WERNER SCHRÖR LEBER

DO MITO AO LOGOS: O SURGIMENTO DA FILOSOFIA COM OS PRÉ-SOCRÁTICOS

RESUMO

O texto diz respeito à relação entre o mito e o surgimento da filosofia, à medida que o pensamento ocidetal surge em oposição à linguagem mitológica. A filosofia marca o início do pensamento ocidental. Trata-se de um resumo feito para alunos de Ensino Médio. O mito representou durante milênios a maneira pela qual a humanidade explicava os acontecimentos que a rodeava e indignava, como a dor, a inveja, a morte, as catástrofes naturais, as guerras e etc. Mas a filosofia surge opondo-se ao mito. Vimos que os filósofos daquele período, chamados Pré-Socráticos, eram naturalistas, fisicalistas, cosmólogos. Organizaram uma filosofia que buscava na natureza “Físis”, no “Cosmo” uma explicação racional para os fenômenos. A razão (logos), assim pensavam, deve ter condições de esclarecer os fenômenos que nos cercam. As explicações, portanto conforme eles, encontram-se na mente humana que as decifra observando a natureza (físis). O Mito é um veículo explicativo, mas que para aqueles filósofos perdeu sua função ou então era muito precário.

É consenso entre historiadores, ensaístas, exegetas e também pensadores da filosofia que a origem do pensamento ocidental e suas formas posteriores naqueles desdobramentos que atualmente chamamos “ciência”, surgiram quando os pensadores da Jônia (sul da atual Turquia) e de algumas ilhas no Mediterrâneo começaram a organizar uma maneira de pensar que remete a uma espécie de ontologia. Portanto, começava uma resistência à linguagem e à forma da explicação mítica, vigente até então. Esses pensadores jônios, como Heráclito, por exemplo, nem sequer sabiam que estavam inaugurando um tipo de saber que mais tarde seria denominado “filosofia”. Foi Aristóteles que, analisando os pensadores anteriores a Sócrates, concluiu que eles foram os inauguradores da um tipo de pensar que ele denominou “filosofia”. E Aristóteles ainda apontou Tales (da ilha de Mileto) como o Primeiro Filósofo Ocidental.

