Presidência da república é destino? Um pouco da história, dos anos 30 para cá. Tirem suas conclusões.

Estudei e pesquisei muito a história política e econômica do Brasil, vivi uma parte dela dos anos 80 até aqui. Escrevi um livro e escrevo outro e farei algumas considerações sobre a política no que tange aos presidentes da república de um tempo para cá. Não é um tratado de história, é um artigo resumido para convite a reflexão do leitor e algumas observações importantes.

A primeira coisa é qual seria a qualidade de um bom presidente?

Diria que é a capacidade de trabalhar em equipe, tem bom temperamento, uma pitada de carisma, ser um bom orador e ter estrela e sorte. Sim, é importante.

Conhecimento e capacidade neste patamar são necessárias, mas não são requisitos fundamentais, vide o caso de Lula e Dilma para citar exemplos recentes.

Vamos lá voltar um pouco no tempo:

  1. Após a revolução de 1930 quando Júlio Prestes ganhou de Getúlio Vargas a eleição e não levou, pois Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba formação a Aliança Liberal e deram o golpe que levou Vargas ao poder até 1945. 
  2.  No dia 29 de outubro de 1945, Getúlio Vargas foi deposto por um golpe militar, assume o presidente do STE José Linhares (não havia a figura do vice-presidente) governou de 30/10/1945 a 31/01/1946.
  3. Eleição em 2/12/1945 elege O General Dutra, do PSD, que derrotou Eduardo Gomes da UDN foi eleito com 55,39% dos votos. Dutra tinha tido uma carreira militar brilhante, mas nunca havia disputado uma eleição. Governou até 31/01/1951.
  4. Em 03/10/1950 Getúlio Vargas derrota Eduardo Gomes e assume a presidência até 24/08/1954 quando é encontrado morto com a versão de suicídio. Café Filho então vice-presidente que governa por 14 meses, sendo que por problemas de saúde (existem outras versões) o presidente da câmara dos deputados Carlos Luz de Minas Gerais, mas desafeto de JK, assume a presidente em 08/11/1955. Quando Café Filho se recupera e tenta voltar é impedido, juntamente com Carlos Luz, por suposta conspiração contra a posse de JK (já eleito) e Nereu Ramos, senador e presidente do congresso assume até passar a faixa a JK.
  5. Em 03/10/1955 JK é eleito derrotando Juarez Távora e Ademar de Barros. JK toma posse em 31/01/1956 após algumas tentativas de impedimento e golpe de seu legitimo mandato. Jango, o Joao Goulart foi eleito vice-presidente em chapa separada (na época era assim).
  6. JK, foi um dos grandes presidentes na nossa história, governa até 31/01/1961 quando é empossado Jânio Quadros e novamente tendo como vice-presidente eleito Jango. Jânio se elegeu em 03/10/1960 com 48,25% dos votos derrotando o General Lott candidato de JK.
  7. Jânio renuncia em 25/08/1961 e assume Ranieri Mazzilli e posteriormente João Goulart com grandes confusões políticas e crises militares. Jango tinha o veto dos militares, que vinha desde o governo Vargas quando foi ministro do Trabalho. Jango tinha notórias ligações com movimentos sindicais e a simpatia da esquerda. Com o parlamentarismo assume em 07/09/1961 e vai até 15/04/1964 quando após a implantação do Regime Militar assume o General Castelo Branco não sem antes passar por Ranieri Mazzilli então presidente da Câmara dos Deputados.
  8. Castelo Branco governa até 15/03/1967 quando assume outro General Costa e Silva.
  9. Costa e Silva vai de 15/03/1967 a 31/08/1969 quando sofre um AVC e seu vice Pedro Aleixo é impedido de assumir. Uma junta militar assume. Junta composta por Aurélio de Lira Tavares, ministro do Exército; Augusto Rademaker, ministro da Marinha, e Márcio Melo, ministro da Aeronáutica. A junta governa até 30/10/1969.
  10. Nesta data assume o General Médici que vai até 15/03/1974.
  11. General Geisel vai daí até 15/03/1979 quando assume o General Figueiredo até 15/03/1985.
  12.  Vale fazer uma observação relevante. Todos os generais que assumiram durante o Regime Militar que durou de 1964 a 1985 foram homens preparados e sérios, com carreira militar brilhante, com envolvimento em episódios políticos da nossa história, mas sem nenhum envolvimento com eleições.
  13. Com o fim do Regime Militar e a formação da Frente Liberal, a oposição liderada por Tancredo Neves ganha o colégio eleitoral de Paulo Maluf e se torna o presidente com a posso prevista para 15/03/1985. Por desígnios do destino, Tancredo tem grave problema de saúde e morre antes de sua posse, dando lugar a José Sarney, eleito na chapa de Tancredo no colégio eleitoral de 15/01/1985 sob a égide da CF de 1967.
  14. Sarney deixa o governo com uma inflação de 89% ao mês um caos total na política com populismo e desmandos que ficaram para serem pagos no futuro como ocorre agora. O maior erro de todos foi a CF de 88, chamada de Constituição Cidadã, mas cheia de vícios e problemas que custaram caro ao Brasil, custam até hoje. Os pretextos de “retirar o lixo autoritário” fizeram muitas bobagens e cometeram erros graves que comprometeram o futuro do país.
  15. Collor se elege em 17/12/1989 derrotando Lula e velhos caciques da política nacional como Brizola, Aureliano Chaves e Ulisses Guimarães.
  16. Collor governa de 15/03/1990 a 29/12/1992 com grandes problemas políticos e econômicos.  Com a renúncia, sendo que Collor acabaria sofrendo o impeachment, assume Itamar Franco.
  17. Itamar vai de 29/12/1992 até 01/01/1995 elegendo seu ministro da Fazenda e após o sucesso impressionante do Plano Real que tirou o Brasil do buraco e do processo inflacionário.
  18.  Fernando Henrique Cardoso governa de 01/01/1995 até 01/01/2003 sendo que teve uma reeleição em 1998. Para muitos considerado o maior dos erros de seus 2 governos. FHC governou com graves problemas externos e crises mundiais graves que quase comprometeram o Plano Real que salvara o Brasil do grande problema inflacionário.

