Os valores e os comportamentos

 

A vida humana é uma escolha, uma opção. Vivemos porque escolhemos. E por que fazemos escolhas? Porque avaliamos!

De imediato poderíamos dizer que as nossas escolhas estão baseadas na liberdade: escolhemos porque somos livres. Entretanto, independentemente da liberdade e além dela, nossas escolhes derivam dos nossos valores. Até a liberdade, que usamos para escolher aquilo que valorizamos, é um valor. Defendemos a liberdade porque ela é, para nós, algo valioso. Portanto, nossas decisões sempre se baseiam em algo que vai além da liberdade ou que dá sentido à liberdade. Decidimos por que somos capazes de determinar o valor das realidades com as quais nos relacionamos. Ressaltando que a liberdade também é um valor que prezamos.

A vida humana só é humana porque está alicerçada em valores. O ser humano só é humano porque desenvolveu o senso da avaliação. Essa capacidade de avaliação é o que possibilita as escolhas que são feitas ao longo de cada momento de uma vida.

Em cada situação da vida humana existe uma escolha a ser feita. E ela é feita a partir das opções que existem. E entre as opções que se nos apresentam sempre escolhemos o que mais nos convém, rejeitando o inconveniente; sempre optamos por aquilo que nos parece vantajoso, rejeitando o que não dos dá vantagem; sempre escolhemos o que nos parece positivo e rejeitamos o que nos parece negativo. Mesmo quando escolhemos algo menos agradável o fazemos porque apostamos numa vantagem maior.

Podemos entender isso no exemplo dos pais quando aceitam uma situação menos agradável para si, no momento presente, desde que isso implique em um bem para os filhos. Escolhe-se o desagradável. Mas a escolha de agora ocorre em função de uma escolha futura. Portanto e na realidade, a opção de agora não se esgota nela mesma, mas repercute no bem maior que é o bem do filho. Isso significa que não se escolheu o ruim, mas o melhor. E o que esteve sempre em questão foi a possibilidade da escolha. A opção, neste exemplo, foi feita em favor do bem do filho. Os pais se sentem bem promovendo o bem dos filhos. Neste caso o bem futuro do filho é o valor que se sobrepõe ao bem pessoal imediato.

Todo esse processo ocorre a partir dos valores que norteiam nossos comportamentos.

Avaliamos, escolhemos ou optamos... enfim, decidimos porque nos movemos a partir de um quadro de valores: éticos (fazer o bem ou o mal), humanos (respeitar esta pessoa ou ignorá-la), religiosos (crer nesta ou naquela divindade; crer em Deus ou manter-se cético), econômicos (comprar uma casa ou vender uma fazenda), sociais (juntar-me a este grupo ou isolar-me), políticos (participar deste grupo ou daquele)... São os valores que alimentamos que alimentam e direcionam nossas escolhas e a partir disso desenvolvem-se nossos comportamentos individuais e em sociedade.

Os nossos comportamentos, portanto, são expressões dos nossos valores. Agimos desta ou daquela forma porque desenvolvemos estes ou aqueles valores. Isso implica dizer que os valores, além de representarem e se expressarem em nossas escolhas, desenvolvem-se dentro de uma sociedade. E isso, por sua vez, nos leva a concluir que os valores são elementos culturais. Os valores norteadores da vida de uma pessoa são o que essa pessoa desenvolveu em decorrência daquilo que aprendeu na sociedade em que se formou.

Os comportamentos de cada pessoa, sendo resultantes daquilo que aprendeu da sociedade em que se insere, reflete os valores dessa sociedade. Isso, entretanto, não significa que um indivíduo dessa sociedade – ou alguns membros dela – não se comportem de forma diversa daquilo que é valorizado pela sociedade em questão. Os valores, que determinam os comportamentos e sendo resultantes de construções culturais, são pessoais e individuais. E isso explica, por exemplo, porque determinada pessoa originária de uma família que preza a honestidade, tenha comportamentos desonestos.

Em síntese, podemos dizer que os indivíduos, uma vez que vivem em sociedade, norteiam sua vida a partir dos valores construídos pela sociedade da qual são fruto. Mas, em virtude da liberdade, os indivíduos também agem perseguindo aquilo que mais lhes convém. Isso nos leva a dizer que um dos valores supremos e norteadores das opções/escolhas é a conveniência. Fazemos o que todos esperam que façamos, porque os valores edificados em nós pela sociedade em que estamos inseridos, nos conduz a esse comportamento; mas também fazemos o inesperado ou contrariamos as expectativas daqueles que nos rodeiam porque isso nos é conveniente ou representa uma vantagem maior. E esse valor norteia nosso comportamento.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO