
- De cu pra Lua. Sujeito de muita sorte. Há expressões mais amenas, "de quina pra Lua" ou "virado pra Lua".
- Putaria franciscana. Confesso que na primeira vez que ouvi esta
expressão, dita pela mãe desbocada de uma antiga namorada minha, no Rio
de Janeiro, eu fiquei bastante chocado. Como ex-seminarista
franciscano, não entendi o significado. Consultei o Aurélio e lá estava
confirmada a expressão, mas em outros termos. Só que, até hoje, não sei
que sacanagem ou que putaria é essa. Alguém aí pode me explicar o berço
desta expressão?
- Dança do créu. Aqueles gestos de "chamar para a responsa" que, hoje
em dia, até crianças de 3 anos imitam. Tudo na maior tranquilidade
neste país que é o reinado da pornografia infantil.
- Meia foda. É como se chama o baixinho, também cognominado de
"tampinha", "pintor de rodapé", "cu de cobra". Segundo o modo
politicamente besta de se expressar, anão não é mais "anão", mas
"indivíduo verticalmente prejudicado"... A propósito, cego é "cego",
não deficiente visual, como dizem os bestas. Deficiente visual sou eu,
um míope.
- Cofrinho. Aquele orifício onde fica a "poupança". Nos países árabes,
dizem que as mulheres usam a "poupança" porque devem se casar virgens.
Tem marido que até hoje exige o lençol sujo de sangue na noite de
núpcias.
- OK: aquele gesto "ouquêi" (tudo legal!) dos americanos, fazendo um
círculo ao unir as pontas do polegar com o indicador, no Brasil
significa "aqui, ó!", "aqui, pra você!"
- Aspone: Assessor de Porra Nenhuma. No quartel do Rio, na década de 1980, tínhamos a "Repone"
- Reunião de Porra Nenhuma. Era quando o comandante da EsIE convocava
os oficiais e/ou praças para, normalmente, dar uma monumental "mijada".
E tem o "esporro" do chefe, "a naba tá voando!"
A lista não tem fim. Que tal aumentar o glossário? Mãos à obra, então!