Os perfis dos tipos pré-militares brasileiros

*Aparecido da Cruz

RESUMO

                  Este trabalho contempla, de forma sucinta, a observação de modelos e atividades pré-militares no Brasil, bem como sua evolução sistêmica, passando por uma análise dos padrões existentes, a partir de constatações históricas, vivenciais, experiências do autor, bem como o mínimo referencial teórico encontrado. Analisa que, direito assegurado pela constituição, bem como por outros diplomas legais específicos, as ações promovidas pelas instituições pré-militares sérias, vem servindo como instrumento e ferramenta da promoção da cultura de paz, do civismo, do patriotismo, do respeito às forças armadas e auxiliares, bem como apóia o desenvolvimento da juventude, minimiza os efeitos do pensamento que leva ao crime e fortalece famílias. Portanto, a atividade pré-militar austera, se reveste de notória importância, pois desmistifica um período nebuloso da historia do país, em que tais manifestações eram rechaçadas por alguns grupos políticos. O serviço pré-militar em nível de influência, validade e importância está para a sociedade como um canal de contribuição para a formação de cidadãos melhores. Desta forma e por fim, este trabalho pretende contribuir também para promover sugestões de melhoria, sob os desafios presentes nas instituições e modelos pré-militares existentes, lançando novo olhar sobre os movimentos e organizações pré-militares brasileiras, repensando alguns padrões e evoluindo para um modelo capaz de atender aos requisitos legais, o anseio social dos que dele fazem parte, bem como a necessidade de identidade própria e coesa.

Palavras chave: pré-militar, civismo, tipos e modelos.

Introdução

De acordo com a literatura existente e artigos científicos publicados a cada ano, há consenso dentre os especialistas das mais variadas áreas que a sociedade necessita melhorar; tomar posse não apenas dos direitos, mas também dos deveres, principalmente aqueles em que todos os cidadãos são convidados a serem atores, ou seja, co participantes para o bem coletivo. No caso das instituições pré-militares, esta preocupação precisa ter um novo principio, ser regenerada, renascer, desenvolver-se, discutir-se.

 

A partir daí é possível perceber que a visão dos desafios já esta consolidada, porém, por outro lado as perspectivas e oportunidades não são exploradas,  aumentando a robustez de um discurso que não avança em práticas renováveis e sustentáveis. No caso dos grupos pré-militares, talvez por ausência desta preocupação entre os gestores das organizações, que isolados em suas comodidades e verdades individuais, atribuem muito ao transcendental a responsabilidade de criar mecanismos de melhora e renovação, aumentando o fruto da inconsciência sobre a grandeza das ações genuínas em nosso tempo, perdendo-se verdadeiros milagres institucionais.

 

Talvez brote deste cenário às vezes ambíguo, às vezes disforme e anômalo a escassez de obras mais robustas e até de novas anotações com respeito a tema de tão latente relevância e de grande valor humanitário. Pois uma vez que a proposta é a de capacitação com qualidade e eficácia, não é possível furtar-se, de desenvolver planos institucionais com metodologias mais adequadas a nosso tempo para a colheita de melhores resultados.

 

Distar-te desta realidade, aprouve a este pesquisador, enquanto também admirador do pré-militarismo, apelar ao bom senso e anotar neste trabalho, experiências e vivências pessoais e em grupo, bem como apelar a relatos e vivências sobre o tema, em sites da rede mundial de computadores – internet e não podendo recorrer a autores e obras acadêmicas de relevância e magnitude para a área, pois infelizmente inexistem em profundidade e abrangência.

 

Durante a execução deste trabalho, optou-se também, por não incluir dados dolosos, desconfiáveis ou inexistentes, sob pena de incorrer no espúrio e inverídico. Doutra forma, valendo-se de experiências práticas, revisamos nossa práxis, expondo experiências e vivências que em futuro próximo, poderão ser alvo de maiores e mais detalhadas investigações cientificas das próprias instituições pré-militares, caso possuam tal interesse.

2 – Modelos existentes

Embora possa haver outros tipos ou modelos de grupos, grupamentos e outras nomenclaturas pré-militares, a maioria possui uma das características elencadas nos modelos abaixo, a saber:

2.1 – O modelo Tradicional

O modelo denominado tradicional é de fato o modelo mais encontrado em todo o território nacional, ou seja, é o típico, comum, o que antecede a carreira militar, o que prepara jovens em faixa etária condizente com os requisitos das academias militares para obtenção de melhores resultados nos processos seletivos e avaliativos.