As crises:

  1. 1992-1993: BLACK WEDNESDAY
  2. 1994-1995: CRISE ECONÔMICA DO MÉXICO DE 1994
  3. 1997-1998: CRISE FINANCEIRA ASIÁTICA
  4. 1998: CRISE FINANCEIRA RUSSA
  5. 2000: BOLHA "PONTO COM"
  6. 2000-2001: CRISE TURCA
  7. 2001-2002: CRISE ECONÔMICA DA ARGENTINA

Quem quiser ver mais leia aqui: Clique e leia As crises mundiais do século XX e XXI e o Brasil

  1.  Lula assume em 01/01/2003 e vai até 01/01/2011 com uma reeleição em 2006.
  2. Dilma Russef assume de 01/01/2011 a 16/08/2016 quando sofre o impeachment por diversas acusações de mazelas nas finanças públicas e erros crassos na gestão pública. Recomendo o livro Anatomia de um Desastre de Cláudia Safatle, João Borges e Ribamar Oliveira para entender o que aconteceu aqui no Brasil. O livro narra cronologicamente todos os problemas que a gestão teve com precisão e detalhes. O impeachment é previsto na constituição e não foi golpe como alguns querem ainda afirmar.
  3. Michel Temer, vice de Dilma, assume em 31/08/2016 até aqui, com graves problemas políticos, acusações da PGR e denunciado por corrupção e corre risco de não terminar o mandato.
  4. Rodrigo Maia seria, ou pode ser, o futuro presidente se houver a queda de Temer, hoje ainda improvável.
  5. Maia conduzirá o país até a eleição de 2018 onde todos esperaram o povo eleja alguém que consiga arrumar este país, que precisa muito.

O momento atual é doloroso, uma grande depuração está acontecendo na classe política e as instituições estão agindo.

Não acredito, definitivamente, em teoria da conspiração. Qualquer que seja narrativa de conspiração acho que é imaginação. Obvio que os atores podem e devem ter suas preferências, mas o que assistimos ainda é o funcionamento das instituições.

Loas a uma geração de jovens de trinta e poucos anos, procuradores, promotores de justiça, delegados e juízes. Todos idealistas, concursados, bem remunerados e bem-intencionados além de competentes que cumprem seu dever e seu papel. A nação e o o futuro agradecem estes jovens.

Vamos voltar ao nosso tema aqui.

De 1930 a 1951: Getúlio Vargas, o presidente do STE José Linhares e o General Dutra- Em 21 anos, 3 presidentes.

De 1951 a 1964: Getúlio Vargas, Café Filho, Carlos Luz , Nereu Ramos, JK, Jânio, Ranieri Mazzili, Jango. Em 15 anos 8 presidentes.

Dos militares de 1964 até 1985: Castelo Branco, General Costa e Silva, a junta militar composta por  Aurélio de Lira Tavaresministro do Exército; Augusto Rademakerministro da Marinha, e  Márcio Meloministro da Aeronáutica, o General Médici, General Geisel , e  o General Figueiredo. Em 21 anos 5 presidentes e uma junta militar.

De 1985 até 2017: Tancredo Neves, que não chegou a tomar posse, José Sarney, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula , Dilma Russef , Michel Temer. Em 32 anos 6 presidentes, sendo desses, 2 reeleitos.

Ou seja, dos anos 30 para cá, tivemos 22 presidentes no total, tivemos entre interinos e presidentes eleitos, diretamente, indiretamente ou pelos 2 golpes. Alguns com mandatos curtos e transitórios, para não mencionar os vice-presidentes que não foram considerados e mesmo presidentes da Câmara que acabaram assumindo por alguns momentos, mas isso é irrelevante no contexto que quero abordar aqui.

Destes 22 nomes posso afirmar com certeza que a maioria deles teve como destino assumir a presidência e excluindo-se daí Lula, Getúlio Vargas, JK e Tancredo Neves, acabou não assumindo, nenhum deles trabalhou o teve como meta chegar a presidência, chegaram por acaso do destino. Posso garantir que alguns nunca nem sonharam ao menos chegar até lá.

Muitos deles, cito os militares todos, inclusive Dutra, o próprio FHC, e Dilma, nunca tinham dito experiências eleitorais.

FHC entrou na política como suplente de Franco Montoro e disputou uma primeira eleição de verdade em 1994 como ex ministro da Fazenda e criador do exitoso Plano Real

De todos eles, Lula foi o que mais disputou. Se elegeu deputado federal por SP em 1982 e depois 2 vezes para presidente em 2002 e 2006, ou seja, de 7 disputadas, ganhou 3.

Getúlio Vargas ganhou todas eleições que disputou, inclusive foi eleito deputado e senador por outros estados. Naquela época era permitido.

Rodrigo Maia poderá ser o futuro com a queda de Temer, ainda pouco provável, mas na política tudo é possível. Maia seria outro que jamais imaginou sentar naquela cadeia, aliás já sentou algumas vezes nas viagens de Temer.

Este artigo é mais para reflexão de que em cargos majoritários seja a presidência e os governos estaduais, não basta somente o talento, o trabalho do candidato e a sua vontade. Existem mais variáveis e eu citaria um monte de casos de governadores que se encaixariam nesta teoria. Política é assim.