A vastidão e a enorme quantidade da literatura cabalista não deveria nos impedir de examinar algumas de suas principais idéias e conceitos de uma forma concisa, tendo sempre em mente que tais simplificações têm as suas limitações, e que são produzidas especialmente para aqueles recém introduzidos à Cabala. Para realizar esta tarefa nós nos apoiamos no trabalho do rabino Aslag, o qual exprime com clareza os pensamentos do Zohar, pois em geral são complexos e difusos. Neste ponto deveríamos frisar que a sabedoria da Cabala é qualquer coisa mas não dogmática; a todo o momento o leitor tem a oportunidade de escolha quanto a acreditar ou não, tendo por base o que lhe foi apresentado no capítulo anterior. Muito pouco é deixado para suposições ou sugestões em termos de pensamento, sendo o entendimento e a compreensão clara o nosso objetivo principal.

Existe uma, e só uma premissa em toda a Cabala. Esta premissa, a partir da qual todas as idéias contidas nos ensinamentos da Cabala podem se desenvolver, é que tudo se resume em D-us e que a Ele nada falta. A conclusão imediata à qual podemos chegar ante uma tal afirmaç?ão é a de que Ele é bom, pois como nós devemos demonstrar muito brevemente, todos os aspectos do mal derivam das insatisfações. Isto é algo que nós podemos ver por meio de nossas próprias vidas, onde todos os nossos ciúmes, raiva e ódio são o resultado de desejos por gratificações emocionais e físicas não satisfeitas.

Após termos dito que D-us é completo e portanto bom, nós podemos passar a descrever o atributo através do qual nós temos consciência de Sua existência, o seu Desejo de Repartir. Tal desejo constitui-se numa extensão de Sua bondade e é descrita na Cabala como a Luz. De novo nós ficamos sabendo por meio de nossa experiência terrestre, que dividir ou repartir é um atributo da bondade. Se nós consideramos qualquer objeto ou pessoa que nós possamos chamar de bom ou boa, percebemos que a qualidade essencial que todas as coisas boas têm em comum, é que elas nos dão algo que queremos. Aquele algo pode ser físico, como no caso de um benfeitor que nos dê presentes físicos, ou pode ser uma experiência que nos dê prazer. O fato de preencher uma parte de nossos desejos permanece o fator comum constante. Nós denominamos este fator de energia positiva, pois a força positiva é sempre completa e tende a preencher áreas em estado incompleto ou negativas. Esta energia positiva é também conhecida como o Desejo de Repartir. A palavra desejo é utilizada porque ela nos lembra que nós não podemos repartir algo que não temos; então nós poderíamos parafrasear o Desejo de Repartir na forma de um querer dar, expressando assim o princípio de que toda a existência é sustentada de um momento a outro, somente pelo constante dom da vida do Criador, cumprindo nosso querer ou Desejo, para que possamos dar ou Repartir.

O que se disse acima resume tudo aquilo que nós podemos conhecer ou dizer sobre D-us: que Ele é completo e que, portanto, nada lhe falta; que Ele é bom. O Seu atributo constitui-se no Desejo de Repartir, sendo que a manifestação daquele desejo é conhecida como energia positiva...