Pais e filhos, escola e alunos: pontas de um mesmo condutor.

Distante de ignorar ou minimizar os esforços que muitos pais imprimem em estarem presentes na formação do caráter dos seus filhos. Surge uma preocupação com os atos que têm sido desencadeados nos últimos tempos identificando atitudes de alguns jovens como sendo resultado de pessoas com pouca vontade de se superar, de vencer conflitos, de enfrentar desafios.

Comparando resultados surge uma grande preocupação com o futuro das próximas gerações que, sem os devidos treinos para o enfrentamento de situações adversas ao que lhe é cômodo, possam resultar em impasses comprometedores da segurança social de toda uma geração.

Nos primeiros anos do novo século, uma questão foi levantada sobre o papel das grandes concentrações urbanas, como forma garantir segurança  em ambiente salutar para se viver, criar filhos e desenvolver a  autoestima. O sítio preferido para esse raciocínio eram os sofisticados condomínios residenciais onde as crianças não precisavam sair dali para nada. Ali tinham piscinas  academias, quadras, brinquedotecas, berçários, videotecas, cinemas, lojas de conveniências, livrarias, lanchonetes... As crianças não precisariam se aventurar nas perigosas ruas da cidade grande, expostas aos riscos de se defrontarem com situações adversas à segurança.

Essas crianças, quando for preciso enfrentar o mundo e seus riscos, estariam preparadas para se defenderem, para enfrentarem, para resolverem quaisquer impasses criados pelos mortais criados na rua? Sendo feita uma comparação entre a criança criada nos revezes da rua, na luta diária pela sobrevivência, conhecendo a chuva, o sol, a fome, o frio, a violência, o abandono e àquela egressa dos sofisticados condomínios, onde nada, em tese, lhe faltou, qual delas desvencilhar-se-á melhor das armadilhas do mundo? Qual delas dará resposta imediata a questionamentos entre o que é seguro, o que é prático, o que viver comendo o que se tem enquanto se consegue ganhar o de amanhã?

Reconhece-se que a criança que teve tudo nas mãos tem muito mais lições teóricas na bagagem. Informações sobre valores que norteiam a vida do homem de princípio e de honra, mas àquela a quem a vida negou ensinamentos obteve por ser si mesma armadura para sobreviver a tudo e a todos, a qualquer preço e a qualquer custo, sem honra talvez, sem caráter, quase sempre, mas como cobrar delas o que a vida não lhe deu?

É, mas o discurso politicamente coreto garante que a criança do completo condomínio estará melhor preparada para fazer do mundo, um mundo melhor. Mas nada impede que essa criança tenha que conviver com aquela que foi marginalizada,  mas pode ser  o influenciador de novos comportamentos, sugerindo inclusive que o tudo o que foi ensinado à criança cuja família lhe cercou de todos os cuidados, nada tem a ver com a crueldade do mundo, onde salva-se o mais forte, o mais esperto, o mais resistente. Nem sempre o  melhor preparado. É o jogo da vida: “Escola e rua são caminhos de vida. Diferente  de “Família e rua espaços de aprendizagem”.

Antes mesmo do nascimento da criança, os pais já têm uma  preocupação com a saúde, a segurança, a educação e a formação do caráter da criança e do futuro cidadão. A realidade que nos povoa nos traz listas frequentes de problemas de honestidade, violência e corrupção, falta de respeito e reconhecimento pelo ser humano em sua singularidade, o que dificulta mais ainda a missão dos pais de transmitir e internalizar em seus filhos valores morais e éticos sólidos.

No caso de os pais não conseguirem uma efetiva formação para os seus filhos, capaz de  enfrentar e debelar desconstruindo o que se vislumbra a partir desses cenários pouco dignos, o que poderá vir a ser o amanhã de pessoas pouco treinadas a enfrentar desafios com denodo e segurança?  Se é durante a primeira infância que o indivíduo passa pela fase mais importante e significativa de aprendizagem, o que tem sido feito em favor da criança que não nasceu em um ambiente favorável à boa formação de caráter?  No momento em que  a criança aprende, por intermédio da família, sobre o que é certo e o que é errado, além de ter contato com valores, crenças e princípios transmitidos em casa, lhe falta oportunidade de  exemplos, de lições de limites.

