OS NOMES DOS BOIS

Diz o tio Chico que está história é verídica. Ele foi testemunha dos acontecimentos. E quase vítima, também!

Diz o tio Chico que aconteceu aqui perto, numa cidade vizinha. E o que aconteceu, aconteceu numa das sessões da câmara de vereadores.

Diz o tio Chico que os vereadores estavam reunidos em sessão plenária. Eram debates, discussões, projetos, deduções, reduções, cassações e CPIs. E a sessão ia quente, com denúncias formais e veladas.

Diz o tio Chico que até menções a possíveis velórios foram feitas, caso algumas denuncias fossem confirmadas. Até a funerária já havia sido avisada. Um carro da polícia estava na frente do prédio. Com pelotão de choque de prontidão.

Diz o tio Chico que a polícia não era para os vereadores, mas para a população que, sempre alheia e alienada, nesse dia estava em massa, em frente à câmara. A intenção era esfolar alguns vereadores...

Diz o tio Chico que o motivo era um só: o vereador fulano estava com um dossiê completo sobre as falcatruas do prefeito juntamente com um certo grupo de vereadores, seus aliados. Não que a população quisesse linchar os acusados. Queriam só ver a cara deles – dizem que quem vê cara não vê coração, mas na cara dos acusados poderia estar escrita a culpa ou inocência, caso não fossem cara-de-pau.

Diz o tio Chico que a coisa tinha esquentado de tal forma que parecia que ia ferver. E o tio Chico queria ver o pau comer.

Diz o tio Chico que foi nessa hora que subiu à tribuna o tal vereador que, segundo se afirmava, faria a tal denuncia bombástica.

Diz o tio Chico ele foi para a tribuna com uma pasta “cor de rosa” e começou seu discurso, dizendo que aquela casa de leis havia se tornado um covil de ladrões, que determinados edis se haviam aliado ao prefeito ao custo de algumas cifras altas, que determinada obra estava superfaturada, que alguns colegas de legislatura só votavam mediante propina, que alguém fora filmado carregando uma mala de dinheiro e que outro andava com as cuecas recheadas de dolares e que....

Diz o tio Chico que o vereador estava no alto de suas denúncias, afirmando que as provas estavam na “pasta cor de rosa”. Mas, polidamente, não mencionava nomes...

Diz o tio Chico que no ponto alto do ardor do orador que denunciava, um adversário, de partido indeterminado, interrompeu, como que atingido pelas acusações, gritando exasperadamente:

- Vamos parar viadagem. Essa conversa de puta que não tem o fazer. Dá nome aos bois, caralho!

Diz o tio Chico que ao som dessa exclamação, nem tanto pela intervenção, nem pela denuncia, mas pelo palavrão, a sessão foi interrompida por falta de decoro. Afinal, onde se viu usar tal palavrão em seção da quela casa de leis... e por isso os bois não puderam ser nomeados...

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura – RO