Paternidade é um conceito que vem do latim “paternĭtas” e que diz respeito à condição de ser pai. Isto significa que o homem que tenha tido um filho acede à paternidade. Em geral, a paternidade usa-se para designar a qualidade do pai (homem). No caso da mulher, a noção associada a ser mãe é maternidade. No entanto, dependendo do contexto, paternidade pode referir-se tanto ao pai como à mãe, naquilo que se designa por casal parental. É importante destacar que a paternidade transcende o biológico. Dado que ser pai ou mãe implica, fundamentalmente, o envolvimento com os filhos e a relação com o outro elemento do casal parental nas questões que dizem respeito ao exercício da Parentalidade. Donde, o conceito de Parentalidade abarca duas dimensões: o envolvimento parental (corresponde as acções de desempenho de papéis parentais e relações que se estabelecem com o filho(s)) e a coparentalidade (respeita ao modo como o casal parental coopera no exercício dos seus papéis paternais). Já a filiação pode acontecer através da adopção, convertendo a pessoa em pai do seu filho mesmo que este não seja seu descendente de sangue, implicando em certa medida, um reconhecimento da parentabilidade da mesma. Dado que, por exemplo, num sentido semelhante, o homem que doa sémen para que uma mulher se insemine não se transforma no pai da futura criança. A paternidade, por outro lado, pode ser espiritual ou simbólica. No contexto da modernidade, a paternidade encontra-se em crise, comparativamente ao contexto tradicional das famílias de um modo geral, em que os limites de liderança e chefia da família eram mais nítidos. A mulher dona de casa e o pai trabalhador. Uma questão colocada em xeque pela emancipação da mulher e sua maior presença no mercado do trabalho e consequentemente, a sua independência financeira. Por outro lado os filhos foram tomando-se centralidade a níveis diferentes no compito das responsabilidades paternais e parentais, por força da importância reconhecida às crianças, das descobertas científicas e dos novos direitos das crianças. Um contexto que é recebido com respostas de restrição do núcleo da família, principalmente em contextos de famílias alargadas como é o caso das famílias africanas e de Moçambique em particular. Afinal, é algo comum o entendimento de que “a riqueza do africano são os filhos e que o trabalho dos pobres é garantir a manutenção desse discurso. Sendo que não seja tarefa da classe media-alta apoiar com força o crescimento demográfico”. Mas essa não é a verdadeira questão. O facto é quem são os novos filiais no contexto do nosso país (Moçambique)? Ou seja, quem são as novas mães e os novos pais da actualidade? Essa resposta nos faculta a entender o evoluir do senso de paternidade, um antes e um depois do que se tem por paternidade. Mas desde já devo ir ao encontro do meu raciocínio com o intuito de dizer o que me conduz a isso. Devo assumir de forma aberta e mais crua possível de que não disponho de dados numéricos para definir ou defender o meu discurso. Apenas gozo da minha experiência de vida, de ouvidos atentos e do meu senso crítico em torno do que ouvi e vi se dizer em torno do ser pai e/ou mãe ao longo dos tempos em que já podia entender as coisas dos adultos e o que dizem ou querem dizer alguns livros dos quais me apoio até aqui (apesar de não referencia-los devidamente). No meu dia-a-dia, é comum deparar-se com mulheres que identificam aqueles que em tempos “não modernos” poderiam ser tidos como seus maridos, como sendo pai do seu filho (por outra, “pai do meu filho”) ou seu parceiro (em referência ao “pai do seu filho”, ou simplesmente, o marido antes que se tenha um filho com ele). O mesmo é também comum vindo dos homens, mas estes o dizem, na sua maioria, em condições de divórcio, ou separação, ou na condição de amante. Dai a questão: seria apenas uma questão de perspectiva ou mudança de paradigma do relacionamento filial? E será que isso justificaria a questão: quem são os novos pais? O facto é que passamos a um estágio em que, os filhos, já não são um factor de união de factos, apenas uma questão de investimento. Você paga as despesas o suficiente para ser pai. Uma mãe solteira já não é um mau exemplo (como nas gerações passadas) é um exemplo de superação e independência. É a mulher de hoje, a batalhadora. Dai umas outras questões: (i) o que seria a paternidade hoje, no contexto inevitável dessa nova família, de pai e mãe trabalhadores e filhos com “direitos”? (ii) Será que estaríamos em tempos de dizer que os ricos fazem filhos e os pobres se casam? E claro, isso diz-se de Moçambique. Por Cândido Edmundo Alberto Comissário