O mito representou durante milênios a maneira pela qual a humanidade explicava os acontecimentos que a rodeava e indignava, por exemplo, como a dor, a inveja, a morte, o prazer, as catástrofes naturais, as guerras existiam. Mas a filosofia surge opondo-se ao mito. Vimos que os filósofos daquele período, chamados PréSocráticos, eram naturalistas, “fisicalistas”, cosmólogos. Organizaram uma filosofia que buscava na natureza “Físis”, (no “Cosmo”, outros autores escrevem “Physis”), uma explicação racional para os fenômenos. A razão (logos), assim pensavam, deve ter condições de esclarecer os fenômenos que nos cercam. As explicações, portanto, conforme eles, encontram-se na mente humana que as decifra observando a natureza (físis). O Mito é um veículo explicativo, mas que para aqueles filósofos perdeu sua função ou então era muito precário. Era preciso a razão ou o Logos, como diziam. Em nossos tempos conhecemos a expressão “logia” e “lógica”, ambas derivadas de logos, cujo termo significa razão, às vezes também chamado “estudo”. Quando falamos, por exemplo, “Biologia”, traduzimos por (Bio = Vida) e (Logia = Estudo). Daí que, por exemplo, Biologia seria “o estudo da vida”. Correto, mas vamos mais longe. Logia é bem mais do que estudo. É bem mais do que uma compreensão técnica. A palavra logos tem força ontológica, remonta às categorias de ser, aquilo que “é”, o fundamento de tudo, as estruturas mais íntimas que formam o nosso entendimento, o seja, a razão (logos). Seria mais correto dizer que “Biologia” é, desse modo, “razão” da vida, visto que logos é razão. O mesmo vale para Psicologia, Antropologia e assim vai. Os primeiros filósofos ocidentais (os tais pré-socráticos), rejeitaram o Mito e afirmaram o logos, a estrutura racional, como o caminho para entender os fenômenos e entender a si mesmo. A realidade, aquilo que chamamos “Ser” (aquilo que existe), deve ser explicado e descrito pela razão. A ciência atual, a física, a biologia, a química, a antropologia, a sociologia, a geografia e outras são, indiretamente, filhas da filosofia. Foi da estrutura do logos que brotaram os critérios racionais, os parâmetros de nossas formas de entendimento. A filosofia, portanto, como também já vimos, não é uma religião e nem uma mitologia. A filosofia analisa racionalmente as coisas; procura os sentidos dentro da razão dentro dela mesma e não fora dela. Está preocupada em entender o ser humano como um animal pensante. Por que, afinal, pensamos e queremos saber? Por que não podemos evitar o pensamento simplesmente? A filosofia ama o saber (tem uma Filein, um amor pelo saber), pois nada pode nos ser mais caro do que ele. Ele, o saber, é o objeto de nossa existência. Isso significa que o homem reconhece o seu pensamento. Até mesmo a biologia nos classifica como “Homo Sapiens Sapiens”, o que significa, “Homem que sabe que sabe”. Sabemos que “sabemos” disso e daquilo e sabemos que não “conhecemos isso e aquilo”. Mas a filosofia também não é contra a religião e o mito. Há quem diga isso equivocadamente. Não cabe à filosofia discutir questões teológicas sob os pressupostos religiosos. A filosofia discute problemas sob os pressupostos da razão. Por isso mesmo a filosofia pode discutir problemas religiosos a partir de um princípio razoável de racionalidade. Por exemplo, o que significa dizer que Deus existe? Não se trata de questionar a fé, os dogmas, porém constatar que a religião e a fé não podem prescindir da racionalidade. A fé não pode ser irracional. Afinal, só o homem é religioso, só o homem tem fé, tem crença, inclusive fé na ciência. Ou seria a ciência que precisa da fé? Não se verifica isso nos outros animais. O homem tem consciência de que é, de um certo modo, sempre “religioso”. O homem não tem apenas fé, mas “sabe” que tem fé. A sua crença como também o seu ateísmo não é acrítico. A religião, a fé, a teologia, não pode ser praticada sem pressupor a estrutura racional, o logos (Tillich, Heidegger). Declarar-se religioso (Agostinho) ou declarar-se ateu (como fez Sartre) é reconhecer que a razão participa de nosso discurso, de nossa lógica – ela é o logos. Deve ficar claro para nós, portanto, que cabe aos Primeiros Filósofos Ocidentais (Os Pré-socráticos) o mérito de ter posto o pensamento em uma outra base: a base da razão e do raciocínio. Mas isso traz também um enorme problema: o homem sabe de si, sabe também que “não sabe” (que não conhece) tudo o que gostaria. Reconhece a sua limitação diante de um mundo vasto, diante de infinitas possibilidades. Portanto, o logos não apenas nos traz conforto, mas também angústia, aflição, aborrecimento. “Só sei que nada, sei”, diria Sócrates depois. O homem agora espanta-se diante do desconhecido. Os pré-socráticos chamaram isso de TAUMA (Espanto) ou PATÓS (sofrimento, dor). O logos nos mostra também a nossa ignorância. Conhecer causa aflição. Tanto “há” e nós só podemos tão pouco! O Ser não se revela de uma só vez. É necessário paciência. A realidade é múltipla, e nós, limitados. O homem, assim mostraram os primeiros filósofos, espanta-se diante da imensidão do Ser. Quer conhecê-lo, e não pode evitar a pergunta: “o que é isso que existe ou que falamos que existe”? Sobre esse “o que há” repousa o interesse de nossa existência inteira.

1 O texto que segue é um resumo que escrevi para orientar meus estudantes de Ensino Médio sobre a origem da filosofia ocidental e sua dependência e, de certo modo também, rompimento com a narrativa mitológica.