RESENHA

CARVALHO, José Murilo de. Os três Povos da República. São Paulo: Revista USP, São Paulo, n. 59, p. 96-115, setembro/novembro 2003.

Bruno Leite Bertoldo Almeida

(Pós Graduando em Gestão Pública - Universidade Estadual do Maranhão - UEMA)

OS POVOS DA REPÚBLICA OLIGÁRQUICA NO PERÍODO DE 1889 A 1904.

O autor, José Murilo de Carvalho, é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor de, entre outros, A Formação das Almas – O Imaginário da República do Brasil.

A finalidade deste trabalho é realizar uma resenha de maneira crítica sobre o tema “Os três Povos da República” do autor José Murilo de Carvalho abordando de maneira resumida alguns fatos que ocorreram entre 1889 a 1904, durante o ápice da oligarquia, assim como os tipos de povos que o autor cita em seu artigo durante este período.

O tipo de metodologia utilizada nesta resenha é a pesquisa bibliográfica, opta-se por ela, pois se considera que os estudos de Gil (2010, p.29) apontam que a utilização dos materiais publicados em livros, ou em redes eletrônicas são necessários para a sistematização do trabalho científico.

Durante esse período de uma oligarquia forte, houve assassinatos políticos, golpes de estado, revoltas populares, rebeliões militares, greves e guerra civil estando assim o povo presente nesses momentos iniciais, porém as oligarquias conseguiram intervir internamente entre si para que o povo ficasse de fora desses movimentos.

Dessa forma, Carvalho nos coloca que havia três povos ou três caras do povo na primeira república, sendo: o povo das estatísticas, o povo político e o povo das ruas.

O povo das estatísticas seria o povo civil, quantificado pela primeira vez em 1881 por Louis Couty, para representar o povo político do Brasil. E foi a partir dessa quantificação que Louis afirmou que “o Brasil não tem povo”, no sentido de não haver povo político, como nos países desenvolvidos.

De acordo com Leite Júnior (2009), no período oligárquico, para termos uma ideia, menos de 5% da população votava para presidente, não havendo praticamente uma base popular, ou seja, uma república quase que totalmente sem povo, daí uma facilidade da oligarquia agir facilmente em favor de seus interesses.

O autor ainda relata que as condições de trabalho nessa época oligárquica se equiparavam as de escravidão, onde as diárias, por exemplo, de um trabalhador agrícola valia 2$500 (dois mil e quinhentos réis) e as de um tirador de leite valiam 1$500 (um mil e quinhentos réis).

Para termos uma base dessa época 1$000 (um mil réis) comprava apenas uma dúzia de ovos, o leite custava $500 (quinhentos réis) e a manteiga custava 2$300 (dois mil e trezentos réis), ou seja, a diária de um trabalhador naquela época mal dava para alimentação muitos menos para moradia.

O povo político, para José Murilo, referia-se àqueles que votavam, o que eram poucos. A ausência quase total de participação devia-se não somente ao fato de a maioria da população ser analfabeta, mas, principalmente, pelo receio de sair às ruas em dias de eleição devido à violência dos capangas a serviço dos candidatos.

O autor analisa o povo político como uma deficiência no processo de eleições, o presidente Rodrigues Alves foi eleito com mais de 99% dos votos e o candidato só não era eleito com tamanha vantagem quando havia discordância entre os estados mais importantes de quem seria o pretendente apoiado.

Carvalho cita também o chamado povo das ruasonde a participação deste povo na política era somente através de suas revoltas ou rebeliões.  A classe mais pobre começou a ficar mais tensa e prevendo não encontrarumasaída nas disputas internas da elite,passaram então a serebelar por conta própria.

Houve então algumas revoltas nessa época devido à questões específicas, dentre elas: o recenseamento, a vacinação obrigatória e o aumento da cobrança das tarifas de transporte coletivo assim como também o movimento de greve dessa época teve bastante força, sendo similar com o da ditadura militar na década de 80.

O povo do campo também teve uma presente participação muito agressiva em movimentos como de Canudos e a guerra do Contestado, respectivamente na Bahia e no Paraná.

Foi um período de muita luta e manipulação das pessoas, principalmente durante as eleições, onde a corrupção exagerada prevalecia comandada por capangas armados a mando de coronéis para manutenção de seu poder.

Hoje, o povo brasileiro assume, com muito mais fervor, as características dos três povos destacado por José Murilo de Carvalho.

Hoje o Brasil já possui grande avanço na parte de povo político, pois grande parte da população tem direito ao voto secreto inclusive para analfabetos e idosos acima de 70 anos como para jovens entre 16 e 18 anos sendo estes últimos facultados.

É possível nos dias de hoje a realização de manifestos desde que estes sejam pacíficos e não agridam ao patrimônio público, pois a greve já é um direito dos trabalhadores.

Mas, reitero que, apesar da grande evolução e da mudança do Estado desenvolvimentista do Brasil do período oligárquico ate aqui, a chamada democracia, é necessário deixar bem claro que apesar de muitas evoluções tanto social, econômica e política o Brasil sim deveria ter evoluído mais, e muito mais.

O Brasil hoje ainda possui, infelizmente, muitos traços da oligarquia onde partidos políticos governam durante muito tempo, é o caso do partido do PT, por exemplo, e o caso da família Sarney aqui em nosso Maranhão.

Temo que nosso País, em diversos setores, tenha mudado de oligarquia para democracia apenas no papel, apenas na teoria, pois o que hoje vemos é um País dissecado pela corrupção e sem impunidade para os que praticam tal crime. Na verdade o que sempre ouvimos dizer pelas ruas é que “no Brasil o crime compensa”.

Portanto, pode-se frisar que José Murilo de Carvalho discute questões importantes acerca da História do Brasil, que nos deixaram heranças marcantes e que precisamos conhecer para entendermos o momento que estamos vivendo, ou seja, conhecer o passado, para entender o presente e projetarmos um futuro melhor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, José Murilo de. Os três Povos da República. São Paulo: Revista USP, São Paulo, n. 59, p. 96-115, setembro/novembro 2003.

GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5a ed. São Paulo: Atlas, 2010.

LEITE JÚNIOR, Alcides Domingues. Desenvolvimento e mudanças no estado brasileiro / Alcides Domingues Leite Júnior. – Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília]: CAPES: UAB, 2009. 90p. : il.

CARVALHO, Neuza Guerreiro de. Preços de antigamente em São Paulo. 2005. Disponível em: <http://www.saopaulominhacidade.com.br/historia/ver/257/Precos%2Bde%2BAntigamente%2Bem%2BSao%2BPaulo>  Acesso em: 03/04/2018.