O caráter é uma característica presente em todos os seres humanos. Ele é formado por meio de hábitos e relações, sejam elas positivas ou negativas. Formar uma pessoa com bom caráter é imprescindível, pois essa característica pessoal está diretamente relacionada ao modo como o indivíduo pensa, sente e reage nas mais diferentes situações da vida. Os pais como agentes responsáveis pela socialização da criança têm a incumbência de apresentar para o filho os grupos sociais nos quais ele conviverá, dando a criança o suporte necessário para que ela possa compreender a dinâmica de comunicação e interação das relações sociais. A criança que fica em casa sozinha porque os pais trabalham ficam expostas ao isolamento de sua casa o que pode levá-la à depressão. Se tiver TV, se entrete com o que pouco educa: pornografia, incesto, falcatruas, sensualismo infanto-juvenil, homossexualismo; se tiver celular, as redes sociais são mais perversas ainda; se não tiver nada disso, vai à rua em busca de algo para fazer, aprender, comer, beber, cheirar... Elas vão crescer e vão compor a estatística da juventude que se ombreará com os filhos daqueles que deram o melhor de si para formar os seus. Mas no conjunto da sociedade em que viverão, os valores que estarão em tela serão tão questionáveis para aqueles que não tiveram oportunidade de formação por meio de valores e princípios, que surgirão dúvidas entre os limites do certo e do errado. Do lícitos e do permitido, “porque nessa vida, tudo vale. Desde que se leve vantagens”. Começam os conflitos de gerações, de classes sociais, de ideologias, de pontos de vista, de valores e desvalores que transformarão a vida de todos, uma verdadeira “torre-de-babel, dos séculos vindouros.

Os pais enquanto educadores são definitivos no fomento a estímulos naturais que justificam que toda atuação familiar é educativa. A forma como os pais reagem ou não, diante de uma  situação vivenciada pelos pais e pelos filhos despertarão na criança as consequências daquele comportamento, mesmo que essa não seja a intenção. Os pais têm muita importância na educação dos filhos, pois são responsáveis por legitimar ou rechaçar conhecimentos e valores adquiridos pelas crianças no processo civilizatório mediando situações e comportamentos. É nesse exercício que os pais mostram para os seus filhos, o melhor caminho a ser seguido e qual o preço de uma transgressão, de um desvio da linha do caráter positivo para a formação de pessoas sensíveis, singulares, críticas a ponto de discernir caminhos e alternativas que lhes renderão tributos a serem pagos ou recebidos como recompensa pelo desempenho diante do mundo.

Dir-se-ia ser a educação dos pais, uma educação informal. Mas isso não invalida o potencial que essa informalidade adquire quando essa mesma criança se apresenta à escola, com sua formalidade, aos professores com suas multipotencialidades do conhecimento e, na tentativa de se somar. Nessa soma entram: o fazer-humano composto pelos conhecimentos prévios de cada criança-aluno com a sistematização de conhecimentos que o universo acadêmico impõe, com a filosofia plena definida como missão de cada sistema escolar no seu tempo.

Nesse encontro podem sobrar possibilidade e faltar acordos entre o que o aluno já sabe ( que aprendeu com os pais). O que o professor pretende ensinar, pois faz parte do seu mister de vida (professar regras, normas, referências, conteúdos e encadeamentos lógicos). O que traz a proposta curricular da escola (envolvendo propostas, projetos, métodos e multimeios para melhor desempenhar o seu papel de ambiente sistêmico de educação formal).

Quando as famílias estão presentes, o filho age de uma forma. Quando estão por perto, a reação é uma outra, quando distante, muda frontalmente, quando não existe, a criança começa a negar a necessidade de aprender por meio de ensinamentos, optando  por agir por impulso, de acordo com os seus hábitos praticados por si mesmo, sem que a ninguém tenha que dá satisfação. Pais que conhecem, reconhecem o valor da formação acadêmica, científica e cultural influenciam de forma bastante  positiva a relação que existe entre os filhos e o processo de ensinagem que a escola imprime. A participação ativa no processo educacional indica esse interesse. ]

Destaca o papel dos pais na educação dos filhos é, antes de tudo,  emocional. É o peso da relação familiar estabelecida com o mundo, com a ciência, com o conhecimento e, por isso, tão importante e determinante no direcionamento da formação dos filhos. Na hipótese de famílias desconhecerem o papel da educação formal desenvolvida pela escola enquanto academia do saber, ou catedral do ensinamento é confirmar que o futuro das sociedades corre sério risco de se degradar. Levando consigo, todos os esforços empreendidos pelas gerações do passado que tanto lutaram por valores condizentes com a boa formação do ser, para se ter um resultado, pelo menos que garanta a perpetuação da espécie “homo sapiem”.

*Sebastião Maciel Costa