Todos sabem que ingressar nas forças armadas e auxiliares para atuar a serviço do país e se adaptar a todo o processo disciplinar rigoroso da área é um objetivo comum a muitos jovens, que se inscrevem em um curso pré-militar para disputar as vagas, normalmente, bastante concorridas.

Comumente este modelo mescla atividades pedagógicas e práticas, típicos do “modus vivendi” militar, ou seja, do que seria o dia a dia em uma academia militar, simulando o cotidiano destes centros de excelência através da práxis de suas atividades.  

De acordo com os especialistas na matéria, os cursinhos pré-militares (como são mais conhecidos) mais eficazes oferecem bons professores para ministrar aulas, esclarecer dúvidas, ensinar macetes relativos à prova e fornecer um conteúdo compatível com o edital. Eles são parceiros do estudante nesta jornada, inclusive aconselhando quanto às leituras essenciais, pesquisas de temas e dicas para fixação de conteúdo.

Embora a filosofia do modelo tradicional tenha fulcro na atividade comercial, afinal é um cursinho preparatório pago, são dos poucos que capacitam para objetivos concretos, ou seja, prepara os jovens para os concursos militares, objeto de seus desejos e aspirações.  

2.2 – O modelo Disforme

Este modelo é formado em sua grande maioria por cisões e dissidências, dos demais modelos e tipos elencados neste trabalho. Pois, de fácil integração e ascensão a “patentes hierárquicas” é uma mistura de escotismo, guarda mirim, academia militar, pré-militar tradicional, pré-militar cívico patriótico (o qual veremos no próximo item) e até expressões que remontam a grupos medievais são incorporadas em alguns casos neste modelo.

O modelo disforme não possui representação nacional, embora pensem que possuam, por terem integrantes isolados em determinadas regiões. São geralmente ligados a um “comando nacional”, sem, contudo prestar a este “comando” relatórios de suas atividades ou haver uma integração de procedimentos e vice versa.

Não possuem academia de formação institucional, nem corpo acadêmico mínimo, sendo que suas instruções se limitam a uma mera imitação, limitada, das instruções militares. Atuam em sua maioria, a revelia da lei, sem atos constitutivos próprios, promovem certa imagem de autoridade pública e são muito confundidos com as forças armadas e auxiliares, incorrendo à luz da legalidade, em usurpação de função pública, dentre outros crimes previstos em lei.

As regiões com maior adesão ao modelo Disforme são o norte e nordeste do Brasil, com alta representação também no estado do Rio de Janeiro, que alí multifaceta-se em mais de duzentos e cinqüenta grupos, com as mais variadas bandeiras, tornando-se assim, mais disforme ainda.    

Embora seja um modelo cheio de “boas intenções” este modelo consente em alimentar um sentimento de pertencimento não compatível com suas ações, nutridas em sua maioria, não por um espírito de voluntariado, mas de compra e venda de insígnias, títulos e “patentes”, numa total desarmonia para com o propósito que dizem existir.

Segundo pesquisa realizada por este autor, para cada novo grupo criado neste modelo, ocorre uma fragmentação de trezentos por cento, dando luz a três outros novos grupos, logo após  as “patenteações” e “nomeações”, ou seja, os dissidentes alcançam certa legitimidade de outros pares e na seqüência, já “empossados”, com um sentimento de autoridade, acham-se aptos a criar mais uma célula doente do modelo.   

Os resultados advindos deste modelo são as constantes frustrações de alguns de seus freqüentadores, bem como de cisão em cisão, os “generais” acabam ficando apenas com seu cavalo e as medalhas.

2.3 – O modelo Cívico Patriótico

Pré-Militarismo Cívico Patriótico é um movimento nacional, uniformizado, altruísta, social, inclusivo e voluntário, que respeita e reverencia o relevantissimo papel das Forças Armadas e Auxiliares, bem como cultua aos símbolos nacionais com respeito, admiração e honra.

È ainda, uma iniciativa que mantém vivos os eficazes modelos oriundos dos colégios e escolas militares, como instrumento de inclusão, promoção da cidadania, fortalecimento da cultura de paz e da família, fraternidade, irmandade, respeito ao próximo, amor à pátria e responsabilidade solidária. 

Composto em sua maioria por militares, militares da reserva, lideranças religiosas e simpatizantes das forças armadas e auxiliares, o pré-militarismo cívico patriótico não usurpa função pública, está organizado em associações, possui atos constitutivos atualizados e seus postulantes são submetidos a criterioso processo seletivo e avaliativo permanente.

Neste modelo, as funções hierarquizadas são galgadas mediante a progressão acadêmica, bem como ao longo da trajetória do integrante na instituição. Também são alcançadas condecorações de honra e formação, as quais não são compradas, mas entregues quando o integrante alcança o mérito necessário para recebê-las. 

O sustento deste modelo não está em qualquer atividade comercial ou aventureira, mas é balizado por contribuições voluntárias, colaborações dos sócios integrantes e outras dotações orçamentárias permitidas por lei. Estão espalhados por todo o Brasil e são altamente bem vistos pelas autoridades em geral, inclusive as militares, das quais se orgulham e mantém parcerias institucionais.

3 – Conclusão

Para o movimento Pré-Militar contemporâneo ser aceito nos moldes em que ele se apresenta é preciso muita humildade, paciência e acima de tudo muita compreensão sobre seus limites, além de respeitar as visões das Forças Armadas e Auxiliares, promovendo a sobriedade de seus pares, inclusive no respeito, na transparência e eficiência.

É preciso ainda, não se conformar com a ausência de unidade institucional e/ou fraterna, deixar de ser anômala, mitigar a falta discernimento da missão, abominar toda e qualquer tentativa de usurpação de função pública, não apropriar-se do uso indevido de nomes e símbolos oficiais de órgãos públicos e não possuir ou tolerar visões equivocadas sobre a missão.

Ressalta-se ainda que, seja bom deixar claro e evidente que as atividades pré militares no Brasil não são paramilitares (proibido pela constituição), nem tão novas como se imaginam, pois existentes a muitos anos, em todo o Brasil, cumprem, quando sérias,  como dissemos na introdução deste trabalho, um papel altamente relevante e psicossocial.

Portanto, espera-se com a edição deste trabalho, com muita humildade, e uma profunda reflexão, ainda que desejo utópico, que arestas entre o cenário ideal e o existente nas organizações, modelos e grupos pré-militares existentes, sejam aparadas pelos gestores destas mesmas organizações, sem, contudo, perderem sua vez e responsabilidades; antes que tais arestas sejam escancaradas e enfim cobradas pelas autoridades competentes, de uma forma bem menos pedagógica que esta simples leitura.

Referencias

AMORA, Antonio Augusto Soares. Minidicionário Soares Amora da Língua Portuguesa. 21ª edição: Saraiva 2015.

Blog do Comando Pré-Militar Nacional. Disponível em http://cpmnpremilitar.blogspot.com/ acessado em 03 de dezembro de 2018.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília - DF: Senado Federal, 2012.

CRUZ, APARECIDO. Curso de Integração a Brigada Pré-Militar de São Paulo. São Paulo: NUPREC, 2015.

HOUAISS, Antonio. Minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Moderna, 2008.

Portal da Academia de Capelania Pré-Militar do Brasil. Disponível em  https://www.acpmb.org.br/ acessado em 01 de dezembro de 2018.

Portal Geração de Vencedores. Disponível em https://geracaodevencedores.com.br/descubra-vantagens-de-fazer-um-curso-pre-militar/ acessado em 03 de dezembro de 2018.

*Aparecido da Cruz é Especialista em Direito Militar, Educador Policial Multiplicador pelo CESDH; Capelão Chefe da Escola Superior de Ciências Policiais e Força Tarefa Brasileira e também Tutor da Rede EaD da Secretaria Nacional de Segurança Pública. Profissional de Educação Física é participante ativo dos Painéis de Defesa do Comando Militar do Sudeste e dos Fóruns Científicos da Escola de Educação Física do Exercito. È diretor da SAEB – Sociedade Amigos do Exercito Brasileiro e Sociedade Brasileira de Proteção Humana.